Em que freguesia do Porto há mais jovens desempregados? Que equipamentos culturais da cidade são mais procurados? Que fatores pesam mais: a distância ou o preço? Em que zona da cidade o consumo de tabaco é mais elevado entre os jovens? Quantos já fizeram Erasmus? Mais de Paranhos ou Campanhã? Rapazes ou raparigas?

As perguntas possíveis são imensas. A todas, o projeto PORTO.Juventude vai tentar dar resposta. A Câmara Municipal do Porto entregou a “obra” à Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto que a está a executar através do SINCLAB – Social Inclusion Laboratory.

O projeto, que está no terreno desde fevereiro, persegue dois grandes objetivos: primeiro fazer o Diagnóstico à Realidade e Respostas para a Juventude da cidade e, depois, com base na informação recolhida, elaborar um Plano Municipal da Juventude.

A primeira fase do diagnóstico deve ser encerrada a 18 de setembro. O plano, um instrumento político, do qual vão constar as áreas de intervenção e as ações concretas a desenvolver, deve ser apresentado no último trimestre do ano.

Um projeto que quer inovar

Este não vai ser o primeiro Plano Municipal de Juventude da cidade, mas vai ser diferente dos antecessores.

A grande inovação, além da recolha massiva de dados que o município e os cidadãos do Porto não dispõem – um facto, aliás, extensível a todo o país -, está na ambição de manter estes dados atualizados e online, acessíveis para os responsáveis políticos – que desta forma podem identificar alterações súbitas ou novas linhas de ação -, para os agentes da cidade e para os cidadãos em geral.

Rui Serôdio, do SINCLAB, é o coordenador ciêntífico e técnico do projeto. Ao JPN explicou como está a ser feito o diagnóstico: através da análise de estatísticas públicas relevantes, de entrevistas a interlocutores-chave – “as associações juvenis que fazem parte do Conselho Municipal de Juventude” –,  e de um inquérito de larga escala que está a ser feito por via presencial e online a jovens entre os 15 e os 29 anos.

É deste inquérito que resultará a mais relevante “mancha de dados” e é nele que reside “a grande inovação”. A primeira fase deste inquérito encerra a 18 de setembro, mas ele vai continuar a ser feito para atualizar a base de dados, até 2018. “Essa vai ser a grande luta. A maior dificuldade de todas”, confessa o investigador.

“Se tudo correr bem, neste primeiro diagnóstico, vamos ter pelo menos 2 mil jovens. Desses, a nossa esperança é que uns 20 a 30% deixem o seu contacto de email e anonimamente vão ser inquiridos numa periodicidade que ainda vamos decidir. A grande dificuldade vai ser ter todos os anos 2 mil ou 3 mil jovens a responder a este inquérito, porque é possível mas exige que haja recursos para colocar no terreno sistematicamente o inquérito”, explica.

O inquérito é longo e por isso foi dividido em partes (um e dois). A amostra é também por isso complexa. “Para ter uma ideia, até dia 18 teremos de ter acima de 2 mil jovens inquiridos, sendo que aqueles 2 mil são escolhidos para representarem cada uma das sete freguesias mais uma, porque existem jovens que não são do Porto, não vivem no Porto, mas que se deslocam ao Porto para estudar ou para trabalhar” e estes também fazem “parte da análise”.

Conhecer primeiro, decidir depois

“O país conhece mal a sua juventude porque na verdade não há recursos que permitam fazer o tipo de trabalho que nós estamos a fazer com a CMP. Porque, como deve imaginar, quatro investigadores a tempo inteiro mais o resto da equipa tem custos e alguém tem de pagar isto”, analisa Rui Serôdio que espera que o modelo venha a ser replicado noutros pontos do país.

“Para conhecer é preciso perguntar e saber. E só se conhece a juventude de qualquer sítio se se for ter junto dos jovens. Não é dos seus representantes. Existem representantes vários dos jovens, vários tipos de associações, mas a verdade é que, por exemplo, podem ter agendas políticas. Se for, por exemplo, ter com uma associação de jovens que atua no âmbito cultural, o que é que acha que eles vão responder à pergunta: o que é que vocês acham que faz falta na cidade do Porto para os jovens?”, reflete o investigador.

Avançar com resultados é prematuro, mas Rui Serôdio aponta, por exemplo, “que existem grandes diferenças entre freguesias da cidade em termos de desemprego jovem”. A União de Freguesias do Centro Histórico tem índices de desemprego muito superiores à de outras zonas da cidade. Mas também tem menos jovens a residir.

Conhecer é preciso para saber onde e como intervir. “Faz falta um Plano Municipal de Juventude porque é preciso pensar as políticas não só no curto prazo mas também no médio prazo. E um plano municipal permite a todos os agentes articularem-se com o município, que é o promotor principal, nesta área, para desenharem respostas para a juventude que sejam efetivamente adequadas não só pela sua eficácia, mas por serem também eficientes. Para não desperdiçarem recursos”, resume.

“A cidade do Porto vai passar a ter isto. E vai passar a ter isto online, que ainda é mais interessante. Se quiser saber alguma coisa sobre isto, vai ao site que a Câmara do Porto está a construir para este efeito e descobre coisas sobre os jovens. Vão estar lá alguns dos nossos gráficos com a cobertura escolar, o abandono escolar, a frequência cultural dos jovens e pode ver manchas verdes, amarelas, vermelhas, consoante a [zona da] cidade que tem à sua frente”, concluiu.