Agora que a luta pela nomeação Republicana para as presidenciais dos EUA se centra num único candidato, Donald Trump assume-se como o mais que provável candidato republicano à presidência dos EUA. Com uma faceta imprevisível, Trump tem causado polémica dentro e fora do seu quadrante político.
Mas, a partir de julho, a campanha de Donald Trump para as eleições gerais vai ser diferente e mais moderada. Quem o diz é Nuno Gouveia, o autor de uma tese de mestrado sobre as eleições americanas de 2008, entrevistado pelo JPN.
Sem uma “ideologia bem definida” e sem “convicções profundas”, Donald Trump “irá desdizer-se de muitas coisas que disse nesta campanha”, acredita o escritor do blogue “Era uma vez na América”.
“Até agora, [Trump] teve um discurso muito agressivo, destinado a captar as franjas mais radicais do partido Republicano”. A moderação do discurso para as eleições gerais é uma “tendência natural”.
Nuno Gouveia duvida que seja uma tática eficaz, mas “de facto, Donald Trump já provou que não é um candidato nem um político típico”. “Metade das coisas que ele fez nestas eleições, teriam desqualificado qualquer outro candidato que não ele”.
Nas presidenciais das últimas décadas, os candidatos nomeados eram os mais moderados e aqueles que também tinham maior apoio partidário – o que, explica Nuno Gouveia, é um “bom barómetro”. No início das primárias, Donald Trump não tinha um único apoiante eleito ao nível federal dentro do partido Republicano.
O presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan terceiro na hierarquia política dos EUA e o republicano com o cargo mais elevado, admitiu que ainda não está preparado para apoiar Donald Trump.
O “estatuto de celebridade” é o que o mantém na corrida. Num dos muitos artigos de opinião que Nuno Gouveia leu, a ideia principal era que “os candidatos-celebridades têm regras diferentes dos outros, porque levam às mesas de voto eleitores que normalmente não votam”. Um bom exemplo é o Arnold Schwarzenegger, que conseguiu ganhar pelo partido Republicano num grande Estado democrático como a Califórnia.
A comuicação social de língua inglesa anuncia Trump como “undisputed”, “inevitable”, “Presumptive Nominee” pelo Partido Republicano ou Grand Old Party (GOP). É inevitável que Trump seja o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos da América. A agência Reuters concede, em título, que Trump é o “único sobrevivente na corrida Republicana à Casa Branca”.
Convenções Republicanas
A convenção de 1976 foi a última a ser disputada por mais do que um candidato, por Ronald Reagan e Gerald Ford. Até à altura, os estados federados procediam a convenções estaduais, onde eram os líderes partidários a eleger os candidatos. A partir de 1976, a eleição primária generalizou-se e veio “democratizar” a escolha.
Sendo que as eleições primárias tornam possível que um único candidato consiga os 1.237 delegados necessários, na altura da convenção do partido, já se sabe quem será o candidato presidencial. “Portanto, as convenções passaram a ser meros espetáculos televisivos e deixaram de ter a componente de escolha dos candidatos, como tivemos em Portugal ainda há pouco tempo nos congressos dos partidos”.
Nuno Gouveia conta que depois da vitória no Estado de Indiana, na terça-feira, as coisas precipitaram-se; o movimento interno para ter uma convenção contestada, onde pudessem optar por outro candidato que não o vencedor das primárias, “caiu por terra”.
Alguns senadores estão a apelar a uma nova candidatura, independente. “Não me parece que vá acontecer”, adiciona Nuno Gouveia.
“As esperanças que havia em muitos sectores do partido Republicano para poderem contestar a nomeação de Donald Trump, caíram por terra com a desistência de Ted Cruz e John Kasich”, afirma Nuno Gouveia.
John Kasich anunciou no decurso desta semana que ia suspender a campanha nas eleições primárias americanas, durante as quais ganhou apenas num Estado. No entanto, segundo o site noticioso Vox, o anúncio de Kasich era apenas uma “formalidade”: “Ele foi matematicamente eliminado de ganhar uma maioria de delegados, já em meados de março”. Ainda assim, Trump admitiu que lhe seria conveniente ter John Kasich como vice-presidente.
Após a desistência de Ted Cruz na sequência da derrota no Estado de Indiana, na terça-feira, já o presidente do Comité Nacional Republicano, Reince Priebus, admitia no Twitter que Donald Trump seria o “provável candidato”, a ser escolhido no próximo mês. A revista TIME escreveu, esta semana, que Cruz era o último “sério rival” que restava, para uma “Convenção concorrida”.
O jornal Bloomberg escreveu que o bilionário derrubou e alterou as regras da campanha moderna, para além de que o partido Republicano está “profundamente fragmentado” fruto de uma “luta primária brutal” que está a chegar ao fim. Segundo informações do mesmo jornal, “quase seis em dez eleitores das primárias republicanas disseram que o processo eleitoral dividiu o partido”.
Nuno Gouveia completa que o GOP está a viver “uma revolta contra a escolha das pessoas”. Um partido “tende a ser muito pragmático”. Muitos eleitores vão votar em branco, mas outros apoios se podem juntar ao magnata na campanha, prevê.
Para garantir o apoio oficial do seu partido, Donald Trump deve somar 1.237 delegados, num total de 2.472, concedidos nas vitórias das eleições primárias pelos Estados da América. A Convenção nacional Republicana vai ter lugar desde 18 a 21 de julho, em Ohio, e marca o fim oficial da temporada de eleições primárias. A eleição presidencial vai acontecer no dia 8 de novembro.
Artigo editado por Filipa Silva