Os Serviços de Ação Social da Universidade do Porto (SASUP) têm um novo diretor, desde o dia 3 de outubro. Manuel Barros substituiu Cristina Jacinto, que saiu no verão depois de menos de dois anos no cargo.

Os SASUP têm um papel fundamental na vertente social da Universidade do Porto. Servem diariamente mais de 30 mil estudantes das 14 faculdades, em quatro grandes áreas: bolsas de estudo, alojamento, alimentação e saúde e bem-estar.

O JPN esteve à conversa com o responsável, para perceber o estado atual dos serviços sociais e quais são os planos do novo diretor.

Em que situação encontrou os SASUP quando tomou posse?
Encontrei uns SASUP bem organizados, com um grande investimento ao nível das instalações e da prestação de serviços aos estudantes. Encontrei-os numa fase de novos e grandes desafios, como, aliás, está toda a nossa universidade, toda a nossa sociedade, todo o nosso país.
Considero que, de momento, a capacidade de resposta dos SASUP é a adequada às necessidades dos nossos estudantes. Ainda assim, nunca estamos satisfeitos com aquilo que temos e, certamente, há ainda muito caminho a percorrer.

Quais foram as maiores dificuldades que encontrou?
A novidade e a dimensão deste serviço. A Universidade do Porto não é só grande na sua notoriedade e no seu prestígio nacional e internacional, é também muito extensa na sua dimensão humana e infraestrutural.
A complexidade da Universidade do Porto reside não só naquilo que tem sido o seu papel ao longo da história, mas também na sua preocupação com a renovação constante, no aumento da sua capacidade de resposta às necessidades do país, e na sua dimensão internacional.
As dificuldades que encontrei são as mesmas do país e da Europa. Os recursos disponíveis não serão aqueles que necessitamos para responder às necessidades existentes e para pormos em prática as nossas ambições.

“Quando queremos ir mais longe, seguramente estamos a assumir que os recursos e a nossa capacidade de resposta atual não são aqueles que desejamos.”

Mas os SASUP não dispõem dos meios necessários para desempenhar as suas tarefas?
Têm. Mas claro que, como disse, a nossa ambição é grande. Quando há ambição, é sinal de que queremos ir mais longe. E quando queremos ir mais longe, seguramente estamos a assumir que os recursos e a nossa capacidade de resposta atual não são aqueles que nós desejamos. Nós temos um princípio fundamental na nossa gestão: o princípio da melhoria contínua. Ou seja, embora satisfeitos, embora dispondo dos meios e das condições para desempenhar a nossa função, estamos sempre focados na nossa melhoria, queremos ser sempre melhores.

Quais são as maiores queixas que os SASUP recebem neste momento?
Num serviço destes, como poderão imaginar, recebemos muitas reclamações. Satisfazer todos da mesma forma não é fácil. Maioritariamente, temos reclamações relativamente à alimentação em algumas das nossas unidades. Mas, de uma forma geral, aquilo que me é dado a conhecer é que a qualidade e a resposta dos nossos serviços são boas. Em alguns casos, até excelentes. E, nesse aspeto, quero fazer um elogio à equipa que trabalha nos SASUP, pela forma como está sempre pronta a responder de forma quotidiana às necessidades e às reclamações dos alunos.

“Este ano, 2016, no total da clínica geral, ginecologia/obstetrícia, psiquiatria, psicologia e nutrição, fizemos 3.416 consultas.”

Com são tratadas essas queixas? Há comunicação com os alunos?
Sim. Um dos papéis fundamentais dos SASUP é potenciar um melhor desempenho dos nossos estudantes, para que eles desenvolvam os melhores resultados académicos. Para isso, temos que ter um equilíbrio, um balancear de condições que permitam que os estudantes se sintam bem, não só dentro das infraestruturas académicas, como também na sua ligação com a cidade. Por isso, sem dúvida, a nossa preocupação central é a proximidade com os estudantes.

Quanto aos serviços de saúde disponibilizados pelos SASUP, qual é a procura por parte dos estudantes?
A procura tem vindo a crescer, e nós queremos responder de forma positiva a essa procura. Este ano, 2016, no total da clínica geral, ginecologia/obstetrícia, psiquiatria, psicologia e nutrição, fizemos 3416 consultas. Se me perguntar: estamos satisfeitos? Claro que não. Queremos ver este número aumentar, mas queremos também desenvolver este serviço em articulação com as outras unidades que compõem a universidade.

Apesar de a procura ser crescente, ela é ainda pequena. Quais serão os motivos da fraca adesão dos estudantes aos serviços médicos? Falta de oferta? Pouca publicidade?
Claro que poderá haver de tudo isso um pouco, mas temos de ter em conta que a procura do serviço de saúde para prevenção é uma questão muito cultural. E eu acho que nós não podemos considerar que há pouca procura. A procura que existe corresponde à necessidade e à própria atitude do estudante. E depois, a grande parte dos estudantes da Universidade do Porto são residentes no distrito ou nas proximidades, recorrendo ao Serviço Nacional de Saúde, ao seu médico de família. Ainda assim, temos consciência de que este é um serviço que tem potencialidades para crescer.

Que medidas é que os SASUP têm para potenciar o aumento da procura?
Estamos a apostar numa melhoria dos serviços e numa otimização da comunicação com os estudantes por todos os meios de comunicação de que a universidade usufrui, incluindo as associações de estudantes.

O JPN tem conhecimento de que a residência Novais Barbosa, localizada na Faculdade Letras, não dispõe de equipamentos básicos necessários nas suas cozinhas, como fogão ou forno. Além disso, segundo o regulamento das residências, é proibida a utilização de qualquer eletrodoméstico não autorizado pela direção dos SASUP. Considera que as residências têm as condições necessárias para as necessidades diárias dos estudantes?
Junto a essa residência, temos uma cantina a funcionar. A primeira forma de responder a esse tipo de necessidades é fazer com que os nossos serviços de alimentação consigam satisfazer as necessidades mais prementes dos estudantes. Claro que os estudantes gostam de ter a sua intimidade e o seu conforto, mas nós termos que ter regras que visem a segurança e a racionalização dos custos de funcionamento das instalações. Ainda assim, seguramente, vamos estudar a situação e encontrar uma solução adequada. Sei que as associações de estudantes já nos alertaram para essa situação, e nós não estamos insensíveis a ela. Teremos de encontrar uma solução equilibrada, sustentável, porque os recursos são escassos.

Estamos em busca de novas formas de alojamento, nomeadamente a desenvolver acordos no contexto da reabilitação urbana, com instituições da cidade”

O número de estudantes que a Universidade do Porto acolhe é cada vez maior e, consequentemente, o número de camas existente torna-se cada vez mais insuficiente. Existirão cerca de mil camas para um universo de 30 mil alunos. Que soluções é que podem ser encontradas para resolver este problema?
Neste momento, estamos a tentar potenciar ao máximo a capacidade das nossas residências e a pensar em novas soluções. Estamos em busca de novas formas de alojamento, nomeadamente a desenvolver acordos no contexto da reabilitação urbana, com instituições da cidade que disponham de instalações que possam vir a ser utilizadas como residências de estudantes. Encontramo-nos também atentos a soluções que estão a surgir da iniciativa privada, que têm criado condições para que seja possível aumentar o parque de residências.

O preço da refeição social tem sofrido um aumento progressivo. Este ano, o preço da refeição na UP aumentou 10 cêntimos, uma subida que não se verificou noutros estabelecimentos públicos de ensino superior. Por que razão é que a Universidade do Porto não manteve o preço?
Isso é uma resposta muito difícil e da minha parte seria extremamente imprudente estar a responder por que razão é que isso acontece. O que nós fizemos foi aplicar a lei, e de momento não queria estar a aprofundar muito isto. A comparabilidade tem a ver com determinados condicionalismos e obrigar-me-ia a entrar em campos que entendo que neste momento não deveria fazer.

As três universidades públicas do Norte, neste momento, detêm 37% das bolsas a nível nacional.”

Um dos problemas no processo de atribuição de bolsas é o tempo que os pedidos demoram a ser analisados. Muitos processos só terminam de ser analisados em dezembro/janeiro, ou mais tarde.
Eu sei, tem razão. Nós também lutamos para que esse tempo se reduza. Sabe que, só para ter uma noção, as três universidades públicas do Norte, neste momento, detêm 37% das bolsas ao nível nacional. Significa que há aqui um trabalho muito bom destas três universidades (Universidade do Porto, Universidade do Minho e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro). Para além disso, temos 53% dos processos de decisão final das universidades portuguesas. Mais de metade dos processos respondidos pertencem a estas três universidades. Temos vindo a pressionar a Direção Geral de Ensino Superior no sentido de que as plataformas onde correm estes processos sejam mais céleres. Muitas vezes, trabalhamos fora de horas para que não haja atrasos na resposta às bolsas de estudo dos estudantes. São muitos os processos, e o problema não está tanto na lentidão dos nossos trabalhadores, das nossas equipas, mas sim nas plataformas, que têm de ser melhoradas. Alguns dos processos são muito delicados, têm de ser muito bem analisados, e a pressa é inimiga da qualidade.

Que planos tem para os SASUP? Quais são os principais objetivos?
Pretendemos manter o trabalho que temos desenvolvido até agora. Queremos apostar cada vez mais na proximidade com os estudantes, uma proximidade inteligente, assumindo as associações de estudantes como verdadeiros parceiros de ação e concertação social e académica; promover a igualdade de oportunidades e a criação de condições para o desenvolvimento das atividades dos estudantes; aumentar e promover a qualidade de vida dos nossos estudantes; otimizar os nossos recursos, quer no contexto global da governação da universidade, quer na melhoria contínua dos nossos serviços e melhorar a ligação à cidade.
Almejamos, de facto, a criar novas respostas, respostas às novas tendências, tanto ao nível da alimentação, como ao nível do alojamento e da saúde.
E claro, quem sabe, no futuro encontrarmos novas áreas de intervenção dos serviços de ação social, porque a sociedade e as suas necessidades estão a mudar.

Pode dar exemplos?
Por exemplo, estamos neste momento a desenvolver a questão do voluntariado. A própria universidade intervir, através dos seus alunos, criando condições e oportunidades para os seus alunos desenvolverem competências tranversais que mais tarde podem ser úteis para a sua integração no mercado de trabalho.

Artigo editado por Filipa Silva