Pode parecer estranho para a camada mais jovem da população, mas houve um tempo em Portugal em que o programa das 19h00 na RTP não era “O Preço Certo”.

À entrada dos anos 90, a RTP apostou num programa, então inovador, que era um jornal de atualidade para o público infantil e juvenil. Era o “Caderno Diário” – apresentado por Pedro Mourinho, hoje um dos rostos da informação da SIC, e Sílvia Alves – e Joana Fillol é do seu tempo.

Como muitos da sua geração, Joana guarda memória daquele formato que hoje não tem paralelo na televisão, nem grandes ecos fora dela.

Foi por isso que decidiu avançar, em janeiro de 2015, com o “Jornalíssimo”, um projeto que quer “despertar nos jovens o interesse pela leitura da imprensa, fomentar a curiosidade, promover o espírito crítico e um questionamento constantes”.

Esta quarta-feira à noite, o jornal digital ganha um novo espaço: um rubrica semanal de três minutos no final do “Jornal 2” da RTP. “Na realidade é uma conversa. São três minutos de uma conversa com o apresentador João Fernando Ramos. A ideia é pegar em três notícias que foram publicadas no site e levá-las para ali”, explica Joana ao JPN.

A base é a mesma que sustenta o site: “A ideia é numa linguagem simples, mas sem pender para a infantilização, tentar explicar aquilo que está a marcar a agenda mediática. Ao mesmo tempo, dar notícias sobre temas que lhes interessam”, explica a jornalista.

Em Portugal, o jornalismo dirigido ao público infanto-juvenil tem hoje poucos exemplos. Joana refere a “Visão Júnior”, onde trabalhou, mas identificou uma falha sobretudo em conteúdos direcionados à faixa etária dos 12 aos 18/20 anos. É para essa que o “Jornalíssimo” aponta.

A responsável pelo projeto não considera que o problema esteja do lado da procura – “Tenho uma colega que acabou de defender o doutoramento e ela entrevistou uma série de crianças sobre o interesse delas pelas notícias. E a conclusão é que as crianças até se interessam” – mas do lado da oferta.

Nem sempre foi assim: “O curioso é que cá houve vários projetos inseridos nos órgãos de comunicação social dirigidos aos jovens. Falei no ‘Caderno Diário’, mas houve o ‘Público Júnior’, o ‘DN Jovem’”. E é possível ir mais atrás: “Portugal até tem uma tradição que vem de antes do 25 de Abril. O ‘Diário de Lisboa’ foi o primeiro a ter um suplemento para jovens que era ‘O Juvenil’, o atual ministro da cultura publicou lá. E tinha à frente a Alice Vieira e o Mário Castrim. O ‘DN Jovem’ teve à frente o Mário Mesquita. Isto mostra que já houve uma grande preocupação com este público. O estranho é que tenha deixado de haver”.

Joana não estranha por completo. Afinal, o setor tem sido alvo de um forte desinvestimento. Pela sua parte, a jornalista assegura a produção do “Jornalíssimo”. É ela a equipa do jornal. “Está a ser fruto de um investimento pessoal”, nota. Apoios teve da UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, onde está incubado o jornal, e ainda do Plano Nacional de Leitura, da Rede Nacional de Bibliotecas Escolares, da Associação de Professores de Português e do Vodafone Power Lab.

O site está online desde março de 2015 e o balanço é, por agora, “muito positivo”. “Todos falamos na perda de público, mas se não tivermos espaços para eles… é preciso criá-los”, concluiu.