Para Adolfo Luxúria Canibal, As crónicas de Manuel António Pina eram verdadeiros “gatilhos para grandes conversas”. Para Suzana Ralha, o autor e jornalista, que faleceu há quatro anos, era como um irmão. Alberto Serra, autor de um documentário sobre Pina, além das facetas de criador, havia a “generosidade e o humor”. Todos juntos, passaram esta quinta-feira à noite, pelos Armazéns do Castelo, da Livraria Lello, para homenagear o poeta.

O evento abriu com a exibição do documentário «Um sítio para pousar a cabeça». Com a duração de 50 minutos, o filme feito por Alberto Serra, para além de ser contado na primeira pessoa, por Manuel António Pina, inclui testemunhos de amigos, familiares e especialistas das obras do autor.

dsc_4238

Alberto Serra | Foto: José Correia

Em entrevista ao JPN, Alberto Serra diz que o documentário mostra as várias facetas de Pina. “O lado de poeta, cronista, escritor de literatura infantil e, por último, a generosidade e humor que todos lhe reconheciam”. O documentário, que foi finalizado dois anos antes da morte de Pina, é importante, “independentemente da qualidade ou do valor histórico, uma vez que, o grande objetivo era registar a memória daquele homem, ou seja, uma figura raríssima, de uma enorme inteligência e ímpar do ponto de vista da generosidade humana”.

Já sobre a oportunidade de ser o orador do evento que marca os quatro anos da morte do cronista, Serra afirma que, por um lado, foi uma emoção muito grande, “uma vez que é tudo ainda muito fresco e ainda há um sentimento de perda muito grande”. Por outro lado, considerou que o diálogo com as pessoas que tiveram mais ou menos contacto com Pina foi importante, porque “permitiu constatar o enorme amor que ainda existe àquele homem”.

Conversa sobre como «Pensar de Pernas para o Ar»

«O País das Pessoas de Pernas para o Ar» foi um livro escrito por Pina em 1973. Esta parte do evento contou com a participação da programadora cultural, Suzana Ralha  e o vocalista dos Mão Morta, Adolfo Luxúria Canibal.

Manuel de Sousa, um dos responsáveis pelo Marketing e Comunicação da Livraria Lello, falou sobre a organização.  Em entrevista ao JPN, referiu que “convidar duas pessoas que, nas suas vidas profissionais, pensam, permanentemente, fora do sistema”, pareceu-lhes “uma estratégia bem delineada, já que o tema era ‘Pensar de Pernas para o Ar’.”

dsc_4179

Alberto Serra com Suzana Ralha e Adolfo Luxúria Canibal | Foto: José Correia

Suzana Ralha, para além de ser programadora cultural, integra, também, o «Bando dos Gambozinos» e é autora de «A Casa do Silêncio». Relatou, aos presentes, algumas das histórias que passou ao lado do cronista e confessa que, como professora, gosta muito de trabalhar a obra de Manuel António Pina. Para a programadora, o jornalista era como um irmão, de quem sente muitas saudades. Sobre “Pensar de Pernas para o Ar”, Suzana Ralha considera que, muitas vezes, isso é o mesmo que pensar com os pés no chão.

Adolfo Luxúria Canibal, outro comentador convidado, para além de letrista e vocalista do grupo Mão Morta, é, também, jurista. Começou por contar as experiências que teve com o escritor, mas confessou que teve pouco contacto pessoal com Manuel António Pina. Revela que considerava as suas crónicas extraordinárias e confessa que Pina era “gatilho para o início de grandes conversas, sobre a realidade e a atualidade, com as mais variadas pessoas”. “O Pina é, nesse mundo de pernas para o ar, que está. Não está no universo dos habituais premiados do prémio Pessoa. São, efetivamente, pesos pesados do academismo. Pina não é nem nunca o foi”, observou Adolfo.

Aurelino Costa

Aurelino Costa | Foto: José Correia

Participação do público e surpresa inesperada

No tributo ao escritor foi também lido um excerto do livro “O País das Pessoas de Pernas para o Ar”.

Para além disso, foi dada a oportunidade do público de partilhar opiniões sobre o  jornalista e sobre o livro em causa. Foi o caso de Aurelino Costa, advogado, poeta e declamador, que fez questão de ler um poema, como forma de homenagear o seu amigo.

Houve ainda tempo para uma surpresa: a exibição da curta-metragem “A Cabeça no Ar ou o Ar na Cabeça”, de Mariana Figueiroa, filmada em Super 8 e que estreou no início da semana no Douro Film Festival.

Armazéns do Castelo

Armazéns do Castelo | Foto: José Correia

O evento, programado pela “Bairro dos Livros”, foi o primeiro evento do género a decorrer nos Armazéns do Castelo. “Trata-se de um espaço que está em transformação e que vai ser alargado no futuro” garantiu Manuel de Sousa, da Lello, que promete mais sessões, tertúlias e debates para o próximo ano.