A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) acolheu este fim de semana a segunda edição do Fórum Rádio Independente. As rádios locais e universitárias estiveram no centro do debate de abertura, com o reitor da UP, Sebastião Feyo de Azevedo, a defender a importância do meio radiofónico, sobretudo na “promoção do debate”.
O reitor mostrou-se “totalmente interessado e disponível para apoiar e promover o que possa ser a expansão da rádio universitária”, um meio que abranja toda a academia e não só a Universidade do Porto.
Considerou, contudo, que a “iniciativa” deve ser dos estudantes, não cabendo à universidade ter “uma política direta no assunto”, nomeadamente quando está em causa a obtenção de uma licença para emissão hertziana.
O responsável da UP entende que esse espaço – partindo de um cenário com base na Engenharia Rádio e sem esquecer a sua história – podia ser útil para “promover o debate”, ir à academia buscar o que chamou de “vozes avisadas do futuro” e promover “um sentimento de pertença à academia”.
Filipe Teixeira, coordenador geral da Engenharia Rádio, moderou o debate levantando questões como os modelos de negócio adequados às rádios independentes, os desafios do online para a rádio ou a formação dos jovens no meio radiofónico.
Uma das questões centrais do debate – a ligação das rádios à cidade – ficou por abordar dada a ausência do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, inicialmente prevista. Ficou contudo manifestado o interesse da autarquia em agendar uma reunião para debater as conclusões do encontro.
“Se é uma radio universitária tem de ser financiada pela universidade”
O tópico mais debatido e que gerou menor consenso foi a sustentabilidade das rádios universitárias e locais. Vários modelos de negócio foram “postos em cima da mesa”. Por um lado, defendeu-se a intervenção de instituições como a Reitoria ou as associações.
Jorge Silva, da rádio Manobras, defende que as rádios universitárias devem ter uma frequência e que esse processo deve ser sustentado pela universidade, pela componente formativa dos jovens: “Se é uma radio universitária tem de ser financiada pela universidade. As universidades deviam ter direito a uma frequência porque faz parte da formação dos estudantes”.
Também Luís Mendonça, da Universidade FM, rádio de Vila Real, considera que “as instituições deviam ser as donas da rádio. Se não for assim, as rádios dificilmente vingam”. Esta ideia foi consensual entre os participantes no debate, considerando a mudança de paradigma no modelo de publicidade. “O mercado publicitário já não é o que era, portanto, vai ter de haver alguém que financie as rádios”, justifica Luís.
A autossuficiência das rádios universitárias foi apresentada como alternativa. Através de parcerias ou serviços prestados a instituições, rádios como a Nova Era, Manobras ou Zero, conseguem sobreviver. Sílvia Braga, diretora de programação da rádio Nova Era, afirma que “fazer eventos é a principal fonte de rendimentos” da estação portuense.
“Este é o modelo do futuro”, afirma Jorge Silva, justificando que “a rádio universitária não é financiada pela publicidade, porque não pode ser, mas pode prestar serviços para se financiar”. Nesta ótica, João Bacalhau, da rádio Zero, afirmou que “a rádio para conseguir existir não pode ser só uma radio. Tem de ser mais qualquer coisa”.
Era digital: “não podemos ver como ameaça mas como uma oportunidade”
O meio online veio colocar desafios à difusão da rádio tradicional. Sílvia Braga, refere, no entanto, que estes desafios devem ser encarados como “rampa de lançamento” à globalização da rádio. Segundo a diretora de programação da Nova Era, o número de ouvintes da rádio hertziana tem vindo a diminuir, ao contrário do que acontece no meio online, que constitui o futuro da rádio. “O futuro é o digital”, conclui.
Durante a discussão, Miguel Henriques, em representação da Anacom, a Autoridade Nacional de Comunicações, advertiu para a importância da inovação dos conteúdos, afirmando: “Não nos podemos esquecer duma coisa: a forma de transmissão é irrelevante para as pessoas, tem de haver inovação para que as pessoas mudem”.
“Os jovens têm de experimentar mais, para aprender mais”
Filipe Teixeira considera “interessante ter alunos de diferentes faculdades” na Engenharia Rádio, “porque são pessoas com perspetivas diferentes, que tornam os programas mais interessantes”. A Engenharia Rádio conta com programas de autor feitos por estudantes, que vão desde o humor a debates, transversais a diferentes áreas do conhecimento.
A inovação e irreverência encontra-se nos jovens, mas falta formação, declara Sílvia Braga ao JPN. Apesar de existirem cursos na academia dedicados à comunicação e multimédia, “é difícil encontrar alguém com capacidades”, confidenciou a diretora de programação da Nova Era. Daí salientar a importância das rádios universitárias na formação dos jovens para o mercado de trabalho: “os jovens têm de experimentar mais, errar mais, para aprender mais”.
É pela lacuna na componente formativa que surgem os workshops gratuitos nesta segunda edição do evento. Os workshops ficaram a cargo de profissionais como Pedro Andrade – Rádio Universitária do Minho (RUM), Ana Pedro – Zumbido Studio, Vasco Gomes – Casa da Música, Igor Martins – RTP, Sílvia Braga – Rádio Nova Era. Temas como “redação e reportagem”, “sonoplastia”, “fotografia/vídeo” e “locução” preencheram os dois dias do II Fórum de Rádio Independente.
Das 80 vagas disponíveis, 77 foram preenchidas por jovens que participaram nos workshops promovidos pela Engenharia Rádio e financiados pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ).
Artigo corrigido às 12h00 de 18 de outubro de 2016. O número de vagas disponíveis para os workshops era 80 e não 100 conforme inicialmente referido.
Artigo editado por Filipa Silva