“Para celebrar mais um vir de estação quente / para festejar o alongar da luz do dia”, B Fachada vem ao Porto, no próximo sábado, para dar um concerto de entrada livre.
A festa, essa, de modo diferente da canção, não vai ter lugar na moradia, mas numa coletividade que mora na Travessa de Miraflor, em Campanhã, desde os anos 60.
Na Associação Recreativa Malmequeres de Noêda já passaram “o Marante, Nelo Silva e Cristiana e vários artistas de teatro”, conta ao JPN Rui Silva. Este sábado a música é outra. O diretor das atividades culturais da coletividade acredita que o concerto “vai trazer mais gente de fora” do que da rua, mas aguçar a curiosidade de alguns já será boa safra.
A iniciativa insere-se no projeto “Cultura em Expansão”, apostado em levar a música, o cinema, o teatro e a dança aos bairros sociais e zonas mais periféricas da cidade do Porto.
A associação abraçou a proposta. Mais um passo no sentido pretendido: combater a falta de “fé nas coletividades e na cultura”. “Estamos a crescer aos bocadinhos. As coletividades estiveram esquecidas durante muitos anos. Mas temos vindo a crescer. Fizemos um São João de rua, enchemos sempre com a festa dos miúdos” e este sábado voltam a ser notícia.
Rui Silva e a esposa formam o casal dinamizador da coletividade. Foi lá que se conheceram. Ela na dança, ele como DJ. Saíram. “Ao fim de 11 anos, voltamos para lá. A minha esposa como coreógrafa e eu como diretor cultural. Levamos para lá os nossos filhos. Passo a passo crescemos bastante”, conta Rui Silva.
O diretor tem 33 anos e faz parte de uma direção jovem. Confia num futuro risonho para Campanhã, uma das zonas mais deprimidas do Porto. “Estou a trabalhar para isso. Vivo aqui, tenho dois filhos, um com dois outro com quatro e não consigo sair daqui e acho que eles também têm a mesma ideia. Campanhã cresceu muito e estamos a ajudar. O que está a faltar é atividades culturais”, afirma, acalentando a esperança de vir a ter autorização para espetáculos ao ar livre junto à Estação de Campanhã. Quer “mostrar a cultura a toda a gente de Campanhã”.
O ciclo “A cada um a sua Música”
O concerto de B Fachada na Travessa de Miraflor está integrado no ciclo “A cada um a sua Música”. É o primeiro de cinco concertos que vão juntar músicos de renome nacional em cenários criados por artistas de diversas áreas, da arquitetura às artes visuais.
O cenário em que se vai apresentar B Fachada, num espaço com lotação para uma centena de pessoas, ficou a cargo de Catarina Barros, cenógrafa no Teatro Experimental do Porto.
Para a artista, que já trabalhou com Deolinda e Mão Morta, mas num contexto teatral, a dimensão do palco foi um enorme desafio. “Não estamos a falar de um palco como aqueles em que costumo fazer espetáculos com oito a 14 metros. Estamos a falar de um palco de quatro por quatro metros”, explicou ao JPN.
Sobre o conceito do cenário, a ideia é a de colocar o artista a atuar numa espécie de “estúdio portátil de fotografia com a imagem impressa de uma fachada”. O tema será campestre, melhor dito, agrícola. Com terra de cultivo, feno ceifado e seca. Apontamentos a apontar “o estado de Portugal e da agricultura no país”, explica.
O concerto de B Fachada na Associação Recreativa Malmequeres de Noêda está agendado para as 21h30 da noite de sábado, no número 17 da Travessa de Miraflor, é gratuito e tem a duração prevista de uma hora.