Depois da divulgação de uma carta aberta que une quatro associações de estudantes e a Federação Académica do Porto, é a vez da Faculdade de Engenharia tomar posição sobre a introdução de parquímetros na Asprela.

A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) entende que a introdução de parquímetros no Polo da Asprela, concretamente na rua Dom Frei Vicente da Soledade e Castro e outros arruamentos “penaliza diretamente sobretudo os estudantes sem boas alternativas de transporte público, e que podem ter de permanecer na FEUP por períodos longos, por exemplo para aulas e para a realização de muitos trabalhos de grupo”, manifestou a instituição em comunicado.

“Atendendo a que os parques de estacionamento da FEUP têm uma capacidade limitada face à sua comunidade de mais de 10 mil estudantes, técnicos, investigadores e professores, o parqueamento na via pública tem sido um complemento importante para assegurar a acessibilidade às suas instalações”, diz ainda a FEUP nesta nota.

A FEUP reconhece “que a gestão do estacionamento é um instrumento relevante na regulação da procura dos diferentes modos de transporte”, mas considera também que há diferenças entre a zona da Asprela e o centro da cidade na “ocupação do solo e atividades inerentes que conduzem naturalmente a diferentes tipos de ocupação dos lugares de estacionamento na via pública”.

Com vista à melhoria das condições de acessibilidade às suas instalações a faculdade anuncia ainda que a “Direção da FEUP está a preparar a introdução de um sistema de partilha de viaturas (“car sharing”) para utilização pela sua comunidade”.

Carta aberta divulgada sexta-feira

Antes da FEUP, já outras entidades se manifestaram a propósito da introdução de parquímetros na zona da Asprela. Além de uma petição pública, de que o jornal Público deu nota a 26 de junho, as associações de estudantes das faculdades de Engenharia, Economia, Desporto e Ciências da Nutrição, juntamente com a Federação Académica do Porto, tornaram pública uma carta aberta dirigida ao presidente da Câmara do Porto, na sexta-feira, na qual apelam ao fim do estacionamento pago na rua Dom Frei Vicente da Soledade e Castro, junto à FEUP.

Os estudantes querem que “seja encontrada uma solução para a utilização do estacionamento, de forma gratuita, por parte dos estudantes do Polo da Asprela”.

Sobre o atual sistema, a funcionar desde 22 de junho, as associações dizem-se “conscientes das novas regras e novos valores praticados (…) no âmbito do contrato de concessão já assinado” pela autarquia, mas apelam “à compreensão e sensibilidade” de Rui Moreira tendo em conta que se trata de uma rua que “serve estabelecimentos de ensino superior” e que é fundamentalmente usada por estudantes.

Na carta, as associações referem que “no seu conjunto, estes estabelecimentos são frequentados por cerca de 15 mil estudantes e o acesso a zonas de estacionamento não taxadas abrangia cerca de 300 lugares de estacionamento”.

Além da despesa, os estudantes chamam a atenção para aplicação de regras, inerentes às Zonas de Estacionamento de Duração Limitada, que “não se coadunam com a frequência de aulas”.

“Considerando que a maior parte dos estudantes, naturalmente, não dispõe de cartão de crédito para associar à aplicação Telpark, restará a alternativa de, regularmente, colocar moedas no parquímetro durante o dia de aulas”, explicam.

“Queremos voltar ao sistema antigo”

“Os estudantes não se sentem conformados com esta situação e muitos manifestaram o seu desagrado à associação de estudantes, a alertar para esta situação e a pedir à associação para que reagisse”, diz ao JPN Pedro Castro, presidente da AEFEUP.

Para já, ainda não houve uma resposta da Câmara do Porto, o que o estudantes considera “normal” tendo em conta o “pouco tempo” passado desde a divulgação do documento.

O objetivo das associações, que na carta solicitam “o início de uma via de diálogo” para resolver a situação, “é voltar ao sistema antigo, com os lugares gratuitos”, sintetiza.

Os estudantes reconhecem a existência de alternativas em termos de transportes públicos – a zona é servida quer pelos STCP quer pelo metro (Linha D) – mas sublinham que há muitos que optam por utilizar veículo próprio “um bocado porque esta deslocação casa-faculdade-faculdade-casa se faz em pouco mais de 15 minutos, enquanto de transportes públicos se calhar demorariam uma hora, ou mais. É a opinião que temos ouvido”, refere Pedro Castro.

Em plena época de exames e com as férias à porta, a mobilização dos estudantes na matéria é mais difícil, mas se a questão se arrastar até setembro, o dirigente associativo sublinha que o problema vai ganhar “forma e impacto”.

“Aguardaremos uma resposta. Se a resposta não chegar, tentaremos por outros meios. Em setembro, quando este problema se tornar mais forte, com mais estudantes a participarem na vida ativa da faculdade – em tempo de exames o impacto é grande, mas não é tão visível – penso que, em setembro, se irá ver as consequências disto porque se vai ver muita gente a estacionar em locais errados”, remata.

O JPN contactou a Câmara Municipal do Porto sobre o assunto, mas não obteve resposta em tempo útil. Em declarações ao “Público” de 26 de junho, Nuno Santos, adjunto de Rui Moreira, salvaguardou que “o sistema de parquímetros serve para provocar a rotatividade no estacionamento”e que a aplicação do sistema nesta área “faz sentido”, apontando que existem alternativas ao nível dos transportes públicos.