Alunos, professores e funcionários unem-se por uma causa. “Não deixamos cair o Alexandre!” é o movimento lançado pelo PS Porto pela recuperação da Escola Secundária Alexandre Herculano, em elevado estado de degradação.

Vidros partidos, baldes de água que percorrem os corredores quando chove, piso abatido e humidade constante nas salas de aula. Na escola onde a prática desportiva se vê dificultada pelas condições do piso, vive-se um cenário diário aterrador. O elevado estado de degradação chamou a atenção da concelhia do PS, que uniu forças para uma “iniciativa pública” que reuniu, esta segunda-feira, dezenas de pessoas em prol da recuperação do “Alexandre”.

O PS Porto lançou também uma petição para recolher assinaturas em papel e em meios online que vão ser entregues ao Ministério da Educação. A recomendação tem em vista a sensibilização do Governo para a necessidade de realizar obras de recuperação urgentes na Escola Secundária Alexandre Herculano. Tiago Barbosa Ribeiro, presidente da concelhia, promete mobilizar todos os mecanismos possíveis “até às últimas consequências”.

Maria Soares é funcionária da escola há 33 anos e segue os passos do pai, que também já foi funcionário auxiliar no “Alexandre”. Conhece as paredes de cor, que em tempos eram cobertas de pintura. Hoje, estão desgastadas pelo tempo e pela necessidade urgente de remodelação. Maria Soares afirma-se como uma “lutadora” a favor das obras urgentes na escola Alexandre Herculano. “Há 33 anos que cá estou ao serviço e o Ministério da Educação tão poucas obras fez, neste edifício centenário que deve ser glorificado por toda a cidade do Porto”, lamenta.

Inês Nogueira tem 17 anos e frequenta o 11º ano. É presidente da Associação de Estudantes e estuda na escola há cinco anos. Reconhece que, desde que lá entrou, de ano para ano as condições tendem a piorar. “No Inverno sofremos com o frio, há janelas da escola sem vidros, a chuva entra por todos os lados e partes do teto até já caíram”, conta a estudante, representante de mais de 900 alunos que são diariamente confrontados com estas “preocupantes” conjunturas.

A falta de condições prejudica o desempenho escolar dos alunos

Nas salas de aulas, vive-se o mesmo cenário que fora das quatro paredes. “Os professores tentam usar o projetor, que efetivamente existe, mas como as janelas não têm cortinas não dá para ver e isso afeta, de alguma forma, a fluência da aula”, conta ainda Inês Nogueira. Para além de chover em várias salas, há laboratórios fechados por falta de condições. O ensino está diariamente dificultado pela falta de cortinas nas janelas, pelo cheiro a mofo constante, pelas partes do chão e paredes que ruíram e pela falta de Internet, que “muitas vezes não funciona”.

A presidente da AE da escola revela ainda que a aprendizagem tem de ser feita através de livros ou matéria escrita no quadro. “Muitas vezes, por causa da humidade, nem o quadro podemos usar porque a tinta da caneta permanente não escreve no quadro húmido. É uma aula mais lenta e não aprendemos tanto”, conta.

O diretor da escola assegura que o “Alexandre” tem uma uma “missão de projeto educativo”. “Queremos qualificar os nossos alunos para o exercício de uma cidadania interventiva”, conta. As principais dificuldades, segundo Manuel Lima, estão em “cumprir um serviço de educação dentro daquilo que é a normalidade”. Alerta para o facto da Alexandre Herculano se situar numa zona problemática e carenciada da cidade, lamentando que a escola “não consiga espelhar uma possibilidade de caminho de sucesso”.

Menos 800 alunos em sete anos

Manuel Lima afirma ainda que no “Alexandre” estão a ser “replicadas todas as assimetrias sociais”. Na zona envolvente, há uma “concorrência de escolas privadas, muito mais atrativas, que podem oferecem outro tipo de condições e serviço de maior qualidade”. O diretor tem consciência de que os problemas enfrentados pela escola têm impacto no número de alunos que a frequentam. “Desde 2009 que a situação se tem agravado. De 1700 estudantes, a escola passou a ter apenas cerca de 900, o número atual, incluindo também a redução de alunos surdos e com necessidades educativas especiais”, revela Manuel Lima.

O presidente da concelhia do PS Porto afirma que “é tempo de investir na Alexandre Herculano” e que é tempo “para o Porto e para os responsáveis políticos se unirem em torno desta causa”. Tiago Barbosa Ribeiro destaca a “necessidade imperiosa” de se avançar com as obras. “O futuro para esta escola tem de ser mais certo. E, até agora, tem sido um futuro adiado”, critica. Depois de mobilizar um número significativo de assinaturas, o presidente da concelhia socialista garante que vai agendar uma reunião formal com o Ministério da Educação, “na qualidade de deputado do PS Porto e forçar a um compromisso do Governo”.

Para além disto, Tiago Barbosa Ribeiro vai apresentar ainda um projeto de resolução à Assembleia da República, com o objetivo de “colocar o tema na agenda pública e política” e fazer com que todos os recursos sejam dirigidos em primeiro lugar para a “valorização e investimento na escola pública”. O deputado deixa a garantia de “nunca deixar cair o ‘Alexandre’”.

Paula Nogueira, vice-presidente da Associação de Pais da escola, afirma que, apesar das cartas e comunicados enviados às entidades competentes, nunca foi dada uma resposta. “Vai sendo dito ao diretor que vão haver obras mas estamos sempre no ‘stand-by’. A associação de pais não se esquece, mas sozinhos não há mesmo mais nada que possamos fazer”, lamenta.

Os corredores da Alexandre Herculano contam as histórias de todas as gerações que por lá já passaram. Os laços afetivos sentidos pelo “Alexandre” passam de pais para filhos e esta é uma das razões que prende os alunos à escola. Paula Nogueira, mãe da presidente da AE, conta que quer que a filha continue a estudar na Alexandre Herculano por uma razão “afetiva”. “Estudei cá e quero que a Inês estude também”, confessa.

Os alunos já se manifestaram por diversas vezes contra o estado de degradação da escola. Filipa Pinho, estudante do 11º ano, indica que, apesar das várias manifestações, protestos e recurso à comunicação social, “até agora, de nada adiantou”. A recuperação já foi alvo de vários projetos, mas todos suspensos em 2011, desde que o anterior Governo suspendeu o projeto da Parque Escolar para a requalificação das instalações. “Com o novo Governo, temos novas expetativas. Lançamos as nossas preocupações ao primeiro ministro e convidamo-lo para vir conhecer a realidade das nossas instalações”, conclui o diretor da escola.

A sessão pública contou com a presença de Manuel Pizarro, vereador do pelouro da Habitação e Ação Social da Câmara do Porto, professores, estudantes, funcionários, associação de antigos alunos, deputados socialistas, a direção da escola e ainda outras personalidades unidas pela causa “Alexandre”, uma “causa do Porto”.

O “Alexandre” já acolheu nomes como Belmiro de Azevedo, Sobrinho Simões, Manuel Correia Fernandes e quer, agora, ver a sua identidade recuperada, com as requalificações adequadas àquele que é considerado um liceu histórico e património da cidade do Porto.

Artigo editado por Sara Gerivaz