O realizador Denis Villeneuve, de 48 anos, deu o salto para a ribalta em 2010, ano em que lançou o comovente “Incendies”. A história é sobre dois gémeos canadianos que viajam para o Médio Oriente para visitar o país da mãe, falecida há pouco tempo. O filme é baseado em eventos da Guerra Civil libanesa dos anos 70 e foi nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2011.

Emily Blunt em "Sicario".

Emily Blunt em “Sicario” Foto: BagoGames

Desde então, Villeneuve realizou mais quatro longas-metragens. “Prisoners” (2013) é um “thriller” que retrata a busca incansável de um pai pela sua filha raptada. “Enemy” (2013) baseia-se no livro “O Homem Duplicado”, de José Saramago, e conta a história de um homem que vai atrás do seu sósia, após o ter visto num filme. “Sicario” (2015) mostra-nos o combate ao tráfico de droga através dos olhos de uma agente alistada numa força governamental.

Em 2016, o realizador regressa com “Arrival” – em Portugal, estreia a 10 de novembro -, obra que marca a sua primeira aventura em territórios de ficção científica. Estreou este mês no Festival de Veneza e Toronto e tem sido bem recebido pela crítica e apreciado pelo seu fator inovador no género.

Denis Villeneuve irá também realizar a sequela do clássico de ficção científica “Blade Runner” (1982), 36 anos depois do
primeiro. Harrison Ford voltará para o papel de Rick Deckard, com o apoio de atores como Jared Leto e Ryan Gosling.

“Arrival” quer quebrar regras

É uma obra que promete desafiar os estereótipos dos filmes de invasão alienígena, a começar pela profissão da protagonista: seguimos a doutora Louise Banks, uma linguista que é contratada pelas forças militares para descodificar mensagens de alienígenas, que se instalaram em vários pontos do globo.

"Arrival"

“Arrival” Foto: FilmNation

“Arrival” é um filme que quebra algumas das regras já estabelecidas por outros filmes de ficção científica, facto que não incomoda Villeneuve. “Nada é mais divertido do que quebrar essas regras”, afirma o realizador em entrevista ao “LA Times”.

A história é adaptada do conto “Story of Your Life”, de Ted Chiang e, à partida, podemos verificar aspetos comuns a outros filmes do cineasta canadiano. Tal como em “Sicario”, filme em que a agente Kate Macer se depara com uma situação que lhe é totalmente estranha no que diz respeito ao combate ao tráfico de droga, em “Arrival” a doutora Banks tem de fazer uso das suas capacidades de linguista, desta feita não em humanos mas para descobrir os motivos da invasão alienígena.

Villeneuve gosta de colocar as suas personagens e audiência em situações difíceis, nas quais a linha que separa o moral do imoral é muito ténue, e obrigá-las a descobrir por si próprias o caminho de redenção – em “Prisoners”, somos quase levados a apoiar a tortura quando está em causa o rapto de uma filha.

“Foi um desafio transportar isto para o ecrã, pois é um filme de ficção científica que não estamos acostumados a ver, que diz alguma coisa sobre a realidade”, afirma aind ao realizador ao “LA Times”. A realidade é um tema que não é estranho em Villeneuve. Em “Enemy”, Jake Gyllenhaal interpreta um homem que está constantemente a duvidar do que é real e o que não é, bem ao estilo de Kafka.

Um “Blade Runner” diferente

Harrison Ford em "Blade Runner"

Harrison Ford em “Blade Runner”

Quando foi anunciado que estava a ser trabalhada uma sequela para “Blade Runner” – estreia prevista para 2018 -, a primeira impressão da comunidade cinéfila foi que os deuses deviam estar loucos ao quererem tocar num filme que é marco da sétima arte. Desde que se começou a pensar no cinema mais como uma máquina de fazer dinheiro do que um espaço para criar coisas novas e de qualidade, as inúmeras sequelas e “remakes” de filmes não têm sido recebidos da melhor maneira: ou desrespeitam o material de origem, ou as pessoas que estiveram no início já lá não estão.

Mas não é caso para alarme. A sequela de “Blade Runner” tem Ridley Scott como produtor. O realizador do filme original esteve para dirigir este projeto, mas as rédeas foram passadas a Denis Villeneuve. “Eu tenho a sua bênção [de Ridley Scott]”. “Eu não tenho a lata de dizer que vou fazer como o Ridley Scott. Eu sou totalmente diferente”, afirmou o realizador canadiano ao “The Independent”.

O universo de “Blade Runner” é povoado por robôs disfarçados de humanos. Se olharmos para as personagens complexas e tridimensionais que Villeneuve já nos ofereceu e os problemas morais que levanta nos seus filmes, podemos apostar que esta sequela está em boas mãos.

Artigo revisto por Filipa Silva