Novembro marca o regresso dos Fingertips aos palcos portugueses de onde estavam ausentes desde 2014. A “Constellation Tour” vai passar por Lisboa (5 de novembro, Espaço Time Out), Porto (25 de novembro, Casa da Música) e Berlim (25 de novembro, DNA), inclui músicas novas já apresentadas no estrangeiro, bem como os temas que tornaram a banda conhecida.

No último ano, a banda esteve em Los Angeles a trabalhar com o produtor Mark Needham. Rui Saraiva explica: “Chegou uma altura do nosso trabalho em que sentimos a necessidade de que alguém exterior à banda nos ajudasse a finalizar. Após alguma investigação, vimos que o Mark tinha trabalhado com bandas que nós gostávamos, como os The Killers e Imagine Dragons. Enviamos a música ‘Out Of Control’ e na altura achamos que seria difícil. Mas ele gostou tanto da música que literalmente fizemos as malas e arrancamos. Queríamos muito ir a Los Angeles, por todo aquele espírito de Hollywood. Lá respira-se arte, cinema, música. Juntou-se o útil ao agradável, o Mark ser de lá, e foi uma experiência fantástica poder trabalhar com alguém com a visão dele.”

Joana justifica o nome da tournée, que se baseia numa frase de Carl Sagan, da década de 80, sobre o facto de as pessoas serem constituídas pelos mesmos átomos das estrelas. “Isto acaba por trazer à ideia a identidade de cada um, e o facto de, tal como as estrelas, cada pessoas ter uma luz própria. E se cada single que vamos lançando é uma estrela, no final o álbum vai ser uma constelação.” O desejo da banda é estender a “Constellation Tour” para mais cidades portuguesas e estrangeiras.

O documentário “Hit The Road”

De Los Angeles, partiram numa expedição criativa pelos cinco continentes: passaram por Xangai, Singapura, Amesterdão, Paris, Sidney e Nova Iorque.

A aventura está plasmada no documentário “Hit The Road” que pretende aproximar a banda dos seus fãs. Joana Gomes, a vocalista, considera o contacto com o público muito importante, até mesmo para o processo de criação musical.  “Sem o nosso público, aquilo que nós fazemos não teria sentido. Estarmos a fazer música para nós no nosso quarto é uma coisa, estarmos a fazer música para dar às pessoas, para que a música faça parte da banda sonora da vida de cada um, é diferente. Interessa-nos muito saber o que as pessoas acham e saber as ambições, dificuldades, a visão do mundo dos fãs dos Fingertips.”

“No fundo, o que nós fizemos foi retratar aquilo que é a nossa vida, os bons e os maus momentos, as alegrias e chatices. Cada vez mais o artista tem de estar disponível para isso. As pessoas gostam de ver, têm uma certa curiosidade. Antigamente havia aquela ideia de que o artista era o intocável, o rockeiro das drogas e rock n’ roll, o grande maluco. Somos pessoas normais, temos uma vida normal, temos família, amigos, fazemos um desporto. Fazemos música porque é aquilo que gostamos de fazer”, acrescenta Rui.

Os Fingertips têm ainda um passatempo a decorrer que vai levar dois fãs com a banda a Berlim.

A música lá fora

Nesta digressão, os Fingertips tiveram a oportunidade de visitar e conhecer locais muito diferentes ao nível cultural. O JPN quis saber como é ser artista lá fora e quais são as maiores diferenças em relação a Portugal.

Joana começa por dizer que acredita que em Portugal se valoriza a cultura, nomeadamente, a música, mas que nem sempre se compreende o que os artistas tentam comunicar. Há ainda o sacríficio do setor sempre que as finanças apertam. “Quando há uma crise, a primeira coisa onde as pessoas cortam é na cultura. Acho que a classe política, que tem o poder de decisão, não está consciente que a cultura é muito importante para o desenvolvimento do país e até pode gerar muitas receitas. Podemos ver, por exemplo, pelos U2, que interferem no PIB da Irlanda. E a música em Inglaterra também representa um grande valor para o país. Temos exemplos na Ásia, na China, em que as salas estão sempre cheias e às vezes nem conhecem os artistas”, desabafa Rui Saraiva. Joana realça o facto de na Ásia haver muita procura e curiosidade por tudo o que venha do Ocidente.

Rui diz estar descontente em relação à forma como os media divulgam a música no nosso país. “É uma questão de hábito, as pessoas habituam-se a ouvir ou a ler só as coisas que lhes dão. Na televisão, por exemplo, não temos nos canais generalistas um programa que seja direcionado para a música, como vemos por exemplo nos Estados Unidos, em que as bandas vão tocar ao vivo. Vemos os programas sempre com a mesma área musical como se só houvesse aquilo.”

Aliás, o que nós nos apercebemos é que vivemos numa altura em que temos acesso a quase tudo, mas somos bombardeados sempre pela mesma coisa. Em vez do nosso leque de oportunidades se estar a abrir, tem tendência para afunilar. A cultura acaba por ser a identidade de um país, é aquilo que identifica um país e o diferencia perante os outros”, acrescenta a jovem vocalista.

A história da banda

Em 2010, o vocalista e co-fundador da banda, Zé Manel, decidiu abandonar o grupo. Os restantes elementos decidiram, por sua vez, juntar-se à RFM e fazer um casting para escolher a nova voz dos Fingertips. “Foi um risco aquilo que nós fizemos, continuar com a banda e lançar o desafio de ir à procura de uma voz. Tivemos a sorte de andar por todo o país e encontrar a Joana e como ela era fã da banda tudo se tornou mais fácil”, confessa Rui.

Joana afirma que ter estado no papel de fã foi crucial para o lugar que assumiu na banda: “Acaba por ser bastante engraçado alguém que já era fã e conhecia todo o trajeto da banda acabar por integrá-la. Primeiro, o carinho com que entrei na banda foi muito especial. Em segundo, ao longo do processo criativo, em determinados momentos consigo ainda pôr-me na perspetiva de fã e isso acaba por ser bom.”

“A equipa tornou-se mais reduzida, mas mais coesa e forte. A Joana compreendeu o que era o objetivo da banda para o futuro. Viajar pelo mundo era já um desejo nosso desde há muitos anos e acho que encontramos a pessoa certa para embarcar nessa aventura”, diz Rui.

Rui acrescenta: “Mudar o vocalista é sempre o mais complicado, porque é a cara da banda. Mas cada vez mais, pelo mundo todo, vemos isso a acontecer. O projeto é muito mais do que uma voz, uma pessoa. Que é identificativo, é, mas há pessoas envolvidas que trabalharam durante muitos anos por um objectivo e não podemos simplesmente abandonar tudo. Há pessoas que nem sabiam que os Fingertips existiam que agora ouvem as canções mais recentes e gostam. E só mais tarde vão a descobrir que a banda tem uma história mais longa.”

Rui Saraiva admite que atualmente é mais complicado alcançar o público: “Cada vez mais é mais fácil comunicar. Temos tudo disponível, mas torna-se difícil chegar às pessoas, não é fácil conseguir furar. Há 15 anos quando lançávamos uma música sabíamos que ela ia para todo o lado, havia programas de rádio, de televisão. Agora há centenas ou milhares todos os dias a tentar destacar-se. Por um lado é mais fácil, estamos aqui a comunicar com o mundo através de um clique, mas como nós, existem milhões.”

Artigo editado por Filipa Silva