“A Vida de Galileu” explora a forma como o “pai” da ciência moderna, Galileu Galilei, encarou a sua descoberta, ao demonstrar que a Terra gira à volta do Sol. Na história, que vai estar em cena no Teatro do Bolhão a partir desta sexta-feira e até 3 de dezembro, Galileu é confrontado com a Santa Inquisição e nega publicamente a sua conquista tecnológica.
O drama de Brecht coloca questões que permanecem atuais como é o caso das implicações da utilização da ciência e da relação do cientista com a sociedade. Depois de Galileu usar o telescópio, chamada na peça de teatro como “a tal coisa”, apontado para o céu noturno, é confrontado, pelo seu discípulo, com a questão: “Onde está Deus?”. Contrariando a teoria da Igreja Católica de que a Terra é o centro do Universo, Galileu vê-se numa encruzilhada entre a Ciência e a Religião. “Pensar é um dos maiores prazeres da raça humana”, é um dos preceitos defendidos pela personagem principal da trama.
Os heróis também são homens
António Capelo revelou, no final do ensaio de imprensa, que decorreu esta quarta-feira, que o mais fascinante na personagem de Galileu é a sua humanidade. “Galileu não é pintado como um herói, Brecht trata-o como um ser humano”, afirma o ator. O que nos leva, aliás, à ideia-chave da peça: “Infeliz o povo que necessita de heróis”.
O autor da peça apresenta Galileu como um homem comum que nega a sua descoberta publicamente, por ter medo dos instrumentos de tortura. Por outro lado, ao longo da trama, Galileu vai tendo muitos registos dentro do universo teatral: “há bocadinhos de comédia, há bocadinhos de drama, há bocadinhos de quase melodrama ou até tragédia. Este aglomerar de registos é sempre muito interessante para o ator”, confessa.
O ator e formador não deixou de parte a intemporalidade da obra e lembrou a necessidade de repensar a atualidade. António Capelo notou que a época em que Brecht escreveu a sua versão inglesa remonta à descoberta da bomba atómica. Dado o estado corrente das relações internacionais, “A Vida de Galileu” volta a estar atual. “A nossa vida enquanto civilização pode estar a ser posta em causa. Talvez por isso, seja dada uma dimensão mais trágica à peça”, conta o ator.
“Voltar a Brecht é sempre gratificante”
Todos os jovens que entram no espetáculo foram alunos de António Capelo na Academia Contemporânea do Espectáculo (ACE). Há nesta peça uma “passagem de testemunho”, tal como existe um legado que Galileu deixou ao seu discípulo. António Capelo mostra-se satisfeito por poder partilhar o palco com os seus alunos. “Há uma vida em comum com Galileu que podemos aqui trazer para o palco”, afirma. O formador reforça ainda o papel da “formação que tem necessariamente que estar ligada à produção. Só assim se consegue dar sentido ao projeto, num todo”.
António Capelo entende que um dos desafios para a companhia foi, em primeiro lugar, entender o universo de Brecht. O ator escreveu a versão dramatúrgica do texto do espetáculo, mantendo alguma da poesia de Brecht. “O teatro também é poesia”, realça. Por outro lado, considera como maior desafio para todos os atores a aproximação à personagem. “É o ator que veste a personagem e esse é sempre o lado mais complicado e o grande desafio. Saber aquilo que podemos dar de nós mesmos à própria personagem”, esclarece António Capelo.
O Teatro do Bolhão e a ACE
O Teatro do Bolhão trabalha em parceria com a Academia Contemporânea do Espectáculo. O teatro foi fundado em 2002, no Palácio do Bolhão, tendo como um dos fundadores e diretores artísticos António Capelo. A partir daí começou a trabalhar com a ACE que conta com 25 anos de existência. A companhia mantém uma ligação com os seus alunos, trabalhando com eles nos seus espectáculos.
O projeto da companhia passa pela divulgação da dramaturgia universal. O grande objetivo deste projeto é a formação de públicos. “Trabalhar com os jovens é, por isso, muito importante uma vez que eles são o futuro”, conclui António Capelo.
O espetáculo “A Vida de galileu” está em cena de quarta (19h00) a domingo (16h00) até ao dia 3 de dezembro. De quinta a sábado, o espetáculo decorre às 21h30. O preço dos bilhetes oscila entre os 4 euros (grupos) e os 10 euros. Para estudantes, o preço é de 6 euros.