Rui Xará, conhecido humorista do Norte do país, diz ter sido abordado, em momentos diferentes, pelos quatro rapazes que têm subido ao palco alternativo do Sá da Bandeira todas as quintas-feiras deste mês.

Juntou Luís Gomes, Ricardo Leite, Pedro Pedrosa e João Freitas para o projeto “Indevida Comédia”. Os quatro já fazem “stand up” há alguns anos, em estilos diferentes uns dos outros, e decidiram abrir o ano de 2017 com um projeto que, mais do que um teste aos seus talentos humorísticos e de storytelling, é uma prova de “que sabem o que estão a fazer”, avisa Rui Xará.

Pela última vez, sobem os quatro ao palco esta quinta-feira (26), à vez, com cerca de “20 minutos de material” e um convidado conhecido do circuito do humor nacional.

A primeira sessão do mês, dizem, “correu muitíssimo bem”. A estreia foi no dia 5, com o humorista Paulo Almeida a fazer as honras dos convidados. Nas semanas seguintes e sempre às quintas, Hugo Sousa e Pedro M. Ribeiro acompanharam o grupo. Na última sessão, a “Indevida Comédia” leva ao palco João Seabra. O espetáculo começa às 22h00.

Na sala principal do Sá da Bandeira está montado o cenário de uma revista e por isso o JPN conversou com o grupo nas icónicas cadeiras vermelhas da antiga sala de espetáculos do Porto, que carrega uma forte tradição de espetáculos de humor.

João Freitas chegaria mais tarde, mas a entrevista vai correndo com Luís Gomes, Ricardo Leite, Pedro Pedrosa e ainda Rui Xará, que deixa claro não fazer parte do projeto, porque não atua com os restantes, mas “apadrinha e apoia” o conjunto desde o início.

A ideia que juntou os quatro humoristas portuenses num espetáculo de “stand up” surge da certeza de Rui Xará de que Luís, Ricardo, João e Pedro estão mais do que prontos para o trabalho e da sua vontade de “ajudar a malta mais nova”.

“Somos todos terra a terra”

Luís explica que não é a primeira vez que sobem a um palco para fazerem “stand up”. A diferença é que “iam fazendo, quando o Rui arranjava alguma coisa” mas agora houve a necessidade de “juntar os quatro humoristas menos maus em palco e, na impossibilidade de isso acontecer, estamos aqui nós”.

Pedro diz que é importante trazer a palco um projeto destes, com quatro comediantes em palco à vez, mas em conjunto. Fazem “uns minutos” individualmente, mas um projeto em conjunto tem, obviamente, mais visibilidade. “Os quatro a fazer barulho é totalmente diferente de o fazermos sozinhos”.
Rui Xará desvenda que entram em palco por ordem aleatória, tirada à sorte antes de cada sessão. “O resultado é francamente bom. Somos todos terra a terra e estamos a fazer as coisas como deve ser. E ainda damos um bónus, que é um convidado profissional. O público sai claramente satisfeito”, diz-nos Ricardo.

Sobre as diferenças entre os quatro, para quem não os conhece, Xará descreve: “o (Pedro) Pedrosa é o gajo mais das ‘one-liners’, das piadas de observação, o Gomes é o filho que todas as mães querem ter, mas capaz de dizer as maiores barbaridades. O Ricardo está fortíssimo, e decidiu fazer uma coisa deliciosa, como que uma purga da sua própria realidade e que funciona muito bem, e o Freitas é absolutamente irrepreensível”.

Para Xará, “estes miúdos andaram a passar ao lado dos meios de comunicação” e compara a realidade da comédia portuense com a da capital, onde “às vezes os conteúdos não são tão bons, mas conseguem ser muito melhor vendidos”.

Sobre o processo criativo, João Freitas diz que “é mais cada um no seu sítio, a trabalhar os seus textos”. Ricardo acrescenta: “É verdade que não ensaiamos, mas assistimos muitas vezes ao trabalho uns dos outros, e se calhar isso pode ser considerado uma espécie de ensaio”.

Em conjunto não ensaiam, mas e individualmente, como constroem os seus textos? Luís diz que o seu método é muito simples: o seu humor é substancialmente mais negro do que o dos restantes, e a sua namorada “detesta humor negro”. “Por isso digo-lhe os meus textos, e o que ela não gosta eu sei que está como eu quero”. E avança que, para si, 5 minutos correspondem mais ou menos a 30 piadas e que não consegue contabilizar o tempo que demora a escrever um texto para apresentar. Ricardo diz que demorou quatro meses a preparar 20 minutos de material, desde escrevê-lo, a prepará-lo, passando, claro, por memorizá-lo.

De Raul Solnado a Ricky Gervais

Sobre as influências do humor, João Freitas refere o “mentor” Rui Xará e diz que consome muitos espetáculos de “stand up” por ano. “Bruno Nogueira, Raminhos, Daniel Leitão”. E diz que o espetáculo de comédia que mais gostou foi o “Portátil”, da Porta dos Fundos com César Mourão, que esteve em cena no ano passado na Casa da Música.

Ricardo fala de Raul Solnado, Ricardo Araújo Pereira, Rui Xará e Bruno Nogueira e admite que não tem muito juízo crítico, porque consome tudo e só mais tarde aplica um filtro. Das influências internacionais os rapazes falam de Lenny Bruce, Jim Jefferies ou Ricky Gervais.

Questionados sobre o que é que podemos ver na Sala Estúdio Latino, se não conhecermos nenhum dos quatro, responde Rui Xará: “As pessoas vêm ver quatro rapazes que vão certamente dar cartas no futuro”. E garante ainda que é “stand up” puro “e o ‘stand up’ não é mais do que um gajo, um microfone, e uma forma muito particular de ver o mundo”.

A última sessão da “Indevida Comédia” acontece esta quinta feira (26) na sala Estúdio Latino do Sá da Bandeira. O conjunto avança que escolheram aquele teatro portuense para dar o mote à iniciativa, por ser um espaço com tradição no humor e um ícone da cidade do Porto, mas a “Indevida Comédia” deverá continuar, noutras salas, cafés ou bares e, quem sabe, com “um conjunto de sessões em Lisboa”.

Artigo editado por Filipa Silva