“Rendimento” é a palavra-chave da WiseCrop, uma empresa criada em 2014 com o objetivo primordial de apoiar a tomada de decisões no setor agrícola. Querem ajudar a “evitar desperdícios” e a “rentabilizar as explorações agrícolas”. Como? Através de uma “ferramenta modelar, que se ajusta às necessidades do produtor”, explica Tiago Sá, um dos fundadores da empresa, ao JPN.

“Quando um produtor tem de tomar uma decisão, tem de saber quando deve regar, se deve aplicar um tratamento para uma determinada praga ou doença, hoje, amanhã ou se não o deve aplicar”, prossegue. Cada decisão influencia outros aspetos da exploração: “Há sempre contas a fazer em relação a gastos, mas os gastos podem-se tornar em investimentos, se as coisas forem aplicadas na quantidade certa e na altura certa. É esta abordagem que nos difere no mercado”, considera o fundador.

Tiago Sá refere que o que distingue também a WiseCrop é a “proximidade com o mercado”. “Isto ainda era uma ideia e já estávamos no mercado a falar com os produtores para saber se era viável”, comenta. O objetivo era apresentar uma ideia e uma solução para um problema. Em retorno, a equipa recebia o “feedback” dos produtores que era usado para “criar novas ideias e voltar para o terreno para as validar”.

Atualmente, o processo é idêntico, mas com outros requisitos. “Nós desenvolvemos ferramentas de que os produtores precisam mesmo”, garante o engenheiro. “Tentamos perceber quais são os problemas e pensamos como os podemos resolver.”

Uma aplicação fácil de utilizar

Há produtores no terreno que não têm formação agrícola. Há outros que tentam aproveitar fundos europeus para entrar num mercado que também não conhecem em profundidade. AWiseCrop tentou desenvolver uma ferramenta que sirva a todos, “os que dominam e conseguem ver os detalhes, para tomar decisões com base nisso”, mas também “quem não tem conhecimento prévio”.

O software foi desenvolvido a pensar na usabilidade. “Neste setor, as coisas têm de ser fáceis de perceber, fáceis de manusear e rápidas”, comenta Tiago Sá. “As pessoas não têm tempo a perder com softwares, não estão habituadas a estar muito tempo no computador. O nosso interface é muito simples”, assegura.

A empresa ignorou regras no desenvolvimento do seu software “de modo a tornar a plataforma extremamente usável por pessoas com muita idade ou com pouco conhecimento em manusear equipamentos tecnológicos”, acrescenta.

untitled-3De acordo com o fundador, a aplicação também se distingue por ser versátil. É um dispositivo sem fios que “pode ser ligado a qualquer dispositivo no mercado”. Estações meteorológicas, medidores de diâmetro de fruto, sensores de temperatura, da humidade do solo ou do caudal da água são apenas alguns dos aparelhos que podem ser utilizados para monitorizar a exploração.

O número de aparelhos instalados é feito em função das necessidades do cliente. “Podemos adaptar-nos a uma cultura que só precise de uma estação meteorológica, mas também podemos adaptar-nos a explorações de centenas de hectares. Em cada caso, a informação obtida é ampla e minuciosa.”

Tiago explica que os grandes produtores “já trabalham bem, mas podem otimizar a produção” e é aí que a WiseCrop entra. “O aparelho recolhe dados dispersos numa determinada área e envia-os para a Internet. Deste modo, o produtor sabe o que está a acontecer com as suas culturas, em tempo real, em qualquer parte do mundo”, conta ao JPN.

Projeto começou na faculdade

A ideia da WiseCrop surgiu em contexto académico quando Tiago e outros colegas puderam contactar com uma tecnologia de transmissão de dados sem fios “inovadora”. A aplicabilidade no mercado foi uma prioridade. Lá chegados, quiseram enveredar pelo mercado IOT [Internet of Things] e criar uma aplicação que colocasse toda a informação na mão do agricultor.” A ideia data de 2013, mas foi em meados de 2014 que “começou a sério”.

Fundada por engenheiros de várias áreas, mas com elementos comuns, a WiseCrop é uma empresa multidisciplinar. “Os fundadores têm formação eletrotécnica, mas com backgrounds diferentes. Desde robótica, automação e energia a microcontroladores”, explica Tiago. A integração de um engenheiro agrónomo foi feita ainda no início do projeto. O alargamento do resto da equipa aconteceu quando os fundadores viram a dimensão do projeto e perceberam que não “iam conseguir resolver tudo sozinhos”.

Expansão à vista

A WiseCrop está a crescer e já tem clientes por todo o país, mas Tiago afirma que “ainda há muito por onde crescer”. A visão da empresa é a internacionalização rápida. Já há negociações em curso noutros países e há pilotos a decorrer. A validação desempenha um papel fundamental na entrada em mercados estrangeiros. “Sendo uma tecnologia inovadora, carece de validação para os clientes que a adotem. Daí recorrermos a pilotos, para que a reconheçam.” Em Portugal, Tiago Sá afirma que a empresa “está a fazer um bom trabalho” e o reconhecimento já é sentido. “Quando vamos a feiras, as pessoas indicam que já ouviram falar de nós, através de outros produtores ou pelas notícias.”

Ainda há muito para fazer em território português. “Há muitos produtores a precisar de ajuda, outros tantos a tentar entrar no setor”.

Um casamento provável

Tiago Sá acredita que a integração tecnológica, num setor ainda relativamente conservador, é o caminho para a sustentabilidade da agricultura. “Com o recente ‘boom’ das startups, começaram a surgir ideias diferentes e com aplicabilidade na agricultura.”

“Não tenho dúvidas disso e é por esse caminho que vamos trabalhar”, comenta Tiago, sobre um caminho que, acredita, vai levar também a uma maior competitividade e qualidade das produções.

Artigo editado por Filipa Silva