Ora tem Ciudadanos, ora tem Podemos. Pedro Sanchéz queria os dois, mas nem Albert Rivera nem Pablo Iglesias se comprometeram num governo conjunto e não cederam perante as várias insistências do secretário-geral do PSOE. Quatro meses passaram desde as eleições que deixaram Espanha sem maioria parlamentar. Afastada a hipótese de Mariano Rajoy, primeiro, e Pedro Sanchéz, depois, encontrarem maioria no parlamento espanhol, Felipe VI deve marcar eleições legislativas para 26 de junho.

A data das eleições antecipadas, comunicada esta terça-feira pelo monarca ao presidente do Congresso dos Deputados, ainda não é oficial, mas tudo aponta para que se concretize. Este cenário, não terá sido uma surpresa para Pedro Sanchéz, que durante a tarde desta terça-feira já tinha previsto a realização de uma nova ida às urnas. Após uma reunião com Felipe VI, o secretário-geral do PSOE anunciou que não se vai submeter a mais nenhuma sessão de investidura. O prazo para a apresentação de novas propostas de governo terminou esta quarta-feira, às 16h00. Pedro Sanchéz não reuniu consenso e assentos parlamentares suficientes para fazer frente ao partido de Mariano Rajoy, que saiu vencedor das eleições de dezembro.

Num cenário de repetição das eleições, o JPN falou com a professora Sandrina Antunes para perceber porque não conseguem os quatro principais partidos espanhóis – PP, PSOE, Podemos e Ciudadanos – encontrar entre si uma coligação política.

A especialista em Ciência Política da Universidade do Minho acredita que as novas eleições não vão trazer mudanças. Não enquanto os dois partidos que têm rodado no poder, PP e PSOE, não fizerem cedências. “Senão é um bloqueio contínuo de incapacidade de compromisso”, defende. As últimas sondagens indicam no mesmo sentido.

“Acho que vai ser incontornável haver um governo de coligação. Duvido que quer o PP quer o PSOE consigam alcançar a maioria nas próximas eleições”, reflete Sandrina Antunes ao JPN. A professora acredita que tem que haver “forçosamente” um governo coligado “entre um dos partidos tradicionalmente com assento parlamentar e outros partidos mais minoritários, o Ciudadanos ou o Podemos”.  No meio das negociações para formar governo há uma pesada discórdia entre mãos: a questão catalã.

Questão catalã divide o parlamento

Apesar das divergências em matéria económica e social, “em última análise, a discussão acaba sempre na questão territorial de ‘como vamos gerir a Catalunha’”, refere Sandrina Antunes. As opiniões opostas quanto à independência ou não da comunidade autónoma da Catalunha parecem ser inultrapassáveis, tendo impossibilitado por completo a coligação PSOE-Podemos-Ciudadanos.

O partido de Pablo Iglesias, embora não seja a favor da independência política da Catalunha, apoia a possibilidade da realização de um referendo com valor legal. “A questão é se há uma cedência ou não do PSOE, que é tradicionalmente pró-federalista, que é muito diferente do Partido Popular, que é um partido conservador e unionista, contra qualquer tipo de descentralização”, explica a docente da Universidade do Minho.

Esta não é uma questão linear, nem entre partidos, nem na opinião pública. “Se se realizasse um referendo dessa natureza, podia de facto a Catalunha optar pela independência política, embora a opinião pública seja muito volátil. Muda muito rapidamente”, explica a especialista em Ciência Política. Segundo as últimas sondagens, a maioria dos catalães defende uma solução federalista, e não a total independência política da comunidade autónoma da Catalunha. “Eles querem uma maior devolução de competências, nomeadamente na questão fiscal”, refere Sandrina Antunes.

Quem ganha com a repetição das eleições

Ao contrário de Pedro Sanchéz, Mariano Rajoy é um adepto das novas eleições, esperando-as desde que recusou perante o Rei o convite para formar governo, em janeiro. Não é o cenário que queria, mas considera melhor haver eleições do que alguma das alternativas apresentadas pelo PSOE. A estratégia do primeiro-ministro em funções pode passar pelo apelo ao voto útil, procurando os votos que o Ciudadanos conseguiu retirar ao PP em dezembro e a conquista da abstenção.

Sandrina Antunes acredita que “captar os indecisos vai ser determinante, assim como a campanha eleitoral”. “É uma situação muito complicada que terá que passar por uma cedência forçosamente em termos de alternativas de gestão territorial que é o ponto fulcral do desbloqueio”, remata.

 

Artigo editado por Filipa Silva