Reitores manifestam “surpresa” com possibilidade de os politécnicos abrirem doutoramentos. Politécnicos dizem-se prontos. Ministério reitera que a questão não é prioritária.

O Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas emitiu um comunicado, esta quinta-feira, no qual manifesta “alguma surpresa” com notícias “sobre a possibilidade dos Institutos Superiores Politécnicos virem a incluir na sua oferta formativa programas de doutoramento”.

Os responsáveis pelas universidades públicas temem “uma sobreposição e atomização de programas ou ciclos de estudos”, mesmo reconhecendo o “papel central” dos politécnicos “no reforço da qualificação da população”.

De acordo com a informação, avançada pelo jornal Público a 8 de junho, a possibilidade estará a ser estudada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES). Fonte da tutela, contactada esta sexta-feira pelo JPN, não desmente a abertura, mas reforça que essa “não é uma prioridade”.

Acrescenta ainda a mesma fonte que “há em Portugal uma Agência de Avaliação” que “quando se começar a discutir essa questão, será sempre” quem vai “decidir se e que politécnicos têm condições” para lecionar doutoramentos.

Os doutoramentos “não podem ser coutada”

O Politécnico do Porto já ministra doutoramentos. O facto parece estranho, visto que a lei portuguesa – mais concretamente o decreto-lei 74/2006 – estipula que só as universidades podem conferir o grau de doutor.

Para poder oferecer programas desta natureza e por considerar ter “todas as condições para o fazer”, a instituição portuense, que é o maior politécnico do país, decidiu juntar-se a universidades espanholas – de Salamanca, Santiago de Compostela e Vigo – para dar formação ao nível do doutoramento nas áreas onde reúne “a competência necessária”. No caso, em Educação e em Biotecnologia.

Rosário Gâmboa é assertiva sobre a matéria: “Quem deve dar doutoramentos são as instituições que tiverem capacidade legítima para o fazer e quem o deve avaliar é a Agência de Avaliação, sejam [dados por] universidadades ou politécnicos, porque os doutoramentos não podem ser uma coutada de ninguém”.

Ao JPN, a responsável máxima do IPP assume que o atual ministro “manifestou abertura” sobre o assunto, muito embora não se tenha chegado a “formalizar nada”.

Os doutoramentos em causa assumiriam “uma vertente mais profissionalizante” sendo necessário ainda “enquadrar o que se entende aqui por vertente profissionalizante”, entende.

“Não há nenhuma guerra”

Rui Teixeira, presidente do Politécnico de Viana do Castelo e da APNOR – Associação de Politécnicos do Norte, que junta os politécnicos de Viana, Cávado e Ave, Bragança e Porto – considera que não há neste caso qualquer novidade, nem conflito.

“O que o ministério diz é isto: há a possibilidade de começarmos a pensar seriamente na criação de doutoramentos do foro profissionalizante, mas isso é o que sabemos há muito tempo”, afirma.

“Não há nenhuma guerra entre politécnicos e universidades. A nossa cadeia de valor é a mesma”, conclui.

“Os Politécnicos estão prontos para começar a poder oferecer programas de doutoramento mais de cariz profissionalizante. Que o ministério sabe disso, sabe, e que o atual ministro tem uma particular sensibilidade para o fenómeno, também tem”, resume ainda o responsável.

Rui Teixeira, presidente de um politécnico onde “70% do corpo docente é doutorado”,  acredita ainda que é “mais provável que esses programas se desenvolvam entre associações de politécnicos e por áreas do conhecimento. Não está nada combinado nem decidido, mas é muito mais provável”.

“Com o esforço de formação do corpo docente que foi feito, com o patamar que atingimos na capacidade de investigação, os politécnicos estão prontos”, resume e deixa elogios a Manuel Heitor: “É um homem muito de terreno, é um homem muito prático, com um conhecimento profundo da realidade. Conhece-nos a todos e aparece-nos em casa”, sublinha.