No passado domingo, pelas 10h30, o parque de estacionamento Silo Auto foi o ponto de encontro para o início do passeio promovido pela PortoLazer e orientado por Tiago, artista urbano. Esta foi a primeira de um conjunto de oito viagens – duas por domingo – inseridas na iniciativa “Up Street Stop & Go” que promete dar a conhecer a arte urbana da cidade do Porto aos interessados. Apesar da chuva, do vento e do frio, 15 pessoas saíram a bordo de três tuk-tuk’s para conhecerem, fotografarem e contemplarem as paredes por muitos desconhecidas.

Catarina Névoa, uma das condutoras de tuk-tuk, com 22 anos e licenciada em turismo, considera que estes eventos apresentam várias vantagens: “Estamos a ajudar o ambiente porque [o tuk-tuk] é elétrico. E estamos a fazer uma coisa extremamente interessante que é dar a conhecer às pessoas pormenores que nunca repararam.” Para Catarina, “há que ser primeiro turista no próprio país e só depois explorar o resto”. “Acho que podíamos dar mais valor ao que temos”, considera.

Também Fátima Rodrigues, Cristina Ferreirinha, Ana Vale e António Costa, um grupo de quatro amigos que já tem por hábito inscrever-se em atividades portuenses, são da opinião de que estas iniciativas servem para “ver o que o Porto tem de mais lindo e é desconhecido”. Outro dos participantes, Nuno Costa, afirmou que “nunca tinha andado de tuk-tuk”, por isso, este programa despertou-lhe “curiosidade para conhecer melhor a arte urbana no Porto e os pormenores que nunca tinha reparado.”

O primeiro circuito, das 10h30 às 13h00, deu a oportunidade aos participantes de ver de perto expressões artísticas por muitos desconhecidas. Os percursos distribuíram-se por 11 locais, onde se contemplaram trabalhos de Júlio Dolbeth, Rui Vitorino Santos, Hazul, Mr Dheo, Mots, Mesk e Fedor, Pedro Cabrita Reis, Costa, Miguel Januário, Bruno Lisboa, Peri, Lara Luís, Daniel Eime e Frederico Draw.

O ponto inicial de paragem foi o parque de estacionamento, Silo Auto, onde Júlio Dolbeth e Rui Vitorino Santos foram os anfitriões, com o trabalho “Há coisas no hall: 7 pisos, 7 ilustrações”. Nos sete pisos de escadaria pudemos contemplar dois tipos de linguagem e interação entre os dois artistas. Um projeto inaugurado no NOS em d’Bandada e que está em mutação.

O Mural da Trindade foi o segundo local visitado. Aqui, Hazul e Mr. Dheo deram as boas-vindas com dois contrastes bastantes importantes, já que foram dois projetos que serviram como ponto de partida para as iniciativas que a autarquia tem vindo a desenvolver.

Trindade

Trindade Foto: Inês Ramos Henriques

A Fachada do Teatro Carlos Alberto é uma composição recente de Martinha Maia que faz lembrar todas as pessoas que existem na cidade.

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Apesar da chuva, o percurso continuou. O tuk-tuk de Catarina aconchegou os participantes e levou-os sobre rodas até à próxima paragem. Na Rua Diogo Brandão é-nos apresentado um dos murais mais icónicos da cidade. No formato e dimensões que ostenta, é o primeiro mural legal da cidade, pintado por três artistas: Mots, Mesk e Fedor. Apesar de não ter nome, a temática está presente: uma alusão à história de D. Quixote e Sancho Pança.

rua_diogo-brandaoA Rua Miguel Bombarda premeia quem lá passa. Uma das peças mais recentes promovidas pela Porto Lazer, de Pedro Cabrita Reis, e que vem na sequência do trabalho que o artista tem vindo a desenvolver. Uma peça que passa quase despercebida, mas que tem tanto de diferente, como de artística. Não se inserindo de forma direta na Street Art, esta é um exemplo de como reaproveitar um espaço. À noite, quem lá passa, pode ver a peça iluminada.

Rua de Miguel Bombarda

Rua de Miguel Bombarda Foto: Inês Ramos Henriques

Voltamo-nos para a esquerda, e Hazul e Costa voltam a deslumbrar. Mais um projeto icónico da cidade: o coração. Feita a apresentação, os olhos dos participantes sorriem, já que este mural foi feito de forma ilegal. E, para surpresa de todos, permanece ali há alguns anos.
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A chuva continua, mas a viagem também. Agora até à Rua da Restauração, onde nomes como Bruno Lisboa (Fome), Peri e Lara Luís são os pontos fortes. O Mural Coletivo de Arte Urbana leva dois anos e tem abertas candidaturas a quem tiver arte na ponta dos dedos.

O tuk-tuk azul continua a viagem. No caminho pode ouvir-se o silêncio dos olhares deslumbrados pelas paredes da cidade. Na Rua Nova da Alfândega, Daniel Eime é o contemplado. Uma personagem por ele idealizada que representa a zona histórica e as pessoas do Porto deixa Cristina, António, Fátima e Ana deslumbrados. É tempo de pegar nos telemóveis, fazer clique na câmara fotográfica e deixar os olhos falarem por si.

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Rua Nova da Alfândega Foto: Inês Ramos Henriques

O percurso segue em destino a São Bento. Na Rua da Madeira, Miguel Januário pode-se orgulhar do mural concebido “Quem és Porto?”. Este foi um projeto no âmbito do Locomotiva que a Porto Lazer promoveu. Diferente de todos os outros, este trabalho foi construído por diversas pessoas durante vários meses em workshops na estação de São Bento e no edifício AXA. Quem teve a oportunidade de participar, pôde criar o seu próprio azulejo e deixar a sua mensagem.

Ainda na mesma rua, o stencil predomina: colam o papel, pintam e depois retiram-no. Ou então deixam que a natureza se envolva. A chuva, o vento, o sol tratam de acabar o que Miguel Januário começou.

Avenida Vímara Peres

Avenida Vímara Peres Foto: Inês Ramos Henriques

O passeio termina na Avenida Vímara Peres, na Ponte Luís I, com a obra de Frederico Draw. Aqui o An.Fi.Tri.Ão, concebido em spray e tinta plástica, transmite a receção calorosa às pessoas que chegam. Posicionado num sítio de eleição, numa das entradas da cidade, o rosto mais velho representa alguém carinhoso e afável que conforta os que por lá passam. Os telemóveis concorrem para captar a melhor fotografia.

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Avenida Vímara Peres Foto: Inês Ramos Henriques

De regresso ao ponto de partida, o guia Tiago reconhece que a arte urbana para a cidade do Porto é bastante relevante. “Gradualmente pode atingir um nível muito bom. Não me refiro só ao turismo, mas também a outros níveis. Podemos chegar mais longe. A PortoLazer é a grande responsável por isto neste momento, mas acho que se pode fazer mais e chegar mais longe.”

Os próximos percursos estão agendados para os dias 30 de outubro e 6 e 13 de novembro. Todos os interessados em participar devem enviar um email para [email protected] até às 18 horas de sexta-feira anterior à data do passeio.

Artigo editado por Filipa Silva