Portugal está entre os países da zona Euro com uma descida mais acentuada da taxa de poupança das famílias. A conclusão consta do Boletim Económico de maio, divulgado esta quarta-feira pelo Banco de Portugal (BdP). A análise foi feita com base no Inquérito à Situação Financeira das Famílias, elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística.

A taxa de poupança das famílias em Portugal apresenta uma tendência de queda desde a entrada no Euro. Em 2015, a taxa de poupança portuguesa estava nos 4,2%, muito diferentes dos 12,4% da média da zona Euro. A poupança é agora metade da que existia em 1999 muito devido a facilitismos de créditos.

A tendência de quebra da poupança reverteu-se nos anos de crise, de 2009 a 2013. A razão prende-se com o cenário de apreensão e receio que se vivia na altura face às expectativas macroeconómicas.

“A taxa de poupança aumenta com a riqueza líquida ou com os níveis de escolaridade”, adianta o BdP. Quer isto dizer que a faixa mais rica da população poupa mais do que os mais pobres. Os 20% mais ricos têm uma taxa de poupança de 40%, enquanto os que fazem parte dos 20% mais pobres têm uma taxa de poupança inferior a 20%.

Segundo o Boletim Económico de maio “parte importante da poupança das famílias não está associada a um futuro certo mas à incerteza face ao futuro”. Conclui-se, assim, que as famílias poupam, maioritariamente, para se sentirem protegidas face a acontecimentos inesperados, à velhice ou para estarem preparados para a educação dos filhos e dos netos.

O BdP diz, ainda, que “a poupança por motivo de precaução será assim maior no caso de um aumento de incerteza, de uma diminuição do acesso ao crédito e de um enfraquecimento da rede de segurança social do Estado e das famílias”.

A evolução da poupança das famílias depende de vários fatores como a idade, o rendimento, a riqueza e o acesso que poderão ter a mercados de seguro e crédito. Outras variáveis importantes prendem-se com o aumento da esperança de vida e o envelhecimento demográfico.

A análise do BdP sugere, ainda, que os valores de poupança poderão aumentar no futuro próximo.

“É preocupante que não consigamos incentivar as famílias a poupar mais”

“É natural esperar que a taxa de poupança das famílias ao longo do tempo tenha diminuído precisamente porque as taxas de juro não são convidativas à poupança”, começa por explicar Aurora Teixeira, professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP).

A qualidade de vida das famílias portuguesas poderá estar em causa, uma vez que a quebra de poupança vai resultar na diminuição do capital que influencia a nossa capacidade produtiva. Pode isto significar que a tendência nos salários reais seja de quebra.

Em conversa com o JPN, a professora da FEP afirma que “o declínio da poupança tem impactos muito negativos na capacidade produtiva e no desenvolvimento económico e é preocupante que não consigamos incentivar as famílias a poupar mais”.

Para inverter esta tendência, a docente considera importante que o Banco Central Europeu seja “mais conservador, não injetando tando dinheiro para evitar que as taxas de juro diminuam tanto”.

Por outro lado, é, ainda, essencial haver sensibilização da população no sentido da poupança. “São necessárias medidas de literacia de poupança que façam as pessoas perceber que o facto de estarem a poupar muito pouco hoje vai ter implicações a médio e longo prazo nos seus níveis de vida, no seu poder de compra”, concluiu a professora.

 

Artigo editado por Filipa Silva