O docente da Universidade de Amesterdão esteve esta quinta-feira no Congresso Internacional de Ciberjornalismo, na FLUP, a apresentar o seu projeto de investigação mais recente, “Beyond Journalism”.

Professor de Estudos dos Media na Universidade de Amesterdão, Mark Deuze, autor de sete livros e de diversas publicações, esteve esta quinta-feira na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), para a conferência de abertura do #5COBCIBER, 5ºCongresso Internacional de Ciberjornalismo.

O investigador apresentou o seu mais recente projeto: “Beyond Jornalism: Entrepreneurial (Online) Journalism Around the World”, cuja pesquisa está numa fase inicial e que culminará num livro. O trabalho conta com a colaboração de Mirjam Prenger e de Tamara Witschge.

Jornalismo pós-industrial

O investigador reconhece que atualmente existe um novo tipo de jornalismo totalmente distinto do tradicional, o qual designa de jornalismo “pós-industrial”, pautado por formas alternativas aos modelos comuns dos media, novas organizações noticiosas, como coletivos editoriais e startups.

A necessidade de inovar, no sentido do jornalismo pós-industrial, segundo Deuze, é condicionada por diversos fatores. O primeiro fator identificado pelo autor é a insatisfação do público, que não confia nos jornalistas. Em consequência, os jornalistas ficam frustrados e insatisfeitos por terem de tentar contornar a situação e corresponder às expetativas do público. Além disso, são-lhes impostas restrições pelas redações. Mark sublinha que “a indústria noticiosa perdeu flexibilidade”.

Outros dos fatores apontados pelo investigador é a competição entre meios, que obriga as organizações a alterarem os seus métodos, a paixão pela profissão e uma “leitura pura da ideologia do jornalismo”.

A cultura das startups

A amostra do estudo de caso inclui 21 casos em 14 países, entre os quais se destacam, pela maior quantidade de startups, a Holanda e os Estados Unidos.

O investigador holandês fez uma análise ao que estas startups produzem e sustenta que o jornalismo que nelas se faz é realmente diferente, quer em “termos de modelo de negócio, newsgathering, fomatos de storytelling, relação com a audiência e método de distribuição”. Neste modelo de negócio, além de uma maior “preocupação ideológica”, há uma maior liberdade.

O autor sustenta ainda que no caso das startups “não há realmente uma parede [entre o jornalismo e o marketing]” pois as startups “fazem negócio e tentam vender-se a si mesmas”.

O investigador identificou três questões que afetam todas as startups alvo de estudo. São elas a motivação e objetivos dos jornalistas independentes, a precaridade e o “fazer acontecer”.

“Acho que é importante monotorizar o que está a acontecer. Algumas organizações de notícias tradicionais estão a tornar-se startups, por isso, vai ser interessante ver essa evolução, mas ninguém sabe neste momento [em relação ao que está a acontecer]. Essa é a parte assustadora”, acrescenta.

Futuro e caso português

Enquanto docente, Mark Deuze procura incentivar os novos jornalistas a praticar este novo jornalismo, nomeadamente convidando jornalistas de startups ou organizações não tradicionais pois considera que “os estudantes precisam de ser confrontados com pessoas que fazem as coisas de forma diferente e de se apaixonarem por isso. Isso incentiva-os e fá-los querer experimentar.”

No entanto, o orador ainda está a tentar descobrir como se pode fazer esta revolução no jornalismo: “a grande questão é, o que vai acontecer daqui a cinco anos? As startups continuarão? Existirão organizações de media tradicionais?”. O investigador considera que nos próximos anos não assistiremos a mudanças drásticas de paradigma.

No que respeita ao tema central do #5COBCIBER – “Ciberjornalismo 3.0” – para Mark Deuze trata-se de uma combinação de três grandes desafios: “fazer a diferença e ter impacto”, num contexto de perda de credibilidade; “fazer dinheiro” e “manter a paixão pela profissão, apesar de que ser jornalista é muito difícil”.

Quando questionado acerca da situação de Portugal em relação a novas formas de fazer jornalismo, Mark considera que o país tem grande potencial e afirma: “Olhando para esta conferência e para todas as investigações que vão ser apresentadas nos próximos dias, há, realmente, um bom trabalho a ser feito aqui.”

O orador considera os jornalistas os revolucionários da atualidade, na medida em que lhes cabe a responsabilidade de revolta e luta em relação aos problemas do mundo. Deuze declara: “Eu quero que o jornalismo de hoje esteja muito irritado com o mundo. O jornalismo de hoje deve lutar. Os jornalistas são os derradeiros rebeldes.”

Artigo editado por Filipa Silva