Passaram duas décadas desde o lançamento dos primeiros jogos, “Pokémon Red Version” e “Pokémon Blue Version”, em 1996. A “febre Pokémon” ressurgiu este ano com o jogo para smartphones “Pokémon Go” e a Nintendo levou Junichi Masuda, diretor de videojogos da Gamefreak – empresa que programa os jogos Pokémon -, e Shigeru Ohmori, diretor de programação dos mais recentes “Pokémon Sun” e “Pokémon Moon”, à Comic Con Portugal, que decorreu entre quinta-feira e domingo na Exponor.

O JPN esteve, esta sexta-feira, na conferência de imprensa dos criadores japoneses, que vieram ao evento falar sobre o último par de jogos, lançados a 23 de novembro na Europa.

Uma aposta que compensou

Shigeru Ohmori começou a conferência com palavras de surpresa: “Ficamos surpreendidos com a quantidade de pessoas que joga ‘Pokémon Sun’ e ‘Pokémon Moon’”. Os jogos tornaram-se no maior lançamento até ao momento da Nintendo, em território europeu, com mais de 1,5 milhões de cópias vendidas na primeira semana.

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Em 20 anos, a marca cresceu, mas os criadores não esperavam o sucesso que obteve. “Quando começámos, não esperávamos o impacto que teria ao nível mundial”, comentou Junichi Masuda. O diretor de videojogos e compositor das bandas sonoras que acompanham a saga desde o princípio, referiu ainda que a série televisiva “ajudou à popularidade e propagação dos jogos”.

A fórmula foi sempre a mesma. Era o típico jogo Role Playing Game (RPG), na qual o jogador capturava os monstros, batalhava contra outros, percorria a região a derrotar ginásios e vencia a liga. Em 20 anos, não mudou muito, apesar de haver novas regiões e cada vez mais criaturas para capturar.

Mas “Pokémon Sun” e “Pokémon Moon” são o primeiro duo a fugir à tradição da franquia. “Pensámos no que podíamos mudar e queríamos que os novos jogadores e os antigos tivessem a mesma experiência”, explicou Ohmori. “Os ginásios eram algo expectável e, por isso, foram removidos. O objetivo foi dar algo completamente novo a quem joga pela primeira vez, mas também surpreender os jogadores que estão connosco desde 1996”, acrescentou.

As surpresas não terminam aí. Os novos jogos inovaram pela introdução de alguns Pokémon dos primeiros jogos, mas com um design novo. “Como é o nosso vigésimo aniversário, decidimos fazer algo fresco, mas familiar”, explica Ohmori. O diretor deste duo de videojogos explicou que o tema desta região é o Havai.

“Temos Pokémon que vieram da primeira região e que evoluem agora de forma diferente, são variantes regionais do mesmo Pokémon. Foi muito divertido para os designers e, ao mesmo tempo, foi um serviço para os jogadores mais antigos”, explica. Nas palavras de Masuda, os dois novos títulos “voltaram às raízes”.

Estes jogos são também os primeiros a incluir o Chinês e o Chinês tradicional. Junichi Masuda referiu que a diversidade de línguas em que o jogo é vendido ajudou ao sucesso. “É uma evolução, uma necessidade”, explicou. Quando questionado sobre a inclusão do português em jogos futuros, o diretor de videojogos comentou: “Se conhecerem boas pessoas para traduzir do japonês para o português, podem apresentar-nos”.

Um conceito intemporal

catorze_Os títulos principais de Pokémon foram sempre destinados às consolas portáteis da Nintendo. A tecnologia evoluiu, mas o conceito foi sempre o mesmo. Junichi Masuda explicou que não há uma intenção em “transpor os títulos principais para as consolas domésticas”, como a Wii U, porque ia contra a ideologia inicial dos jogos de Pokémon.

“Os jogos ‘Pokémon Red Version’ e ‘Pokémon Blue Version’ eram para o Gameboy e o método de troca era através do cabo. Queríamos que os jogadores saíssem de casa e que conhecessem outras pessoas”, explicou. O programador referiu ainda que “o objetivo foi sempre a conexão entre as pessoas” e que apesar da existência do Wi-Fi, há sempre particularidades implementadas nos jogos a pensar na interação face-a-face: “É algo que estimamos e que queremos promover”.

Para os criadores de “Sun” e “Moon”, o sucesso dos novos videojogos não foi um acaso: “O sucesso de ‘Pokémon Go’ e a reintrodução dos primeiros jogos na ‘Virtual Console’ jogaram com o fator nostálgico e alimentaram o sucesso destes dois”.

Uma realidade ainda por descobrir

Com o aumento da popularidade dos jogos ao nível mundial, uma das preocupações da The Pokémon Company Internacional foi manter os jogadores “agarrados” depois de concluírem o enredo principal do jogo. Para Ohmori, os últimos anos deram uma panóplia de opções aos jogadores: “As pessoas chegam ao fim da estória e têm muito por onde escolher. Podem colecionar os Pokémon todos e isso leva tempo ou podem começar a treinar para os campeonatos mundiais”.

Os Pokémon World Championships são um evento promovido pela “Play! Pokémon”, integrada na The Pokémon Company Internacional, e que explora o lado competitivo da franquia. O evento contempla o jogo de cartas Pokémon e os videojogos e é organizado desde 2004. As recompensas para os lugares mais altos incluem prémios monetários e bolsas de estudo para os jogadores.

Em Portugal, o número de jogadores dedicados aos videojogos profissionais de Pokémon – como acontece com jogos como “League Of Legends” – ainda é reduzido, mas já há lugares de destaque. Eduardo Cunha, natural da cidade do Porto, foi quarto classificado na divisão Masters nos campeonatos mundiais deste ano, realizados em São Francisco.

No final da conferência, Junichi Masuda referiu que o próximo título da saga de videojogos já está a ser pensado. O desafio agora é “inovar”. “Fizemos bastantes inovações com ‘Sun’ e ‘Moon’ e agora temos de encontrar algo que surpreenda os jogadores. Já temos equipas a trabalhar nisso, é um processo contínuo”, acrescentou.

Artigo editado por Filipa Silva