A festa na Invicta começou às 14h30, com Edu Mundo, no Silo Auto, e só findou de madrugada com Príncipe Showcase e Club Kitten, na rua Passos Manuel e na rua Formosa, respetivamente.

Durante o dia, milhares de pessoas percorreram as ruas do Porto na busca do estilo musical predileto. Este ano, o cardápio era vasto e trazia novidades: o Coliseu rendeu-se aos ritmos africanos e na Praça dos Leões foi feita a primeira experiência com o soundsystem jamaicano.

Boas malhas no Maus Hábitos

Quelle Dead Gazelle

Quelle Dead Gazelle Foto: Beatriz Pinto

O sol ainda ia bem alto quando uma longa fila de pessoas se começou a formar na Rua Passos Manuel. O motivo responde ao nome de Quelle Dead Gazelle, “power duo” lisboeta que veio ao Maus Hábitos apresentar o seu álbum de estreia “Maus Lençóis”.

Com o palco minado de todo o tipo de pedais e cabos, a guitarra poderosa e “groovy” de Pedro Ferreira enfrenta a bateria imponente, mas por vezes convidativa à dança, de Miguel Abelaira, criando uma mescla de “stoner rock” e “afrobeat” numa sala cheia e abafada.

As músicas falam pela banda, reservada, que só quebra o encadeamento da “setlist” para se apresentar. No entanto, se a interação é reduzida, a concentração é máxima na tarefa de levar o público a um estado de hipnose balançada, com faixas como “Pedra-Pomes”, “Vaca Fria”, “Burundi” e outras tantas do mais recente projeto.

Com 40 minutos de concerto, Abelaira relembra que a banda traz álbuns para vender e despede-se. “Gosto muito de vocês”, diz. Mas ainda há tempo para mais umas últimas malhas, desta vez com direito a moche e já com mais espaço para uns passinhos de dança.

Uma hora depois, pelas 19h00, First Breath After Coma entram numa sala completamente lotada, acompanhados por uma salva de palmas ensurdecedora. A banda, que esteve este ano no festival Paredes de Coura, abriu o concerto com “Salty Eyes”, primeiro single do álbum lançado este ano, “Drifter”.

First Breath After Coma

First Breath After Coma Foto: Beatriz Pinto

“É um prazer enorme estar aqui convosco”, diz Roberto Caetano (vocalista principal), depois dos artistas terem sido acarinhados pelo público com gritos e palmas entusiásticas. É também Roberto que explica o “roteiro” do concerto, revelando um pouco sobre o universo presente em cada música, e levando o público pela mão por entre um post-rock etéreo e sonhador, com um q.b. de melancolia, que traz à memória nomes como Explosions In The Sky e Sigur Rós.

Após uma espreitadela ao álbum de 2013, com a conhecida “Shoes for Man with No Feet”, a viagem prossegue com faixas mais recentes.

“É sempre bom tocar no Porto. Vocês são fixes, muito fixes”, saúda o vocalista, perante as diversas demonstrações de afeto da plateia. E é após o apelo à compra do novo álbum que a banda se despede da sala a ferver do Maus Hábitos, com a faixa “Blup”.

Espírito jamaicano invade a Praça dos Leões

Soundsystems animaram os Leões

Soundsystems animaram os Leões Foto: Cláudia Silva

Já noutro recanto da Invicta, à luz do dia, a expectativa adensa-se relativamente à atuação de Simply Rockers Soundsystem e Roots Dimension Soundsytem, que estreiam um novo formato no NOS em D’Bandada.

O “soundsytem” é um conceito relativamente recente ao nível nacional. No entanto, este sistema de amplificação nasceu nos anos 50, na Jamaica, com o objetivo de fazer chegar música à parte da população que não tinha acesso à rádio ou televisão.

Neste momento, existem três sistemas de som de construção manual em Portugal, sendo que dois foram os protagonistas da atuação. Ernesto Honesto, membro dos Simply Rockers Soundsystem, assegurou ao JPN que estes vieram trazer “uma vibração diferente que faltava”.

O pôr do sol já se fazia sentir quando começou o espetáculo. Ao ritmo do reggae e do dub, a Praça dos Leões transformou-se numa autêntica pista de dança. Diversas pessoas divertiam-se com os copos no ar, amigos e famílias punham a conversa em dia e as crianças corriam ao longo da praça. Não importa a idade ou o estilo, ali todos procuravam passar bons momentos ao som jamaicano.

You Can’t Win, Charlie Brown, virtuosos nas Virtudes

You Can't Win, Charlie Brown

You Can’t Win, Charlie Brown Foto: Rita Cerqueira

Num outro palco próximo, a banda que em 2011 fez parte do alinhamento da primeira edição do festival, regressou pela terceira vez com “casa cheia”. You Can’t Win, Charlie Brown deixou o Passeio das Virtudes rendido, conquistando mesmo aqueles que não conheciam as músicas. Com vista sobre o Rio Douro, o público pôde recordar êxitos já conhecidos e ouvir parte de “Marrow”, o álbum a estrear em outubro.

Quando o som das palavras “If you could peek above the wall” brotou do palco, a boa reação do público foi quase como automática. Este single e “Joined by the Head”, integrantes do novo projeto, marcaram pela diferença.

Salvador Menezes, membro do grupo, admitiu ao JPN que este novo álbum “puxa mais pelas pessoas e isso sente-se em palco”. Essa foi uma das razões pela qual optaram por terminar a atuação com “Pro Procastinator”, tema que, segundo o músico, obteve feedback positivo dos Salto, banda que fecharia este palco: “disseram que a música era mesmo boa para fechar”. E assim foi, You Can’t Win, Charlie Brown deixaram o palco ao som de aplausos intermináveis.

Coliseu dá festa africana

O sol já se estava a pôr, mas o ambiente aquecia cada vez mais dentro do Coliseu do Porto, com a alegria contagiante de Kimi Djabaté. No entanto, foi só pelas 21h30 que o edifício começou a rebentar pelas costuras, com a antecipação do concerto de Bonga.

Bonga

Bonga Foto: Beatriz Pinto

A banda já tocava há largos minutos, quando o protagonista surge em palco a dançar. A melodia do acordeão e a batida incessante agita o mar de gente da plateia e até consegue incentivar os lugares sentados do recinto a agitar as ancas.

“Este calor só pode ser do Norte”, diz o artista, entusiasmado com a pista de dança que se formou ao longo de faixas como “Homem do Saco”, “Água Rara” e “Currumba”. Os gritos a pedir por “Mariquinha” não tardam, mas Bonga pede paciência e prossegue com a festa. A banda balança, animada, e a dançarina, que surge por vezes em palco, exaltam a plateia.

Após os hits “Galinha Kassafa” e “Olhos Molhados”, chega a esperada “Mariquinha”, que levanta a voz e os telemóveis de metade do recinto. A imensa celebração de uma hora e meia encerrou-se já de noite com “Comeram a Fruta”.

Poveiros abraçam Orelha Negra

Orelha Negra

Orelha Negra Foto: Rita Cerqueira

Faltava ainda mais de meia-hora para o próximo concerto começar e a Praça dos Poveiros parecia já não ter espaço para acolher mais ninguém. Depois de uma noite repleta de emoções transmitidas pelo hip hop, estilo já emblemático do local, ainda faltava Orelha Negra.

Em conversa com o JPN, João Gomes, membro do projeto, mostrou-se honrado por o D’Bandada apostar numa banda “que não é propriamente um estilo de música muito comercial porque é instrumental, não tem um ‘frontman’” para um evento já tão popular na cidade Invicta. O artista explicou ainda que eventos como este traziam uma força extra à música portuguesa por serem “uma maneira de divulgar, apoiar, credibilizar e mostrar às pessoas que música portuguesa também é fixe, dá grandes espetáculos e há grandes artistas”.

A Praça que parecia cheia há minutos atrás, surpreende toda a gente ao mostrar-se capaz de receber ainda mais pessoas. Quando a ansiedade se instala, o público começa a fazer-se ouvir e os Orelha Negra respondem com a entrada em palco e o início de um dos concertos mais esperados da noite. Temas novos como a “Sombra” e “Parte de Mim” aumentam ainda mais a curiosidade de conhecer o novo álbum que estará disponível ainda este ano.

Invicta rendida a Nuno Lopes

Nuno Lopes

Nuno Lopes Foto: Cláudia Silva

Meia-hora após as 12 badaladas, Nuno Lopes, DJ há 12 anos, animou a noite do Porto na rua Cândido dos Reis.

Não é a primeira vez que vem ao D’Bandada, mas é a primeira vez que está em cima do palco.  Em conversa com o JPN, o ator disse que o “NOS em D’Bandada é um evento fundamental porque é uma espécie de São João musical, que une as pessoas do Porto a uma nova forma de ver a música portuguesa e acaba por dar às bandas portuguesas um novo público”. Para além disso, explica, “serve como plataforma de lançamento de novas bandas”.

“Nuno, Nuno, Nuno” gritavam as pessoas concentradas ao seu redor. Eram longas as filas de espera para o abordar, os elogios para oferecer e as selfies para tirar. Afinal, o artista não é um artista qualquer: prémio de Melhor Ator em Veneza na secção “Horizontes” há uma escassa semana.

A rua parecia ter encolhido e algumas pessoas tentavam ganhar espaço para dançar, enquanto outras se limitavam a ouvir a música. Após as duas horas de pura diversão, o artista deixou a cidade rendida ao seu talento.

Artigo editado por Filipa Silva