A reportagem multimédia “20 anos são dois dias”, assinada por Catarina Santos, da Rádio Renascença, foi premiada com a Gazeta Multimédia 2016. A jornalista, formada na Universidade do Porto, conquista o prémio em dois anos consecutivos.

Há um ano, quando recebeu a notícia da distinção pelo trabalho “A Sul da Sorte”, sobre os milhares de migrantes que atravessam o Mediterrâneo rumo à Sicília, estava precisamente a tratar de coser aquele que agora saiu premiado.

“20 anos são dois dias” é uma reportagem multimédia sobre a Bósnia e Herzegovina, feita 20 anos depois do massacre de Srebrenica.  “Para quem saiu da guerra, daquela guerra, 20 anos é tempo nenhum”, refere a jornalista na introdução do trabalho.

E foi com essa sensação que voltou a Portugal, depois de uma semana no terreno. “Desde as entrevistas mais preparadas às conversas do dia a dia, nos cafés, nos hotéis, na rua, fiquei com a sensação que as feridas que se abriram há 20 anos com aquela guerra continuam abertas e a ideia com que se fica é que passou muito pouco tempo”, conta em entrevista ao JPN.

“É curioso que mesmo quando falamos com pessoas que nem sequer viveram a guerra, que nasceram durante a guerra ou até depois disso, cresceram a ouvir aquelas histórias e está tão marcada a divisão entre etnias que é como se o conflito tivesse acontecido, de facto, há dois dias”, resume.

Do país que nasceu das cinzas da guerra dos balcãs, nos anos 90, Catarina trouxe consigo um país dividido. “Eu começo o trabalho a dizer que me perguntavam na rua qual é que é o nosso conflito aqui em Portugal, porque a forma como desenham o mundo, a maioria das pessoas, é assim, num conflito permanente com o outro e não há nada parecido com a nossa realidade”, descreve.

A “intensidade com que as pessoas continuam a falar de episódios que aconteceram há 20 anos” foi o que mais marcou a jornalista. E essa nota-se no tom, no olhar, nos gestos dos testemunhos que recolheu, no país com a maior taxa de desemprego jovem da Europa, de onde os mais novos fogem e os mais velhos se riem quando ouvem falar da União Europeia, profundamente desconfiados da política, dos políticos e das instituições internacionais.

O formato multimédia abriu-lhe possibilidades narrativas. “Quando fui para essa reportagem ia com uma carapaça gigantesca, com quilos de material às costas e essa é a maior dificuldade. É conseguir estar lá sozinha e mover-me para todo o lado. Fisicamente, é um bocadinho esgotante. E exige algum grau de concentração, porque tenho de estar permanentemente preocupada com a qualidade da imagem, com a qualidade da entrevista, com a qualidade do áudio, com as marcações, com a produção, tudo isso. Por outro lado, é um desafio enorme e quando me sento para montar o material, a possibilidade que tenho aqui de contar uma história servindo-me daquilo que for mais útil para contar aquela história, isso é impagável”, conta.

Na Rádio Renascença, conta, a equipa dedicada ao multimédia “tem vindo a crescer”, mas não é uma aposta de agora. “Eu vou para lá sozinha mas quando regresso para a edição do trabalho, para o transformar naquilo que ele é, é preciso a equipa de informática envolvida, é preciso um designer, é preciso alguém que trate da parte do grafismo, é preciso alguém que faça ‘motion graphics’, alguém que faça pós-produção dos vídeos e tudo isso é fundamental”, remata.

Prémios Gazeta 2015

Os Prémios Gazeta 2015, anunciados esta segunda-feira pelo Clube de Jornalistas, distinguiram, além de Catarina Santos:

Sibila Lind, do Público, com o Prémio Gazeta Revelação pelo trabalho “Anatomia de uma Ópera”;
Pepe Brix com o Prémio Gazeta de Fotografia pela reportagem “Código Postal: A2053N”;
Rita Colaço, com o Gazeta de Rádio, pela reportagem “Mar da Palha, Zona C”;
Ricardo J. Rodrigues com a Gazeta de imprensa pelo trabalho “Um milagre na Guerra ou as muitas vidas de Isabel Batata Doce”, publicado na Notícias Magazine;
Sofia Leite, da RTP, Prémio Gazeta de Televisão, pela reportagem “Água Vai, Pedra Leva”;
Ao jornal Reconquista coube a Gazeta de Imprensa Regional;
Já a Vicente Jorge Silva, fundador e primeiro diretor do Público coube a Gazeta de Mérito.