Os GNR celebram este ano os 35 anos de carreira e para assinalar a data comemorativa lançaram, esta terça-feira, na sala Suggia da Casa da Música, referência incontornável da cultura da cidade na qual a banda nasceu, a sua biografia oficial.

Palco na Sala Suggia

Palco na Sala Suggia Foto: César Castro

O palco foi dividido em duas partes. De um lado, um espaço para a música, para a banda tocar alguns dos inúmeros êxitos destes 35 anos, do outro, um espaço para uma conversa ao vivo sobre o percurso e sobre o novo livro. A obra, “GNR – Onde Nem a Beladona Cresce”, chegou ao palco de empilhadora, perante uma assistência de 800 pessoas.

O livro, editado pela Porto Editora e da autoria de Hugo Torres, jornalista do “Público”, retrata a história da banda, desde o começo até à consolidação do seu lugar no cenário da música portuguesa, nas últimas quatro décadas. Já a capa da biografia, realizada no Porto de Leixões, é da responsabilidade do fotógrafo João Ferrand.

A forma descontraída e despreocupada com que Toli César Machado, Rui Reininho e Jorge Romão se apresentaram em palco foi o ponto de partida para um conversa desinibida, onde desfiaram histórias, interagindo frequentemente com a audiência. A Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, coube fazer as honras da casa.

“Dunas”, amor ou desamor?

Concerto

Concerto Foto: César Castro

Na sessão, apresentada por Pedro Fernandes, nem o senhor Orlando, motorista da banda durante anos, foi esquecido. Revisitaram-se os grandes concertos nos Coliseus, na Alameda, em Alvalade e nas Antas. Recordou-se “Os homens não se querem bonitos”, álbum de 1985, o disco de “Dunas”.

A banda, que já chegou a contratar mágicos e palhaços para abrir os espetáculos, admite, agora, que só Rui Reininho gostava da música. “Era uma canção que nem fazia sentido. Nem gostávamos muito na altura”, confessou.

Entre confissões, partilhas e algumas revelações, alternavam-se as cadeiras com o palco propriamente dito. Cantou-se “Dunas”, “Pronúncia do Norte” ou “Mais Vale Nunca”, enquadradas por uma assistência transgeracional, que retribuiu sempre, acompanhando os músicos na letra.

Trompas de Falópio, o nome que não chegou a ser

Banda à conversa com Pedro Fernandes

Banda à conversa com Pedro Fernandes Foto: César Castro

Já tiveram um ou outro nome, em cima da mesa, para a banda, mas GNR prevaleceu até hoje. “Acho que um [nome] era ‘Trompas de Falópio’.”

Confessaram não ter um álbum preferido ou que talvez sejam todos. “São 12. Devemos estar a fazer, como se diz na capital, o ‘treuze’.”

Falou-se, de igual modo, dos dois concertos especiais que vão ser dados em novembro, no dia 5, no Multiusos de Guimarães, e no dia 12, no Campo Pequeno, em Lisboa, onde vai ser gravado o DVD dos 35 anos da banda.

E adianta-se a participação de alguns dos convidados especiais. “São pessoas que nos acompanharam e fizeram parte da nossa história.” Entre outros, Rita Redshoes, Javier Andreu e Isabel Silvestre, mas talvez haja “mais umas surpresas.”

Obra demorou um ano e meio a concluir

O livro, que durou um ano e meio a nascer, foi um trabalho “longo”, baseado numa grande entrevista com todos os elementos da banda e numa conversa realizada individualmente, explicou o autor, Hugo Torres. “Para ver se as coisas batiam certo, como faz a polícia”, brincou o apresentador Pedro Fernandes.

Hugo Torres, que se confessa, sem surpresa, fã dos GNR, reconheceu a necessidade de entender o contexto político, social e cultural, que existia à volta da banda, para conseguir mergulhar na sua história. “A grande dificuldade é tentar perceber o contexto dos 35 anos dos GNR, porque eu sou mais novo que isso. E então fui tentar ouvir o que eles ouviam, ler o que eles liam”, contou ainda.

Para que se pudesse distanciar da visão dos músicos, o autor encabeçou um exaustivo trabalho de pesquisa, sobretudo, de imprensa da época. “Há muito enquadramento histórico. Foi um subterfúgio meu para contornar a modéstia destes três senhores, porque eles, de facto, merecem estar no meio desse contexto histórico que está no livro.”

Para a riqueza biográfica apresentada, foi indispensável a colaboração de todos os elementos da banda, como Toli. “Ele tinha três ou quatro caixas de dimensões generosas com recortes de revistas e jornais. Bichos-de-conta que já deviam estar lá desde os anos 80.”

Tema inédito

“GNR – Onde Nem a Beladona Cresce” só chegará às livrarias esta quarta-feira, mas, na Casa da Música já foi possível adquirir a edição de colecionador, com uma sobrecapa especial e numerada, que inclui ainda um brinde exclusivo: um single inédito, editado num CD que acompanha todas as edições da biografia.

“O Arranca-Coração”, tema apresentado durante o evento, tem voz e letra de Rui Reininho e composição de Toli César Machado.

Em jeito de despedida, a banda agradece a todos aqueles que estiverem presentes na Casa da Música. “Espero não me ter esquecido de ninguém. Nos nossos corações não nos esquecemos de ninguém: os que chegaram, os que partiram. A vida tem sido maravilhosa”, finalizou Rui Reininho.

Artigo revisto por Filipa Silva