Novo jogo, nova dose de mexidas. Ao fim de nove encontros oficiais, Nuno Espírito Santo só repetiu uma vez o 11. Desta feita, quatro alterações face ao duelo de Tondela, sem negligenciar qualquer setor. Marcano rendeu Boly no eixo defensivo, Rúben Neves passou de titular a não-convocado. Brahimi voltou ao banco e o espanhol Adrián López fez parelha com André Silva no ataque portista.

Atrás da dupla ibérica, um trio de médios. Otávio na meia esquerda, André André, promovido a capitão, a ocupar a faixa direita e Óliver a aparecer pelo miolo, servindo de apoio a Danilo.

Do lado axadrezado, os recentes desaires pediam também mudanças na abordagem ao jogo. Até pelo lado histórico do confronto: os dois duelos da última época frente ao FC Porto resultaram em nove golos sofridos (cinco no Bessa, quatro no Dragão). Erwin Sánchez trocou cinco peças e colocou dois médios de combate à frente da defesa. Fábio Espinho teve uma missão redobrada, ora juntando-se à linha intermédia, ora acompanhando Digas na frente.

Philipe Sampaio ocupou o lugar do suspenso Lucas Tagliapietra, Iuri Medeiros fez o primeiro jogo a titular. Já o internacional azeri Kamran estreou-se na liga portuguesa, sendo o quarto guarda-redes – depois de Mika, Mamadou Ba e Mickaël Meira – utilizado pelo Boavista em seis jogos. Mas foi um dos repetentes nestas andanças a querer mostrar serviço.

Menos ação, mais reação

Apesar de um início pouco esclarecido, a surpresa madrugou. Fábio Espinho cobrou um livre na direita e Nuno Henrique (5’), surgido entre André Silva e Felipe, respondeu com eficácia de cabeça. O adiantamento milimétrico do central, como que a pedir vídeo-árbitro, não desculpa as falhas posicionais da defesa portista. Após dois jogos sem sofrer para o campeonato, voltaram os dramas com as bolas paradas defensivas. Só que o Porto de Nuno Espírito Santo aparenta reagir bem à adversidade. Mesmo perante equipas que declaram desde cedo uma estratégia defensiva, com bloco médio-baixo, linhas recuadas e poucas investidas atacantes.

Tal como aconteceu em Vila do Conde ou na receção à Roma, onde se viu em desvantagem, o conjunto azul e branco sentiu o orgulho ferido. Cercou o adversário no último terço e buscou a resposta na raça, ao intensificar a reação à perda e a largura conferida pelos laterais. Muito embora seja na dinâmica da sociedade Otávio/André Silva que se desenhem as melhores ideias ofensivas dos dragões. Um cria, o outro resolve. Ambos são muito jovens (21 e 20 anos), mas têm solidificado o seu espaço no reinado portista. De resto, a reviravolta caseira apareceu nos pés do avançado português, sempre com a chancela do ex-vitoriano.

Já depois de Danilo ter cabeceado ao poste, André Silva (19’) quebrava o jejum de cinco jogos (três domésticos) ao desviar um cruzamento de Otávio. O bis (41’) do dianteiro gondomarense chegaria de penálti: Henrique travou em falta o médio canarinho e o camisola dez não perdoou na cara de Kamran. Quatro golos no campeonato e o assalto à liderança dos melhores marcadores, agora partilhada com Moussa Marega (Vitória SC) e Bas Dost (Sporting). No fundo, um reencontro feliz com o conjunto do Bessa – André Silva estreou-se a marcar pela equipa principal do FC Porto na época passada frente ao Boavista, em pleno Dragão.

A pantera ficou abalada antes do descanso. E quando repensou a tática, já olhava com inferioridade para o oponente. Contrariando as primeiras tendências do jogo, a muralha construída em frente à baliza forasteira era insuficiente para parar o ímpeto azul e branco. Só o congolense Bukia semeava pânico, ainda que instantâneo. Fábio Espinho foi colecionando apontamentos interessantes, mas teve pouca bola. Iuri Medeiros, encostado à direita e com missões claramente retraídas, esteve apagado.

Controlar até esperar pela felicidade

O ritmo abrandou no segundo tempo, mas mostrou um Boavista mais desinibido. Carraça ameaçou de meia distância, Bukia tentou um golo olímpico e Fábio Espinho fez um livre passar rente ao poste esquerdo. Mais unidades na frente e um bloco atrevido, que procurava atenuar aquela diferença mínima, arriscada para uns e tentadora para outros. Pelo meio, alguns lances divididos nas duas áreas a dificultarem o trabalho de Nuno Almeida.

Das substituições, destaque para a aposta em Diogo Jota. O jovem cedido pelo Atlético de Madrid entende cada vez melhor o processo e entrou com vontade de acrescentar clarividência ao ataque portista. Contudo, foi Alex Telles (86’) a desfazer qualquer dúvida. O lateral brasileiro cruzou e, num lance sem qualquer perigo aparente, contou com um misto de complacência e infelicidade do estreante Kamran Agayev. O guarda-redes azeri levantou as mãos, mas a bola passou no meio delas e só parou nas redes axadrezadas. Golo caído do céu e contas saldadas no Dragão.

Este foi o primeiro de três jogos em nove dias para o FC Porto. Terça-feira regressa a Champions com duelo frente aos campeões ingleses, antes da viagem à Choupana. Do lado boavisteiro, terceira derrota consecutiva. Segue-se a receção ao Moreirense, antes da pausa para os compromissos internacionais da seleção nacional.

Apesar do crescimento, há “aspetos a trabalhar”

Nuno Espírito Santo considera que o resultado foi “escasso” pelo que a equipa produziu. Em conferência de imprensa, o técnico portista destacou a atitude da equipa após uma entrada em falso: “soubemos não descompor, manter a ideia de jogo com muito critério e essencialmente é difícil. Isso representa crescimento”. Contudo, há “aspetos a trabalhar”, como o trabalho defensivo e a própria eficácia.

Questionado acerca do esquema tático, Nuno considera que o 4-4-2 é “uma ideia tomada com muita responsabilidade atendendo aos jogadores” que tem. “Requer trabalho, requer convicção e este é o caminho”, sustenta. Ficou ainda o apelo ao apoio contínuo do público: “A resposta foi boa, no sentido em que a equipa sentiu o apoio e continuou a produzir. É importante que os nossos adeptos saibam que a nossa equipa precisa deles”, rematou.

Erros de arbitragem e maré de azar

Erwin Sánchez teceu críticas à arbitragem. Queixou-se de um penálti que ficou por assinalar, frisando em conferência de imprensa que a sua equipa tem de “ter o dobro ou o triplo do cuidado do que as equipas adversárias”. O treinador boliviano lamenta os erros individuais: “Estamos numa fase de que qualquer erro nosso dá em golo. São coisas que fora do campo treinamos de uma maneira, chega ao jogo e pode acontecer isto”. Ainda assim, Sánchez enalteceu o valor dos seus jogadores e afirma que ainda existe muito campeonato pela frente.

Ficha de jogo

Competição: Liga NOS (6ª jornada)
Estádio: Dragão, Porto
Assistência: 31.210 espetadores
Golos: Nuno Henrique (5’), André Silva (19’ e 41’) e Alex Telles (86’)
Cartões Amarelos: Nuno Henrique (40’), Tiago Mesquita (76’) e Yacine Brahimi (85’)

 Equipa de Arbitragem

Árbitro: Nuno Almeida (AF Algarve)
Árbitros Assistentes: António Godinho e Paulo Ramos
Quarto Árbitro: Manuel Oliveira

FC Porto

Onze inicial: Iker Casillas; Miguel Layún, Iván Marcano, Felipe Monteiro e Alex Telles; Danilo Pereira, André André (capitão), Oliver Torres e Otávio; Adrián Lopez e André Silva
Suplentes utilizados:
Diogo Jota, Héctor Herrera e Yacine Brahimi
Treinador:
Nuno Espírito Santo

Boavista FC

Onze inicial: Kamran Agayev; Tiago Mesquita, Nuno Henrique, Philipe Sampaio e Talocha; Idris (capitão), Carraça, Iuri Medeiros, Fábio Espinho e André Watshini Bukia; Digas
Suplentes utilizados: André Schembri e Erivelto
Treinador: Erwin Sánchez