A última noite da Queima das Fitas juntou – apesar da ameaça da chuva –, cerca de 30 mil espectadores, das mais variadas idades para uma eletrizante despedida do Porto de Buraka Som Sistema, após o “warm-up” de DJ Glue, ex-Da Weasel.

O concerto de DJ Glue começou a aquecer, como se o “mãozinhas” – como era conhecido quando era o “caçula” dos Da Weasel -, estivesse a chamar o público para mais perto. Com “samples” da sua voz a fazer a interação por ele, DJ Glue largou “Niggas in Paris” de Jay-Z e Kanye West e arrancou os primeiros clamores da audiência.

O lisboeta alicerçou o seu “set” em “hits” do rap americano, intercalados com “piscares de olho” à sua formação na “doninha”. “Money Trees” e “Alright” de Kendrick Lamar, “Lean Back” de Fat Joe, “Lil Bit” de 50 Cent foram algumas das faixas que deram ritmo à atuação, marcada também pelo recurso a solos de “scratch”.

Mas Glue deixou o melhor para o fim. O público cantava “Solteiro” dos Orelha Negra, quando um entrada forte de “scratches” lançou as bases para uma voz que ia aumentando: “Yo Glue, meu caçula!”.

Carlão entrou no palco do Queimódromo a pedir “palmas”, dizendo à primeira pausa que “tinha saudades de estar no Porto”. Com a parceria firmada no palco, apresentaram um novo tema em conjunto. O público agradeceu a surpresa e terminou ao rubro gritando bem alto o nome da cidade Invicta.

10 anos de “volta ao mundo” contra o “preconceito na música portuguesa”

DJ Riot e Lil John entraram em palco, tomaram os seus lugares na mesa e na bateria e o público rebentava com antecipação. Os dois entraram leve, progressivamente, até largarem “Sound of Kuduro”. O público foi à loucura com a entrada de Kalef Ângelo, Andro Carvalho e Blaya, os três vocalistas-dançarinos-animadores da banda.

À primeira pausa, Kalef contextualiza: “Este é o som da Amadora, da Damaia, da Afurada e em 2006 nasceu Buraka”. Os lisboetas decretaram o estado de insónia: “We stay up all night” e “Yah” fizeram vibrar o público do Porto. “Vamos abrandar, vamos abrandar! Estão prontos ou quê?” perguntava Andro Carvalho.

A partir desse momento, os Buraka “engataram a quinta” e não abrandaram mais. O público responde com saltos, gritos e muita dança à constante interação do trio da frente – Kalef muitas vezes descia do palco para o nível do público – da banda de “kuduro progressivo”. Continuaram a despedida pelos “hits”: “Candonga”, “Kalemba (uegué, uegué)”, “Aqui para vocês”, fizeram as delícias dos 30 mil espectadores do Queimódromo.

Após uma primeira “despedida”, o “encore” arrancou com “Eu cansei de chorar”. Os Buraka quiseram despedir-se em grande e fizeram “a vida negra” aos seguranças do recinto: dezenas de raparigas subiram ao palco para dançar uma última vez com Buraka. De regresso ao público, a banda pediu para que as mulheres fossem para “as cavalitas” dos rapazes. “Hangover (BaBaBa)” finalizou o concerto e deixou literalmente o público em estado de ressaca.

Em entrevista aos jornalistas, Kalef explicou a importância da atuação: “Quando começamos a projetar a despedida, o Porto não estava equacionado, mas quando surgiu a oportunidade pensámos: claro, faz todo o sentido. O nome Buraka Som Sistema nasceu aqui no Porto, por isso de certa forma fez todo o sentido. É um público com muita fome de Buraka, por só termos cá vindo em situações especiais”.

Andro Carvalho adiantou que o caminho “é alargar o espectro e ter mais sonoridades. A raiz de Buraka vai-se manter, mas diferente”. Kalef destacou a evolução que a banda sentiu da parte do público e das promotoras de concertos em Portugal nos últimos dez anos: “Já existe menos preconceito na música portuguesa, em 10 anos nunca se ouviu tanta música portuguesa em Portugal, para nós isto é importante”.

DJ Riot revelou que para a banda, que pensa sempre “uns anos à frente”, já caiu a ficha de que o projeto acabou: “Para nós são 10 anos de viagens pelo planeta inteiro, mas isto não é uma morte anunciada, é uma transformação, hoje em dia não há necessidade de se matar uma coisa que gosta, é aumentar e transformar”.

Em jeito de despedida e ainda sem revelar projetos musicais futuros, Kalef revelou uma outra aventura que vai continuar a unir os elementos da banda: “Queremos fazer uma festa todos os anos na nossa cidade – desculpem Porto – e queremos que Lisboa se torne na Capital da Música de Festa global. Para nos reunirmos e apresentarmos novos artistas”. Com o fim anunciado de Buraka Som Sistema resta ao público do Porto esperar uma possível “reunião” da banda.

Artigo editado por Sara Gerivaz