Quando subiu ao palco para receber o prémio Horizontes para Melhor Ator do 73º Festival de Cinema de Veneza, Nuno Lopes dedicou o prémio “às pessoas dos bairros da Bela Vista e da Jamaica, que são dois dos bairros mais perigosos em Lisboa”. Foi lá que o ator português mergulhou para se preparar para “São Jorge”, em que desempenha o papel de um boxeur desempregado em fracas condições financeiras.

O ator procurou saber sobre o mundo do boxe e realizou um regime de intenso treino físico durante seis meses.

Visivelmente emocionado no seu discurso, Nuno Lopes considera que as pessoas que encontrou ao longo dos vários meses de trabalho são “os verdadeiros heróis no filme, os verdadeiros santos.” “Elas lutaram tanto na vida e agora no ‘São Jorge’ tiveram que lutar contra o dragão da austeridade que foi imposta ao nosso país”, declarou.

Nuno Lopes fez um apelo aos políticos para que ouçam as vozes das pessoas: “Talvez se as suas vozes fossem ouvidas, os políticos comecem a pensar nelas não apenas como números numa folha de Excel mas como seres humanos”.

Na visão do artista, é preciso “começar a pensar no futuro da Europa” e em “que tipo de projeto europeu” queremos passar às gerações vindouras.

A história de “São Jorge”, filme realizado por Marco Martins, passa-se em 2011, ano em que a dívida portuguesa atinge valores recorde e muitas famílias encontram-se no limiar da pobreza. Cinco anos volvidos, a situação de muitos portugueses e europeus ainda deixa muito a desejar, mas nem por isso Nuno Lopes deixa de ter um “discurso utópico”. “Eu sou um ator e sonhar é o que eu faço para viver”, rematou o premiado.

Produção filipina leva o Leão Dourado

Dos filmes que estiveram em competição no Festival de Veneza, “The Women Who Left”, do filipino Lav Diaz, levou para casa o Leão Dourado, o maior prémio do festival. O filme, que é a preto e branco e tem uma duração aproximada de quatro horas, é a história de uma mulher falsamente acusada de um crime que sai da prisão para verificar que na sociedade as elites continuam a ter mais poder e privilégio.

O Grande Prémio do Júri, uma espécie de segundo lugar, foi atribuído a “Nocturnal Animals”, de Tom Ford. O filme conta com um elenco recheado de atores de Hollywood, com Amy Adams e Jake Gyllenhall nos principais papéis. A história fala-nos de uma mulher que é assombrada pelo romance do seu ex-namorado, que ela interpreta como uma ameaça.