É novembro, a noite está agradável, mas os casacos de pelo são já indispensáveis. O relógio marca as 21h10. As portas do Coliseu do Porto abrem de par em par. As pessoas vão entrando, alegres. Vê-se nas caras e nos sorrisos que esboçam.

Faltam agora cinco minutos para Cuca Roseta subir ao palco e a sala de espetáculos já se encontra bem composta. Sente-se a azáfama natural de quem procura o lugar inscrito no bilhete. Felizmente, há sempre um membro da organização por perto que ajuda quem parece desorientado.

São 21h36. O Coliseu fica a meia-luz. Um minuto mais tarde, ouve-se uma voz, por entre o silêncio que já se fazia, anunciar à plateia a entrada no mundo de Cuca Roseta. Além de explorarmos os três discos da cantora, vamos mergulhar na pintura e no amor pelas artes marciais, nomeadamente o taekwondo.

De seguida, soam os primeiros aplausos e abrem-se as cortinas. O primeiro momento é de dança. Quatro bailarinos em palco. Após alguns passos, entra em palco a estrela da noite. De sorriso no rosto, Cuca Roseta sobe ao palco, acompanhada de quatro bailarinas. Fatos negros e saias vermelhas. O ritmo é frenético.

Terminada a coreografia, sai do palco e regressa uns segundos depois. As luzes acendem-se e, vestida de negro, inicia a capella, “A Rua do Capelão”.

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São 21h47. A primeira canção acaba e Cuca fala ao público. É a primeira vez que atua no Coliseu do Porto. A cantora agradece a todos por terem vindo. As pessoas não sabem as surpresas que lhes estão reservadas. Mas Cuca mal sabe que também há quem a vá surpreender.

Começa “Homem Português” e os tons vermelhos da bandeira nacional percorrem as cortinas. Três minutos depois ouve-se “Nos Teus Braços”. Cuca segue a música à letra e estende os braços ao público.

Com letra de um dos seus poetas favoritos, Vinicius de Moraes, “Saudades de Brasil em Portugal” começa a ser cantada. De seguida, “A Marcha de Santo António” leva o público ao rubro.

“Fado da Vaidade”, com letra de uma das suas poetisas favoritas, Florbela Espanca, é a música que se segue.

Ouviu-se ainda “Fado Inverno”, com Cuca Roseta à viola, e “Fado dos Sentidos”, uma música sobre esperança, coragem e sobre seguir os sonhos sem medo. Inspirada na arte marcial que pratica, a música é também uma introdução à demonstração do taekwondo ao ritmo de uma guitarrada.

Pouco tempo depois e de vestido diferente, Cuca volta a cantar. Desta vez ecoa pelo Coliseu o tema “Riû”, que inspirou o nome do último álbum da artista.

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Depois de rir, é a vez de “Fado Fé” que antecede uma das músicas favoritas da artista, “Verdes São Os Campos”. O poema de Luís Vaz de Camões musicado por Zeca Afonso, elevam o espírito português na sala. As cortinas estão cobertas de tons esverdeados.

Durante a performance, três pares de bailarinos interagem com a plateia, subindo ao palco com graciosidade. Cuca junta-se a um outro bailarino, ficando quatro pares em palco. São já 22h30 e a música termina com a fadista ao colo dos bailarinos.

Não se perde tempo e ouve-se “Ser e Cor”. Canta-se a forma como vemos o mundo quando temos mais paz de espírito.

“Aceito”, disse a artista

Em seguida, apagam-se todas as luzes, exceto a de Cuca, que iluminada se senta ao piano. A melodia da canção não fazia adivinhar aquela que viria a ser a maior surpresa da noite.

O marido da fadista, João Lapa, chama-a ao lado esquerdo do palco e é então que lhe coloca uma aliança no dedo. Casados pelo civil, será tempo de cumprirem um outro desejo, o de uma cerimónia religiosa.

Depois de cantar “Estranha Forma de Vida”, Cuca sai do palco para mais uma muda de roupa, enquanto a audiência desfruta de uma guitarrada. Uma ou outra pessoa aplaude de pé.

Faltam menos de 10 minutos para as 23h00. O público está ao rubro e desvenda-se pela primeira vez a cortina que cobria a orquestra dos membros da Guarda Nacional Republicana. Quando regressa, Cuca enverga um vestido vermelho e canta “Fado da Entrega”.

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Ouve-se um cover de “Porto Sentido” de Rui Veloso, que deixa o auditório ainda mais emocionado. A música sobre a Invicta parece abraçar os portuenses.

São 23h00 e Cuca desce até aos membros da plateia, sempre de sorriso no rosto. A proximidade ao público é o que faz da fadista uma pessoa tão querida pelos fãs.

Cuca Roseta faz uma vénia ao público e diz que a noite será lembrada para sempre. É a primeira vez que atua no Coliseu, um sonho de criança. Admite apenas que não esperava ter sido pedida em casamento. Agradece ao seu “Amor Ladrão”, tema que se segue.

A música é acompanhada pelos bailarinos e, de repente, o Coliseu vê-se submerso no seu videoclipe.

Depois ouve-se “Foi Deus”. Quando termina, Cuca agradece e o espetáculo parece que chegou ao fim.

Parece porque ainda houve tempo para um “encore” com “Marcha da Esperança”. Vários marchantes, em conjunto com os bailarinos e os membros da equipa de taekwondo, sobem ao palco, atravessando primeiro a plateia. Acontece uma explosão de confettis e a fadista agradece a toda a equipa e ao seu público.

Com aplausos em pé, termina enfim uma noite mágica, repleta de surpresas. Há uma certeza: Cuca pertence ao fado e ao público que tanto acarinha.

 

Artigo editado por Filipa Silva