A natureza está na natureza da obra de Sophia de Mello Breyner. Pela sua mão, tanto se deu ao prelo o “Mar” como “A Floresta”. O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, atribui por isso um “sentido de particular coerência e profundidade” à escolha da poetisa para tema central de um evento que tem por morada a Avenida das Tílias.

O anúncio foi feito esta quinta-feira, na Galeria Municipal do Porto, próximo do local onde a feira se vai voltar a instalar, desta vez entre os dias 1 e 17 de setembro.

Tal como Vasco Graça Moura, Agustina Bessa-Luís e Mário Cláudio, os autores homenageados nas três edições anteriores, também Sophia receberá uma tília da avenida onde se realiza o evento.

Miguel Sousa Tavares | Foto: Patrícia Garcia

Miguel Sousa Tavares, filho da escritora, agradeceu: “Considero a escolha profundamente feliz porque acho que entre a minha mãe e a cidade do Porto houve sempre uma grande relação de deve e haver. O Porto tem retrbuído com enorme gratidão aquilo que é a imensa lealdade e amor da minha mãe a esta cidade”, referiu ao lado de Rui Moreira.

Para o jornalista e escritor, a cidade “tem sabido homenagear os seus homens de letras e de artes” o que justifica: “A cultura aqui não é uma moda, não é uma tendência, não é o experimentalismo, não é o politicamente correto, é uma atitude sincera”.

CMP mantém “layout” e dimensão

No certame, vai ser mantida a fórmula usada nos últimos anos. A feira já não é só dos livros mas das muitas artes que com eles comunicam. É “uma espécie de festival literário”, como Miguel Sousa Tavares observou, com uma oferta cultural diversificada.

À volta da obra de Sophia será desenhado um programa de debates – o primeiro, marcado para 2 de setembro, será aberto por Miguel Sousa Tavares –, cinema, música, dança e atividades para famílias e crianças.

Vai ser inaugurada ainda uma exposição no primeiro dia da feira, na Galeria Municipal do Porto, “que se irá ancorar na temática dos elementos naturais e no pensamento de Sophia” e para a qual foram convidados quatro curadores, adiantou Rui Moreira.

Ainda nesta galeria, instalada no interior da Biblioteca Almeida Garrett, vai ser inaugurada no mesmo dia outra exposição, no piso superior, dedicada à vida e à obra de António Nobre, a propósito dos 150 anos do seu nascimento.

“Teremos também um colóquio dedicado a Júlio Dinis e à sua relação com o Porto, no âmbito do programa de debates”, indicou o presidente da CMP.

Quanto ao investimento, será “sensivelmente o mesmo” – a rondar os 75 mil euros -, tal como o número de pavilhões que não vai sofrer alterações: “Chegamos ao limite máximo. Mais pavilhões não permitiriam que as pessoas convivessem com os jardins, com o espaço público”.

Em 2016, a Feira do Livro do Porto bateu um recorde de público desde que é organizada pela CMP: mais de 250 mil espectadores. As condições atmosféricas foram muito favoráveis e por isso Rui Moreira prefere não arriscar previsões para este ano.

A feira mantém-se, então, em setembro, mês em que, referiu o autarca “estatisticamente chove menos do que em junho”. Sousa Tavares também tocou o assunto, mas para dizer que se lembra “da Feira do livro do Porto nos Aliados debaixo de um tremendo calor”.

A escolha de setembro, justificou Moreira, ultrapassa o fator climatérico. “Em finais de maio e junho temos uma grande pressão por causa das festas da cidade, do São João; depois não queremos que seja ao mesmo tempo da Feira do Livro de Lisboa e, finalmente, porque é a época de regresso às aulas, de regresso das famílias ao Porto e porque considero que este jardim é muito mais simpático em setembro do que em junho”, rematou.

À procura de melhorar as condições dos alfarrabistas

Um aspeto que o autarca prometeu rever está relacionado com as condições de venda dos alfarrabistas – no ano passado, 16 marcaram presença. “Queremos que os alfarrabistas continuem e para eles é muito improtanet que os livros possam ser manuseados. Para um alfarrabista, um livro estar num escaparate traseiro não resolve”, considerou.

A Feira do Livro do Porto decorre de 1 a 17 de setembro no Palácio de Cristal. No ano passado, contou com 131 pavilhões. Durante mais de 80 anos, o evento foi realizado pelas associações de editoras. Desde 2014 é organizado pela Câmara Municipal do Porto.