Os dezassete hectares do antigo Parque de Campismo da Quinta da Prelada – que fechou em 2006 – poderão voltar a ser explorados pelo público no “final de 2017”. António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto – detentora do espaço -, admitiu a existência de “dificuldades” nas obras, que estavam previstas ter terminado no final de 2015. No entanto, o responsável mostra-se confiante: “paulatinamente, por várias fases, pode ser que em finais de 2017 já se possa ver coisas”.

Entrada Parque da Prelada

Os portões do Parque da Prelada têm estado abertos devido às obras levadas a cabo pelo Sport Club do Porto Foto: Henrique Vieira Mendes

Em 2013, um protocolo entre a Santa Casa e o Sport Club do Porto prometeu dinamizar o parque. O JPN reviu o processo com o presidente do Sport, Paulo Barros Vale: “A SCMP fez um concurso público para ocupação do espaço e seis entidades concorreram. Houve uma pré-seleção de duas com quem a Santa Casa negociou. O Sport foi selecionado por ser o projeto mais vasto. Vamos transferir o centro hípico da Rua Silva Porto para a Prelada”.

António Tavares, aprofunda os pormenores da parceria: “Ha um protocolo entre a SCMP e o Sport, iniciado em 2013 e que dura dez anos, no qual o Sport tem ali uma estrutura montada, se decidirmos não renovar, o Sport tem de desmontar a estrutura.”

O Sport irá ocupar entre cinco a sete dos 17 hectares do parque, criando o Centro Hípico Internacional do Porto, com destaque para um picadeiro de dimensão olímpica. “A Santa Casa da Misericórdia gere as questões estruturais. O Sport Club pretende construir um conjunto de equipamentos desportivos, balneários, alojamento para cavalos e picadeiros”, explica Paulo Barros Vale.

António Tavares - SCMP

António Tavares falou ao JPN na sede da Santa Casa da Misericórdia do Porto Foto: Henrique Vieira Mendes

Em 2013, aquando da celebração do protocolo, o projeto apresentado – assinado pelo arquiteto Pedro Guimarães – contemplava também a transferência da secção de falcoaria do Sport para o parque e trilhos para caminhadas e passeios de bicicleta. António Tavares afirma que esses “projetos  vão ficar muito na expectativa, não só da sua rentabilidade económica mas também da própria autorização da autarquia.”

O Estado da obra

O provedor da Santa Casa aceitou abordar o atraso na conclusão das obras: “Nós não nos queríamos comprometer num prazo. As dificuldades atmosféricas primeiro, porque estamos a mexer em terras e determinado tipo de tratamentos necessitam um período de seca, dificultaram”.

A obra conta com o apoio do Exército Português, que tem estado a ajudar numa primeira fase: “Os militares foram lá duas vezes, a primeira vez, retiraram muita coisa. Só para tratar dos terrenos e retirar lixo foram dois anos, retirar os lavradores que lá estavam, há muitas dificuldades neste processo. Os militares acabaram por ter de lá voltar. Entretanto já está tudo pronto, agora temos um novo projeto na CMP e precisamos da aprovação deles”. Apesar de ser um terreno privado, a área é protegida pela denominação de património nacional pelo IGESPAR: “O Estado, nestas coisas, tem sempre uma atitude de escusa, quando é privado. Mas este privado está à altura das suas responsabilidades”, afirmou o provedor.

As origens, o campismo e uma década “perdida”

O Parque da Prelada fazia parte da quinta senhorial que D. Francisco de Noronha e Menezes doou em testamento à Santa Casa da Misericórdia em 1903. Em 1961, abria o Parque de Campismo da Quinta da Prelada. Esteve 45 anos em funcionamento, sendo o único parque de campismo da cidade até ao final de 2006. Face ao decréscimo na procura e após exigências de obras de monta no parque, a Misericórdia do Porto decidiu fechá-lo.

Desde então, a invicta não tem um parque de campismo. Se por um lado, os campistas encontram alternativas em pousadas e “hostels”, os caravanistas só podem ficar nos concelhos vizinhos. António Tavares procura uma solução: “O Porto continua sem uma resposta para as autocaravanas que chegam à cidade e estamos a ver se arranjamos solução agradável que não estrague a mancha verde, mas mantenha atividade e qualidade no parque.”

António Tavares passa em revista os últimos anos do parque. “Este é um processo que começa no final do Euro 2004. O Euro correspondeu a um momento de grande azáfama no interior do parque e no final, face às novas exigências da União Europeia e do Estado chegou-se à conclusão que eram precisas obras avultadas para manter a atividade. Ao mesmo tempo mudou também o perfil do utente do Parque. Com a existência de habitação e alojamento mais barato no interior das cidades, com a criação das Pousadas da Juventude. Então decidiu-se repensar o papel do Parque da Prelada enquanto zona verde. Houve um processo negocial com a câmara e fizemos uma permuta de terrenos: demos uns que a misericórdia tinha na cidade para alargar a mancha do parque da Prelada”, contextualizou o provedor.

O responsável recorda com alguma mágoa o processo de fecho do parque: “Quando foi a altura das populações saírem do campismo houve situações difíceis –  de polícia. Depois tivemos ali um parque de sucata de rulotes, que não conseguíamos que as pessoas retirassem. Tivemos de fechar porque nem sempre as pessoas conseguiam usufruir dos espaços sem fazer confusão”.

Desde então, tem deixado “que o ecossistema do parque se reequilibre, porque durante muito tempo o Parque sofreu também algumas agressões até da própria natureza e todo o parque e património protegido – e Nasoniano – portanto queremos recuperá-lo de acordo com um plano feito pelo arquiteto Pedro Guimarães que visa fazer do Parque o grande espaço verde que ele já foi no passado.”

O parque e a Casa, por uma Prelada “à inglesa”

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Neste momento, a Santa Casa entregou à CMP uma proposta de “criação de relvados para que se possam dinamizar atividades de desporto, não o federado mas o espontâneo, vocacionado para os mais jovens, e a possibilidade de ligação entre o Parque e a Casa.” Essa possibilidade já existe, ligando o parque da Prelada a uma zona próxima do Hospital da Prelada. Já a Casa, também da Prelada, foi a primeira a ser restaurada.

“Eu recordo que a SCMP fez um investimento muito avultado, mais de 2,5 milhões de euros, tendo instalado o seu arquivo, a biblioteca, imobiliário e espólio cultural”, explica o provedor. A Casa da Prelada situa-se no limite sul da Quinta, parcela que hoje está separada do restante parque pela VCI.

Entre parque e a Casa, a Misericórdia do Porto quer um espaço “à inglesa”, diz António Tavares: “Queremos juntar uma componente do género Serralves e Parque da Cidade, um pulmão verde para aquela zona da cidade, que nada tem. Há aqui uma questão a que não podemos ser alheios, a propriedade é privada, as instituições públicas nada pagam, logo a abertura ao exterior e às populações está a ser feita com algum grau de cuidado, por vezes a juntas de freguesia ou escolas. Quando tivermos o parque todo recuperado veremos o que poderemos fazer, se as pessoas pagam entrada ou não, porque a manutenção daqueles espaços fica muito cara”.

A população da cidade do Porto terá de continuar a aguardar pela reabertura de um dos espaços verdes mais antigos, vastos e icónicos da cidade.