A Google vai financiar o desenvolvimento de seis projetos de jornalismo digital em Portugal, em resultado da segunda ronda de financiamento da Digital News Iniciative Innovation. O JPN foi um dos meios escolhidos pela empresa norte-americana. Foram contemplados dois grandes projetos e quatro protótipos, inserindo-se nesta categoria a proposta do JPN.
Para o país vai ser canalizado um valor que ronda os 1,6 milhões de euros. Quase 90% do valor vai para os grandes projetos. Um é do jornal Público (500 mil euros), junta 14 meios de comunicação regionais e tem por objetivo dar mais peso e conferir sustentabilidade ao jornalismo local. Chama-se “Cidades”.
A grande fatia do bolo fica com a Plataforma de Meios Privados – que junta seis grupos mediáticos, a Impresa, Media Capital, Global Media, Cofina, Público e Renascença. O projeto colaborativo, batizado de “NONIO”, tem em vista a criação de um sistema de processamento de dados e criação de perfis dos leitores no meio digital tendo em vista melhorar a publicidade e o conteúdo.
A “abordagem colaborativa” foi preponderante nesta ronda. O impacto, a inovação e a viabilidade das soluções propostas são os aspetos-chave da avaliação, mas o espírito cooperativo foi particularmente tido em conta, como mostra a escolha dos grandes projetos portugueses. Aliás, entre os 30 grandes projetos selecionados, 15 são colaborativos, como nota a Google.
JPN quer melhorar fluxo noticioso na área da Ciência
A iniciativa da Google caucionou quatro protótipos em Portugal. Aquele proposto pelo JPN, tem como objetivo desenvolver ferramentas de prospeção e tratamento de informação dos repositórios científicos das instituições de ensino Superior, com o objetivo último de construir uma base que simplifique para o jornalista ou editor a chegada até à informação e o tratamento dessa informação.
A grande mais-valia para a redação reside na “quantidade de notícias de ciência que passam a estar disponíveis para os jornalistas e editores”, além de representar uma poupança de tempo que pode ser alocada por jornalistas e editores noutras tarefas, descreve Pedro Candeias do Media Innovation Labs, o centro de competências da UP no qual o JPN está integrado.
“Há uma quantidade enorme de investigação que é feita e que simplesmente fica em repositórios até que alguém pegue naquilo por alguma razão”, prossegue o técnico multimédia que dá o exemplo das áreas do desporto ou da bolsa para demonstrar que é possível criar modelos de produção informativa.
Lafuente propõe uma “Taskforce” para as redações
Dos seis projetos portugueses aprovados, dois são de iniciativa individual. Ricardo Lafuente, designer de formação, apaixonado confesso pela área do jornalismo de dados, apresentou um projeto à Google que tem em vista a criação de ferramentas que ajudem as redações quando está em causa o processamento de um grande volume de dados.
“São tarefas que, por norma, para uma pessoa, são extremamente difíceis. O projeto quer dar resposta a esse desafio recorrendo ao ‘crowdsourcing’, ou seja, arranjar forma de espalhar essa tarefa por uma equipa maior ou até por um conjunto de utilizadores que pode vir do público”, explicou ao JPN.
“O jornalismo de investigação é um dos trabalhos mais extensos, mais ingratos e no entanto mais necessários e é exatamente esse caso que o projeto pretende endereçar. Encontrar as ‘agulhas no palheiro’ em grandes volumes de informação em casos em que os computadores são insuficientes”, prossegue.
O co-fundador da agência do Porto do Journalism++, a par da qual se vai desenvolver o projeto, explica que a ideia da “Taskforce” – nome provisório da ferramenta – é que as tarefas sejam apresentadas e que de uma forma muito rápida os utilizadores dessa rede possam responder ao pretendido – identificar quem está numa fotografia por exemplo. Como zelar pela boa informação? “O sistema também comportará uma forma de cruzar as respostas, de entregar as tarefas a várias pessoas para assegurar que não é minada a confiança no sistema.”
Nos projetos individuais, além de Ricardo Lafuente foi também selecionada a proposta de Alberto Pereira que tem por objetivo aproximar os cidadãos da administração pública, nomeadamente local; Da lista, consta ainda o projeto AV360 proposto pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores – Tecnologia e Ciência (INESC TEC). O desenvolvimento de uma ferramenta de anotações sobre vídeo 360º tendo em perspetiva uma compreensão mais clara dos conteúdos imersivos, é o objetivo.
Para todos os protótipos, o financiamento da Google ronda os 50 mil euros. Nesta segunda ronda, a iniciativa recebeu mais de 800 candidaturas, de 265 países, tendo premiado 124 propostas.
Desde a sua abertura, em outubro de 2015, o fundo já distribuiu 51 milhões dos 150 que anunciou. A empresa quer, com esta iniciativa, promover a criação, experimentação e a inovação no espaço mediático digital.