A cultura continua a ser elitista. Fatores como a acessibilidade, o preço ou o próprio desconhecimento limitam o acesso a diversas atividades de cariz cultural. Foi esta a ideia saída do debate “O que é o elitismo na cultura?” promovido pela Acesso Cultura, esta terça-feira. Falou-se do mesmo e ao mesmo tempo em Évora, Faro, Lisboa e Porto. A temática foi discutida por representantes de instituições e projetos cujo objetivo passa precisamente por quebrar barreiras e promover a inclusão.

A atribuição do Nobel da Literatura ao compositor, cantor e escritor Bob Dylan, contestada por figuras de renome do meio literário, como Lídia Jorge ou Mário Vargas Llosa, reanimaram a discussão em torno do tema.

Museu das Marionetas do Porto, local escolhido para o debate da Acesso Cultura

Museu das Marionetas do Porto, local escolhido para o debate da Acesso Cultura / Foto: Bruna Sousa

No Porto, o local escolhido foi o Museu das Marionetas. O debate de uma hora e meia contou com a presença de Isabel Barros, diretora artística do Museu das Marionetas do Porto, Jorge Prendas, coordenador do Serviço Educativo da Casa da Música, José Maia, diretor artístico do Espaço Mira, Mónica Guerreiro, diretora municipal da Cultura e Ciência da Câmara Municipal do Porto,  Sérgio Lira, museólogo e professor universitário.

A conversa que após discussão entre os convidados foi aberta ao público foi moderada por Cecília Amorim, do Serviço Educativo do Museu dos Transportes e Comunicações.

Cultura para todos

Mónica Guerreiro, diretora municipal da Cultura e Ciência da Câmara Municipal do Porto reafirma a necessidade da Câmara de “criar acesso [à cultura] para a totalidade da população”. Neste âmbito, a responsável destaca o programa Cultura em Expansão, direcionado para residentes do Porto, nomeadamente de “bairros na periferia da cidade e não no seu centro histórico”. A exceção é o bairro da Sé.

A Câmara Municipal do Porto assume-se ativa na promoção da cultura para todos. É esse o objetivo dos espetáculos de dança, cinema, música, teatro e performance levados a estes locais, contando muitas vezes com a participação das populações locais. O projeto OUPA! Cerco é disso um exemplo.

Enquanto diretora artística do Museu das Marionetas do Porto, Isabel Barros revela também esta preocupação de que a arte “esteja mais próxima” e afirma: “Esta questão da elite, para mim, acaba por ser diluída, diariamente, no tipo de trabalho, no tipo de preocupação que nós temos de facto para com para quem trabalhamos.”

Convidados do debate "O que é o elitismo cultural", promovido pela Acesso Cultura

Convidados do debate “O que é o elitismo cultural”, promovido pela Acesso Cultura / Foto: Bruna Sousa

De acordo com a opinião do coordenador do serviço educativo da Casa da Música, Jorge Prendas, o objetivo passa por “encurtar esta distância que existe entre um público, que muitas vezes não teve acesso a formação ou informação” e, no nosso caso da instituição que representa, “a uma música que, por isso mesmo, está muito distante”. O que se pretende, explica, é dotar o maior número de pessoas, “indo a comunidades tão excluídas como, por exemplo, os próprios sem abrigo”,  com ferramentas de audição, através da prática musical. Assim, com projetos como o “Som de Rua” se aproximam as populações da música.

Após o testemunho de todos os convidados, a discussão foi aberta ao público. As opiniões dividiram-se entre a concórdia e a discórdia. Houve até quem defendesse que as instituições como a Casa da Música ao promoverem eventos de inclusão está já a ser preconceituosa.

Curiosamente, no Dia Mundial da Língua Gestual, Cláudia, que trabalha com a comunidade surda, interveio a partir do público para revelar a sua tristeza pelas ainda escassas propostas culturais proporcionadas aos surdos, opinião partilhada pela maior parte dos convidados, embora a Câmara Municipal do Porto esteja a trabalhar nesse sentido, nomeadamente através de récitas em língua gestual nos teatros.

Artigo editado por Filipa Silva

Artigo corrigido às 16h31 de 21 de novembro de 2016.