Que Portugal tem bons vinhos todos nós já sabíamos. Mas é para reforçar e levar ainda mais longe esta mensagem que oito mulheres ligadas ao mundo vínico se juntaram esta terça-feira, no Hotel Vincci no Porto.

“D’Uva Portugal Wine Girls” nasce da vontade de criar novas sinergias, de ganhar escala e de marcar a diferença. São herdeiras de conhecidas marcas portuguesas e o facto de serem todas mulheres é só um elo comum que as une. “Mas não ficamos por aí. Há muito para além disso”, contou ao JPN, Rita Nabeiro da Adega Mayor.

Rita é neta do fundador da Delta Cafés. Conhecidos “players” no mundo do café, foi só em 2007 que a Adega Mayor foi fundada. “É uma adega moderna e desenhada por Siza Vieira. Quisemos assim marcar a entrada no mundo do vinho e numa nova fase do grupo”. Para Rita, a criação desta nova associação serve não apenas para promover os seus vinhos, mas para promover Portugal no seu todo. “Queremos criar uma rede de partilhas, de troca de experiências, de ‘know-how’. Poderíamos estar a dividir esforços, mas ao invés disso, vamos uni-los”, revelou a diretora da Adega Mayor.

O projeto D’Uva começou como uma brincadeira. Conheceram-se aquando uma reportagem intitulada “As herdeiras do vinho” e depois de vários almoços e jantares informais tiveram a ideia de se juntar. Acharam que seria uma forma diferente de comunicar o vinho.

Algumas das “Wine Girls” são formadas em outras áreas e antes de entrar para o mundo do vinho trabalharam em outro tipo de negócios, como são os casos da Mafalda Guedes e de Rita Cardoso Pinto.

Mafalda Guedes é hoje gestora da marca Herdade do Peso e revelou ao JPN que antes de entrar na Sogrape Vinhos, que pertence à sua família, quis ganhar experiência em outras empresas. Trabalhou em consultoria e num banco e foi só quando se sentiu preparada que ingressou na Sogrape, mas garante que não teve o processo facilitado. “Temos que ter certos requisitos e passamos por uma seleção. Tenho 10 primos. Imagine se todos decidissem entrar ao mesmo tempo. Há critérios e protocolo familiar”, afirmou Mafalda.

Já Rita Cardoso Pinto adquiriu experiência em grandes empresas multinacionais e hoje administra a Quinta do Pinto. A marca é nova – tem 15 anos – relativamente às outras que fazem parte do grupo, mas Rita ressalva que já tem muita coisa para contar. “Nós estamos a escrever a nossa história enquanto outros estão a contá-la”. O projeto Quinta do Pinto já existia na vinha, mas só tomou corpo e rosto com a chegada de Rita em 2008. Sobre as D’Uva, Rita conta que já tinha vontade de unir-se com estas produtoras. “Acredito que juntas somos melhores e que assim conseguimos contar uma história mais completa sobre esta diversidade dos vinhos portugueses”, declarou.

São todas jovens e herdeiras. E mais do que vender o seu produto querem falar de Portugal, das regiões, da riqueza, da beleza e das diversidades que estes percursos vínicos têm, do Douro ao Alentejo. Diferente da Quinta do Pinto, a família de Rita Fino produz vinho desde o início do século XX. Formada em tradução, aceitou o desafio do pai e mudou-se para Porto Alegre onde ficou durante cinco anos a cuidar do negócio. Hoje a base é em Cascais. A família é a antiga produtora da Tapada de Chaves. O projeto que foi apresentado nesta terça-feira é o Monte da Penha e está no mercado desde 2000. “O que nós queremos enquanto produtores e agora com as D’Uva é engarrafar altitude, microclima, ‘terroir’, castas típicas e exportar isso. Ou seja, queremos o máximo de genuinidade”, afirmou Rita Fino.

Para Maria Manuel Maia, engenheira agrónoma e responsável pela viticultura do Poças Júnior, “num mundo com tanta concorrência é essencial juntar forças”. A empresa começou com o bisavô e hoje exporta para mais de 30 países e 90% das vendas vêm da exportação.

Chegamos à Herdade do Rocim e Catarina Vieira afirma que os vinhos alentejanos têm tido muito sucesso nacional e internacionalmente. A família é produtora de vinhos, mas foi Catarina que revitalizou o negócio adormecido e em 2007 lançou os primeiros vinhos. Engenheira agrónoma e enóloga faz um pouco de tudo na empresa. Apesar de ter uma equipa, Catarina faz questão de estar à frente de todos os projetos.

Um país pequeno e com diversidades tão grandes. Regiões tão próximas com perfis tão diferentes. Castas iguais e que se expressam de formas tão diversas em cada lugar. Acabamos no Douro e na família mais antiga ligada ao vinho do Porto. Os van Zeller estão no comércio do produto desde 1620.

Francisca van Zeller faz parte da 15ª geração e cresceu nas vindimas. “O cheiro da vindima é de absoluta felicidade e remete-me para liberdade, brincadeira e diversão”, contou ao JPN a responsável das vendas e do marketing da Van Zeller e Companhia. A empresa foi vendida e recomprada algumas vezes, mas em 2006 o pai de Francisca recuperou a posse da Van Zeller. Desde então, dedicam-se a reconstruí-la. Estão ligados ao vinho do Porto e ao “Douro Doc” – Denominação de Origem Controlada – com o projeto Quinta Vale Dona Maria.

Para Francisca, o projeto D’Uva é promissor. “Acredito que o país precisa de uma voz mais unida, não para mostrarmos que somos um país só, mas para mostrarmos que um país só tem muita coisa a acontecer. Várias regiões, identidades, características, personalidades e juntas, como mulheres, mostramos essa diversidade”.

Quanto ao nome, Francisca explicou que “D’Uva” remete para a origem além de ser um nome feminino. “Há uma necessidade no exterior de dinamizar a marca Portugal. Vamos levá-la de forma divertida, mas focadas em projetos de qualidade e de muita identidade”, concluiu Francisca van Zeller.

Para completar o grupo das oito, falta mencionar Luísa Amorim, da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, que não pôde estar presente no evento.