Reabilitação, repovoamento, mobilidade e cultura. Estas são as grandes linhas pelas quais a cidade do Porto se deve guiar nos próximos anos. O passado não se esquece, mas é preciso cuidar do futuro.

“Uma cidade nunca está acabada em termos de projetos ou de reabilitação”. As palavras são de Fernando Gomes, antigo presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP) e resumem o presente e o futuro da cidade.

Num momento em que perde população de forma quase contínua e conta com zonas bastante degradadas e outras em reabilitação, o Porto é um projeto de uma cidade onde dois elementos estão bem presentes. Por um lado o antigo e característico património – na muralha, nos edifícios históricos, no ferro das pontes – e por outro o património atual moderno, dos hotéis, dos barcos turísticos, do metro e da movida.

António Fonseca

António Fonseca Foto: Tiago Vaz

Nesta dança entre antigo e moderno, o turismo surge como motor de arranque para a evolução dos últimos anos e, provavelmente, para o futuro. António Fonseca vê no turismo uma ferramenta importante.

“Nós temos condições para ser uma cidade de turismo, como Paris é uma cidade de turismo, como Londres é uma cidade de turismo e não como estância turística”, sustenta o presidente da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto.

Já Correia Fernandes, vereador do Urbanismo da CMP, acredita que é preciso aproveitar o turismo, sem anular o que a cidade tem de original. “Não há cidades turísticas, há cidades e elas são visitadas porque têm valores que, quem as visita, gosta. Se nós temos uma boa gastronomia –  é a nossa -, não podemos transformar a nossa gastronomia em americana porque senão os americanos não precisam de vir cá. Têm lá a sua e portanto não será interessante”, argumenta.

Que futuro para o Porto?

Além de valorizar a cidade do Porto ao nível do turismo é fundamental, segundo o vereador socialista, atentar na reabilitação dos espaços existentes na cidade. “A construção nova que existe já é demais. Nós precisamos de reabitar a cidade e de a reabilitar. Isso faz-se regenerando espaços urbanos, construções. O tema global da reabilitação é um tema central”, acredita Correia Fernandes.

De facto, há urgência em repovoar o centro da cidade. Para tal preocupação, António Fonseca propõe uma medida: “O IMI devia ser cobrado três ou quatro vezes mais àqueles proprietários que têm os edifícios abandonados em ruína permanente. E deve ser isento aquele que reabilitou o edifício”.

Manuel Correia Fernandes

Manuel Correia Fernandes Foto: Tiago Vaz

A questão da ocupação da zona histórica da cidade é delicada. Correia Fernandes avança que “habitar não é apenas ter uma casa”. Há um conjunto de valências que têm de se encontrar montadas e funcionais para se poder usufruir.

António Fonseca relembra a necessidade de chamar jovens para a zona histórica. Para isso é necessário criar condições para que os mesmos possam “constituir família”. “Tem que ter parques infantis para as crianças, as creches”, exemplifica.

Para Fernando Gomes, essa situação começa até a ser já solucionada: “Os poderes políticos perceberam que a desertificação do centro era uma coisa má e estão a criar condições para o regresso ao centro. Não só com habitação de qualidade, essa habitação tem de estar depois a preços acessíveis”.

Além da criação de habitação de qualidade, o ex-autarca salienta que o emprego normalmente está no centro da cidade e “as pessoas preferem trabalhar perto de casa”.

Num ano decisivo para a cidade – constrói-se o novo Plano Diretor Municipal (PDM) – é urgente ter em atenção outro ponto: a mobilidade. Correia Fernandes recorda a importância da coordenação entre os municípios que “partilham o mesmo espaço urbano”: Porto, Gaia, Matosinhos e Gondomar.

Do ponto de vista de mobilidade, a cidade Invicta apresenta desafios no centro. É necessário intervir, de forma a convergir a mobilidade pedonal com a automóvel, fomentar o uso de transportes alternativos e de transportes públicos e minimizar o impacto da declividade da cidade.

Algumas destes tópicos têm sido discutidos, quinzenalmente, nas reuniões camarárias abertas ao público.

Definir estratégias para não afastar as pessoas do centro

Reabilitação, repovoamento, defesa da cultura, mobilidade. São estas as linhas que, a curto e a longo prazo, vão ditar o desenvolvimento da cidade. Pelo caminho há um programa Norte 2020 que pode ajudar a melhorar a cidade, um projeto para reestruturar a ponte Luís I e vários monumentos que necessitam de obras. Até porque há um estatuto de Património Mundial que tem que ser mantido.

Fernando Gomes considera os problemas que ainda hoje mantêm afastados novos residentes do centro e deixa o aviso: “Não é possível chamar as pessoas para o centro ou não as afastar do centro da cidade se lhes tornamos a vida impossível no dia a dia. Agora é só uma questão de definir políticas que possam conciliar o movimento do centro com a residência”.

Correia Fernandes dá, de forma geral, a resposta política: “Resolver aquilo que os nossos eleitores esperam que a gente resolva, que é respeitar aquilo que são os compromissos públicos que, em termos financeiros, puseram à nossa disposição. Temos de dar contas, temos de fazer por isso, portanto, estamos na luta”.

 

Artigo editado por Filipa Silva e Sara Gerivaz