Arranque em falso na corrida para o Mundial 2018. Portugal perdeu com a Suíça por 2-0, no primeiro jogo oficial após a conquista do Europeu.

Fernando Santos tinha avisado sobre um “jogo de grau de importância tremendo”. Nani foi mais longe, ao indicar que o título conquistado em França era “uma página virada”. Mal sabiam o que haveria de ser escrito na folha seguinte.

Apesar das ambições renovadas, Portugal arrancou o caminho para o Mundial da Rússia aos tropeções. Breel Embolo e Admir Mehmedi colocaram os campeões europeus em sentido. Um mês e 28 dias depois de atingir a glória, a seleção das quinas volta a encarar a rotina: correr atrás do prejuízo.

Dez minutos de desorientação fatais

As duas equipas apresentaram-se sem as habituais figuras de proa. Sem Renato Sanches e Cristiano Ronaldo, Fernando Santos experimentou um ataque com Bernardo Silva, Éder e Nani. E surpreendeu ao deixar João Mário, uma das peças importantes na caminhada portuguesa em França, no banco de suplentes. Do outro lado, a Suíça manteve o onze-base do último Europeu, tendo Embolo rendido o lesionado Xherdan Shaqiri.

Independentemente de quem jogasse na direita do meio-campo, a estratégia manteve-se intacta. Portugal deambulou entre o 4-3-3 e o 4-4-2, conforme a movimentação do extremo monegasco entre a ala e o corredor central. O objetivo era claro: travar as subidas dos laterais e controlar o meio-campo helvético. E assim foi durante 20 minutos. Processos simples, equipa dominadora e pressão alta a dificultar a primeira zona de construção da equipa helvética, onde Behrami baixava para a zona dos centrais.

Éder e Bernardo Silva criaram pequenas ameaças. Logo a seguir, a pouca sintonia entre Lichtsteiner e Djourou quase deu prejuízo para os visitados. O lateral aliviou com força contra o central, que tinha o braço direito aberto. Havia motivos para grande penalidade, mas o espanhol Antonio Mateu Lahoz mandou seguir.

A iniciativa portuguesa estava a surtir efeito. Mas esbarrou em momentos de desconcentração fatais e na tremenda eficácia dos comandados de Petković. Aos 23’, Ricardo Rodríguez cobrou um livre e Rui Patrício defendeu para a frente. Na recarga, Embolo cabeceou para o golo, castigando a pouca agressividade da defesa nacional. Portugal procurava reorganizar-se, mas sofreu novo golpe.

À passagem da meia-hora de jogo, Mehmedi teve tempo para tudo. Recebeu da esquerda, enquadrou o disparo em pleno coração da área e atirou a contar. A Suíça não forçou muito, mas deu dois valentes murros no estômago. E revelou o pragmatismo tantas vezes associado à equipa portuguesa, aquele mesmo que tão boas memórias nos deixou há dois meses.

Insuperável muralha helvética

Se a missão era complicada, agora tornava-se quase espinhosa. Guerreiro era um dos mais inconformados, mas não chegava. Santos tentou mexer com o jogo ao intervalo, trocando Éder e William Carvalho por André Silva e João Mário. Mas foi mais do mesmo: domínio territorial, pouca assertividade no último passe e demasiada exploração do jogo exterior. Sem contar os inúmeros ataques que terminavam, invariavelmente, em remates de fora da área. Por sua vez, a defesa suíça fez da segurança a sua maior virtude.

Ricardo Quaresma foi a última aposta do engenheiro, tendo criado a melhor oportunidade de Portugal no encontro: aos 81’, bola cruzada da direita e cabeceamento ao poste de Nani. Os campeões europeus tentaram reduzir estragos. E nem a expulsão de Xhaka por acumulação de amarelos atenuou a desinspiração coletiva.

Portugal voltou a entrar com o pé esquerdo numa fase de apuramento para uma grande competição. Paulo Bento tinha sido derrotado pela Albânia em setembro de 2014. Agora, dois anos volvidos, Fernando Santos repete a história e soma a primeira derrota em jogos oficiais pela seleção das quinas. As circunstâncias são diferentes – ou não fosse o caminho para o Mundial da Rússia mais complicado. A margem de manobra, essa, continua muito curta. Como quase sempre.

“Houve um certo deslumbramento”

Fernando Santos destacou o bom arranque da equipa nacional. Em declarações à RTP, o selecionador considerou que a sua equipa não deixou “o meio-campo da equipa suíça funcionar durante 15/20 minutos”. Contudo, os dois golos sofridos revelaram uma equipa “pouco pragmática” e com dificuldades em “defender bem”, refere.

O técnico salientou a procura por “soluções de golo” durante a etapa complementar. “Tentámos, criámos e penso que se tivéssemos feito um golo podíamos ter dado a volta”, declarou. No entanto, assume: “Há coisas que temos de modificar”.

Já Bernardo Silva manifestou tristeza pelo resultado, mas deixou elogios à formação helvética. “Acho que a Suíça foi uma equipa inteligente, pragmática e temos que lhes dar os parabéns”, disse o extremo do AS Mónaco. Também em entrevista à RTP, Nani lembrou os “dois lances infelizes”. A falta de agressividade “custou caro”, embora o extremo do Valencia acredite que Portugal foi superior.

Hungria desilude, Letónia confirma favoritismo

Nos outros jogos do grupo B, espaço reservado para uma das surpresas da jornada qualificativa. A Hungria abriu a caminhada para o Mundial da Rússia nas Ilhas Feroé, mas não saiu do nulo. Um começo em falso para o conjunto magiar, depois da imagem deixada no último Europeu, em que venceram o grupo de Portugal sem qualquer derrota. Do lado feroês, seguramente um dos melhores desempenhos dos últimos anos.

Ainda neste grupo, a Letónia venceu em Andorra por 1-0. Valērijs Šabala foi o marcador de serviço da equipa báltica. Desta forma, Suíça e Letónia comandam o grupo com três pontos no final da primeira jornada. Na próxima ronda, Portugal recebe Andorra em Aveiro. A Suíça visita Budapeste, ao passo que Letónia e Ilhas Feroé medem forças em Riga.

Ficha de jogo
Suíça
Onze inicial: Yann Sommer; Stephan Lichtsteiner, Fabian Schär, Johan Djourou e Ricardo Rodríguez; Valon Behrami, Granit Xhaka, Breel Embolo, Blerim Džemaili e Admir Mehmedi; Haris Seferović.
Suplentes utilizados: Silvan Widmer, Gelson Fernandes e Eren Derdiyok
Treinador: Vladimir Petković

Portugal
Onze inicial: Rui Patrício; Cédric Soares, Pepe, José Fonte e Raphaël Guerreiro; William Carvalho, João Moutinho e Adrien Silva; Nani, Éder e Bernardo Silva.
Suplentes utilizados: André Silva, João Mário e Ricardo Quaresma
Treinador: Fernando Santos