“Ciência à moda do Norte” foi o mote escolhido para assinalar no Porto a Noite Europeia dos Investigadores. O evento foi celebrado um pouco por todo o país. Na Invicta, levou milhares até ao pavilhão Rosa Mota e aos jardins do Palácio de Cristal na última sexta-feita.

As muitas camionetas que entravam no local revelaram a adesão em massa das escolas à iniciativa, sendo que a esmagadora maioria eram crianças, jovens e respetivos professores. Ainda assim, com entrada gratuita para todos, curiosos do público em geral juntaram-se para celebrar a ciência que se faz na região e para testemunhar uma aproximação entre a ciência e os cidadãos.

Os muitos investigadores e centros de Investigação e Desenvolvimento presentes dinamizaram as atividades, despertaram a curiosidade e partilharam o seu conhecimento e experiência com quem por lá passou.

Os mais curiosos esforçavam-se por um lugar na primeira fila para conseguirem ver bem as experiências e ouvir as explicações. E mesmo os que não davam tanta atenção não resistiam a levantar a cabeça de vez em quando para perceber o que tanto cativava os outros.

Ciência no pavilhão e no jardim

As atividades que tiveram lugar no interior do pavilhão Rosa Mota eram destinadas às escolas, do primeiro ciclo até ao secundário, e dividiam-se em quatro áreas: Saúde, Novas tecnologias de informação, Agroalimentar e ambiente e Capital simbólico. Algumas delas ocuparam também os jardins, que estavam acessíveis também ao público em geral.

Na área da Saúde, os participantes aprendiam sobre células e genética, utilizavam o microscópio, experimentavam equipamentos de proteção utilizados em laboratórios, viam e mexiam em peças anatómicas com mais de cem anos, conheciam melhor os vírus, o cérebro, a pele, os reagentes e até ficaram a saber que o açúcar não é todo igual.

“A translação entre o Ensino Superior e o Ensino Secundário, bem como o primeiro, segundo e terceiro ciclos é fundamental para que os estudantes consigam perceber naturalmente a evolução do ensino que vão ter. Este tipo de atividades motiva os estudantes a tentarem procurar mais o conhecimento e a oferta vocacional”, sublinha Bruno Tiago Guimarães, médico e docente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), em declarações ao JPN.

Os pega-monstros da Universidade Lusófona fizeram sucesso. Era vê-los pelo recinto com “as mãos na massa” e a brincarem com as cores. Cândida Manuel, diretora da Faculdade de Engenharia daquela instituição, referiu que o objetivo passa por “cativar os alunos e fazer com que descubram que a ciência pode ser muito divertida.”

Este evento também serviu para algumas entidades fazerem campanhas de divulgação de informação útil como, por exemplo, “sensibilizar as crianças para a notificação de reações adversas a medicamentos. As crianças estão a servir de veículo para transmitir a informação aos mais velhos”, explica Ana Marta, da Unidade Fármacovigilância do Norte e estudante de doutoramento na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Novas tecnologias de informação

Na zona das Tecnologias da Informação, encontramos o desafio: “Vamos ver quem corre mais depressa”. O resultado era um barulho de punhos de um par de estudantes a baterem numa tábua, que de vez em quando tomava conta do pavilhão. Enquanto o faziam, aprendiam sobre os materiais inteligentes. Outros deslumbravam-se com a impressão 3D, braços robóticos, mapeamento de emoções, a tecnologia como vigilante da saúde e até com uma Academia de Código Júnior.

“Estas iniciativas são sempre importantes porque eles conseguem visualizar algumas atividades aplicando conhecimentos que aprendem na escola e conseguem ir mais além, veem coisas diferentes que os podem motivar”, diz Joana Cabral, professora de Biologia e Geologia na Escola Básica e Secundária do Pinheiro de Penafiel.

Agroalimentar e Ambiente

No interior do Rosa Mota havia ainda espaço para brincar com as plantas e os alimentos, transformar óleo vegetal em biodiesel, aprender sobre proteger espécies e o ambiente, fazer papel reciclado e até descobrir que as plantas têm stress.

“Divulgar que é possível fazer ciência, muitas vezes com equipamentos tão simples e não é preciso gastar muito dinheiro para fazer investigação. Perceberem que não é só nas universidades que é possível fazer investigação, em casa também, basta às vezes adequar os equipamentos para o que se quer fazer”, sublinha Maria Cristina Morais, do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Dourto.

Do mesmo centro de investigação, Lav Sharma elogia os estudantes e perspetiva: “Nem todos vão perceber tudo, mas se compreenderem 50% o nosso trabalho está feito, é sobre criar um entusiasmo para com a microbiologia e depois decidirem a sua vocação.”

Ainda do CITAB, Valdemar Carnida reforça que estes momentos de divulgação científica são “uma forma dos alunos do secundário terem um primeiro contacto com o que é feito na investigação, despertar vocações”. “A ciência não está só no laboratório, está no campo, na rua, está em todo o lado”, rematou.

Capital simbólico

A quarta área do pavilhão era dedicada ao Capital simbólico. Pasta de dentes artesanal, material que muda de cor ou que não se estraga, roupa que tem cheiro. Num workshop davam-se uns passos de dança, enquanto ao lado se ensinava a importância da postura e da sincronização e lá fora se descobriam Gelados da Ciência que afinal eram balões.

João Miguel, do primeiro ano da Escola Preparatória de Perafita gostou muito “dos brilhantes que brilhavam no escuro”. “Mudei a cor de uma camisola para azul”, contou ao JPN ao mesmo tempo que admitia, ainda que timidamente, que não quer ser cientista quando for grande.

A Ciência na Biblioteca

A ciência também passou pela biblioteca Almeida Garrett, com a conferência “Rumo ao Norte: Especialização e Crescimento Inteligente”, que foi aberta por Eurico Neves, CEO da inova +, empresa responsável pela organização do evento, e pela vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, Guilhermina Rego. A autarca referiu que este tipo de iniciativas aproxima as universidades, o mercado de trabalho e as indústrias e que se mostram “determinantes para uma sociedade informada e crítica.”

O JPN acabou este dia dedicado à ciência a falar com os principais intervenientes na iniciativa, os alunos.

João Leite, do Colégio Luso-Francês, do curso de Ciências com Biologia, sublinhou que a iniciativa “é interessante porque junta várias escolas”. “Convivemos desta forma. O que nós estamos a fazer aqui é baseado na matéria que nós damos e vendo a prática ficamos mais curiosos e é mais empolgante”, considera. Em relação à escolha para o futuro profissional João admitiu que ao falar com os investigadores podem tirar dúvidas sobre os cursos e aprender com a sua experiência.

Maria Isabel, também do Colégio Luso-Francês, mas do curso de Ciências e Tecnologias admitiu que as atividades são úteis: “Já aprendi mais aqui do que numa sala de aula”, confessou. Queixou-se, contudo, de alguns aspetos de organização do evento, também referidos ao JPN por outros alunos e professores como algo a melhorar nas próximas edições.

Artigo revisto por Filipa Silva