A Marcha das Mulheres começou pouco depois das 15 horas de sábado. À Praça dos Poveiros chegaram homens, mulheres, crianças, casais e grupos de amigos. Consigo, trouxeram mensagens de repúdio contra a misoginia, o sexismo, a xenofobia, o racismo e a precariedade.

Ainda antes do arranque, ouviram-se na praça as intervenções da organização da iniciativa – que decorreu também noutras cidades do país e do mundo, inspiradas na Women’s March on Washington, organizada com a tomada de posse de Donald Trump como mote e o novo presidente dos Estados Unidos como alvo.

No Porto, intervieram ainda várias associações e partidos políticos presentes como o Movimento Anti-Fascista, o Portugal Gay, o Coletivo Clima, o PAN, a Juventude Socialista (JS) e o Bloco de Esquerda.

Logo depois da sua intervenção, José Soeiro, deputado à Assembleia da República pelo Bloco de Esquerda, sublinhou os motivos que o levaram à praça: “É importante vir aqui porque é perigoso quando em cargos de poder estão pessoas que são agressores, que são ‘bullies’, e porque isso significa que, na própria sociedade, se cria uma espécie de ambiente de legitimação deste tipo de comportamentos”, declarou ao JPN.

Uma causa suprapartidária

A Marcha avançou pela Rua de Passos Manuel e dois gorros cor-de-rosa saltam à vista. O gorro cor de rosa é símbolo desta Marcha.

Robin e José contaram que tricotaram os seus próprios gorros para virem à Marcha das Mulheres do Porto, desde Vigo. Ela é americana, ele espanhol, e dizem que não são ativistas porque “isto não é ativismo, é só senso comum”, explica José. Robin é do estado de Vermont, “o estado do Bernie Sanders” e custou-lhe muito saber que os Estados Unidos da América escolheram Trump ao invés do senador democrático seu conterrâneo: “Chorei quando soube que o Bernie Sanders não tinha sido escolhido como o candidato democrata, porque acho que ele teria mais hipóteses de ganhar a Donald Trump”, notou.

Joel Pais é militante da JS e do PS, mas insiste em lembrar que “esta não é uma luta partidária, apesar de ser normal vermos este tipo de causas mais associadas à esquerda”. Joel já participou várias vezes em iniciativas do género e acredita que o machismo é o maior problema: “Acho que as pessoas muitas vezes não percebem que o machismo é a causa dos outros problemas: da misoginia, da xenobia, do racismo… e eu acredito que, desconstruindo o machismo, vamos conseguir desconstruir muitos dos outros preconceitos.”

A Marcha das Mulheres avançou entre gritos e músicas, e até o rufar de tambores, pelas ruas do Porto, até à Praça D. João I, onde dispersou, já perto das 18h00.

“Esta marcha não é só pelas mulheres”

Patrícia Martins tem 28 anos e é uma das organizadoras da iniciativa no Porto. Patrícia aponta o dedo não só a Trump, mas à Europa: “Com o que se passa agora, não só com a eleição de Trump, mas também com o avanço da extrema-direita na Europa, estamos em risco de sofrer retrocessos históricos no que diz respeito aos direitos humanos.”

Fala com dificuldade na respiração, depois de horas a liderar as centenas de manifestantes pelo megafone. “Esta marcha não é só pelas mulheres, é por todos aqueles que, de alguma forma, são discriminados. Seja pela cor da pele, pelo seu país de origem ou pela sua identidade de género.”

Ao todo, estima-se que mais de 60 países tenham aderido à iniciativa. No Porto estiveram entre 400 a 500 pessoas. Em todo o mundo, a estimativa aponta para 3 milhões – a organização fala em mais de 5 milhões.

Artigo editado por Filipa Silva