Esta quinta-feira à tarde, não se ouvia o burburinho habitual nos corredores ou dentro das salas de aula no Liceu Alexandre Herculano. Foi durante a manhã, que a direção decidiu fechar a escola por tempo indeterminado, após queixas e protestos dos alunos. Quando chegaram às salas de aula, foram confrontados com pingas de chuva a cair do teto e baldes a servir de suporte.

Fátima Gama, professora de Francês e subdiretora do Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano, de que o liceu histórico é a sede, recordou ao JPN o que aconteceu de manhã: “Tudo partiu dos estudantes. Chegaram às salas e viram o estado das instalações. Depois falaram com a direção e ponderaram a hipótese de não haver aulas perante aquelas condições”.

Segundo a professora, o diretor Manuel José Lima terá ido a cada uma das salas ouvir os alunos. A partir daí, decidiu que a Escola Secundária Alexandre Herculano deveria fechar as portas por tempo indeterminado. “Isto começou como um protesto dos mais velhos, que rapidamente chegou aos mais novos”, disse.

Apesar da humidade das salas provocar um cheiro nauseabundo quase todos os dias, foi a chuva que agravou a situação esta quinta-feira e eliminou a possibilidade de haver aulas. À porta da sala 11, a precipitação constante lá fora provocava danos no interior. Cinco baldes aguentam as pingas de água e os funcionários faziam o que podiam: vassouras, panos e esfregonas estavam encostados a alguns cantos da escola. O barulho, o frio e a humidade formavam uma combinação impossível de conciliar com o ensino.

Nos corredores amplos e largos, são poucos os tetos e as paredes que escapam à humidade e à chuva. O branco da cal cobre-se de negro e verde, como se fosse musgo. Entre um vidro partido, uma zona interdita de escadas a toda a comunidade escolar e alguns buracos no chão, as aulas continuam a desenrolar-se com muitas estratégias e alternativas. “A Internet não funciona bem em toda escola, às vezes apenas dá na sala dos professores. Nas aulas, tenho de pedir aos alunos para ver alguns vídeos nos telemóveis”.

Os fios elétricos da rede estão à mostra nos corredores, sem qualquer cobertura. “Temos vindo a alertar o Ministério para todas estas situações”, diz a professora. Contudo, as tristezas não ganham lugar na maior parte dos dias, aprende-se a viver com o que se tem. “Eu até brinco com eles em algumas situações”.

Rosa, uma das funcionárias, acompanhou o JPN até uma sala, onde afirma que terão nascido alguns fungos nas paredes há alguns meses, devido à humidade abundante.

Esta quinta-feira à tarde, depois da manhã caótica, o diretor esteve a mostrar o estabelecimento a alguns engenheiros da Direção-Geral de Educação (DGE) e por isso, não estava disponível para prestar declarações ao JPN.

A escola, praticamente vazia quando comparada com os dias de aulas, vai realizar ainda esta noite, alguns exames do ensino recorrente. “Estavam marcados e ainda temos uma sala com condições”, justifica a professora.

Num universo de cerca de 900 alunos, 90 funcionários e 200 professores, poucos foram os que permaneceram esta tarde na escola. Num dia de chuva, o Liceu Alexandre Herculano estava a meio gás. Na fachada da escola, continuam escritas as palavras do poeta que dá nome ao edifício: “A instrução tem por alvo o benefício do cidadão e a utilidade da República”.