A eleição está assegurada e os parabéns chegam de todo o lado, mesmo com reservas. Incluindo da Casa Branca, de onde Obama já mandou cumprimentos e convidou o presidente eleito, Donald Trump, a fazer uma visita à casa do Presidente dos Estados Unidos na próxima quinta-feira.

Será o mesmo cargo, a mesma residência, mas muito do trabalho ali desenvolvido ao longo dos últimos oito anos pela administração Obama, está em vias de revisão ou remoção.

Em finais de outubro, Donald Trump apresentou em Gettysburg, na Pensilvânia, o seu contrato com o eleitor americano – “Donald Trump’s Contract with the American Voter” – no qual elenca um conjunto de 18 medidas e 10 grandes iniciativas legislativas nas quais promete começar a trabalhar no primeiro dia de mandato na Casa Branca, que será a 20 de janeiro do próximo ano.

Governação

O contrato, com espaço para assinatura do virtual eleitor, começa com seis medidas que visam “limpar a corrupção e os interesses instalados em Washington”, capital política do território americano. Quer, por exemplo, propor uma emenda constitucional para impor limites à duração dos mandatos dos membros do Congresso. Propõe também proibir durante cinco anos os membros do Congresso e da Casa Branca de se tornarem lóbistas depois de deixarem funções.

Economia

Já para “proteger” os trabalhadores americanos, Trump promete renegociar ou abandonar o acordo da NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio); propõe a saída do TPP (Trans-Pacific Partnership) e a catalogação da China como “um manipulador de moeda”; Promete ainda levantar o embargo de Obama ao oleoduto Keystone, um projeto de oleoduto gigante entre  o Canadá e os Estados Unidos e ainda “cancelar o pagamento de milhões aos programas das Nações Unidas sobre alterações climáticas” usando esse dinheiro para concertar os problemas da água e das infraestruturas ambientais dos Estados Unidos.

Segurança e Imigração ilegal

Donald Trump compromete-se também, no capítulo do restauro da segurança, a reverter toda a ação executiva, memorandos ou determinações “inconstitucionais” de Barack Obama, iniciar o processo de retirada “de mais de dois milhões de imigrantes ilegais” do país, cancelando vistos aos países estrangeiros que não aceitem a sua deportação.

Com o Congresso

O agora presidente eleito menciona ainda no contrato um conjunto de medidas legislativas que promete trabalhar com o Congresso.

Trump quer um plano que leve a economia americana a crescer 4% ao ano e à criação de 25 milhões de empregos, através de uma diminuição dos impostos, simplificação burocrática, em conjunto com uma reforma no comércio, um alívio regulatório e um levantamento das restrições ao nível da exploração energética.

A isto junta a promessa de baixar os impostos às famílias de classe média com pelo menos dois filhos em 35% e, às empresas, um corte de 35 para 15% nos impostos.

No plano da Educação, o magnata quer menos estado central. Garante redirecionar o dinheiro para os pais dando-lhes poder de escolha sobre que tipo de escola pretendem para os seus filhos. Quer as comunidades locais a supervisionar o setor, mais ensino técnico e vocacional e estudos superiores mais acessíveis.

O Obamacare – a reforma do sistema de saúde norte-americano que visou torná-lo mais acessíveis a mais pessoas e que é uma das bandeira do mandato de Obama – é para ser substituído, nas intenções de Trump.

A imigração, já se sabe, é um dos temas mais sensíveis. O candidato não se cansou, aliás, de fazer uma ligação entre um combate mais feroz à imigração ilegal e o aumento do número de empregos e a melhorar dos salários.

Além da construção do célebre muro “impenetrável” na fronteira sul dos Estados Unidos, cuja fatura Donald Trump promete apresentar ao México, o agora presidente eleito quer ainda que seja legislada uma pena de dois anos de prisão para quem reincida numa entrada ilegal nos EUA depois de ter sido deportado, pena que seria de cinco anos para aqueles que, além da reincidência, tenham sido condenados por crimes.

Na Defesa, o candidato promete expandir frotas e contingentes aumentando o investimento no setor de forma a ampliar o poderio militar dos Estados Unidos.

Em resumo, Trump sublinha três vetores para a sua ação: prosperidade económica, segurança para as comunidades e mais transparência na governação.

Do documentos não constam referências a matérias relevantes e polémicas de que são exemplo as restrições ao porte de armas – o discurso de Trump tem sido favorável a uma maior liberdade de porte e uso de armas –, à entrada de refugiados no país e, ainda mais especificamente, de muçulmanos – foram vários os comentário controversos de Trump nesta matéria na sequência de ataques como o de Paris ou de San Bernardino – e ainda em questões como o aborto, sobre a qual Trump já assumiu diferentes posições.

Outra das grandes dúvidas prende-se com o caminho a seguir em matéria de política externa, nomeadamente em relação à Síria e ao Médio Oriente em geral. “Derrotar o ISIS” [acrónimo inglês que designa o Estado Islâmico], foi uma promessa largas vezes repetida, mas a estratégia para lá chegar esteve longe de ser discutida.