O avançado brasileiro estreou-se com dois golos e ajudou o FC Porto a subir à condição ao comando do campeonato. Sporting está agora a nove pontos do primeiro lugar e pode ter comprometido de vez a luta pelo título.

Na última visita ao Dragão, os leões saíram com sorrisos no rosto e uma réstia de esperança no ceptro nacional. Nove meses depois, o cenário inverteu-se. Tudo o que não fosse um triunfo na deslocação ao terreno do FC Porto podia significar o adeus definitivo ao título. Em teoria, assim foi.

Os dragões derrotaram este sábado o Sporting (2-1) e isolaram-se provisoriamente na liderança da Liga NOS. A noite foi de gala para Francisco Soares, que coroou a estreia de azul e branco com dois golos. Ainda sem qualquer derrota caseira esta temporada, o FC Porto reforça a candidatura ao título e aguarda pelo resultado do Benfica nesta jornada. Para já, dorme pelo menos uma noite no comando.

Chegar, faturar e convencer

Os dragões chegaram à ronda 20 do campeonato com uma sequência de resultados positiva: três vitórias consecutivas, acompanhadas com desaires alheios, que permitiram a aproximação à liderança. Com Rúben Neves afastado por lesão, Nuno Espírito Santo promoveu apenas alterações de ordem técnica. Face ao triunfo na Amoreira, três novidades. Brahimi e Corona ocuparam os corredores laterais. No ataque, alargado por sinal, André Silva jogou uns metros atrás de Francisco Soares. Estreia absoluta de dragão ao peito, num jogo que ficará arquivado na memória do brasileiro pelos melhores motivos.

Nos leões, margem para surpreender. Matheus Pereira só tinha jogado 90 minutos pela equipa principal do Sporting esta época – entre campeonato e taças nacionais -, mas foi aposta de Jorge Jesus. Coates regressou à competição, João Palhinha voltou ao onze e Alan Ruiz foi relegado para o banco. De fora, o lesionado Jefferson e o castigado William Carvalho. Joel Campbell ficou em Lisboa por opção técnica. Bruno César também passou de titular a ausente da ficha de jogo.

Jogo que abre com o primeiro golo portista. Em poucos toques, Corona fugiu a Marvin na direita e cruzou à vontade para a testa de Soares. O avançado recrutado ao Vitória SC fugiu à marcação de Palhinha e não perdoou ao segundo poste. Sete minutos bastaram para o brasileiro igualar os registos de Benny McCarthy e Fernando Batista, como o estreante portista mais rápido a faturar diante dos lisboetas. Defesa leonina a dormir, mostrando poucas referências e rotinas consolidadas entre os centrais e o médio português.

A correr atrás do prejuízo, o Sporting mostrou setores desconectados e conseguiu poucos desequilíbrios entre linhas. As jogadas terminavam invariavelmente nas alas, com o cruzamento dos laterais ou as incursões de Gelson para o meio. De facto, grande parte do jogo ofensivo verde e branco passava pelos pés do miúdo nascido em Cabo Verde. A par de Bryan Ruiz, foi o que mais tentou remar contra a maré, embora com pouco tempo e espaço para decidir com qualidade.

Mérito para os portistas, assente no comportamento defensivo de Corona e Brahimi, a par do todo-terreno Danilo. Mais do que trocarem as voltas aos laterais leoninos, a missão dos extremos foi auxiliar os restantes companheiros a suster as investidas adversárias. E, claro, depois, com bola, acelerar a busca pela profundidade.

Na base de muita eficácia, o FC Porto saíria para o descanso com novo tiro no porta-aviões lisboeta. Aos 40’. Danilo rasgou a defesa leonina pelo miolo e isolou Soares. O brasileiro superou Coates em velocidade, contornou Patrício na grande área e fez o 2-0. Ao bisar, Tiquinho juntou-se a um lote restrito de jogadores que marcaram dois golos ou mais no seu primeiro jogo oficial pelos dragões. Ao todo, nono golo na atual edição da Liga NOS; a figura do jogo, pelo que marca, oferece e constrói; com e sem bola, nos campos modestos ou nos palcos mais mediáticos do futebol português.

O duelo parecia sentenciado, talvez porque o Sporting não criou uma verdadeira oportunidade de golo nos primeiros 45 minutos. Mas a atual versão leonina já provou, várias vezes, ter sete vidas.

Faltou um Tiquinho assim

Alan Ruiz tem, por estes dias, a confiança em crescendo. A equipa caminha em sentido inverso, mas pareceu contagiada com a energia do argentino na etapa complementar. Bryan foi desviado para a esquerda, mas continuou capaz de jogar dentro do bloco portista. O Sporting cresceu, no número de unidades ofensivas e nas oportunidades criadas. Adrien acertou na barra. Pouco depois, a queimar a hora de jogo, Alan reduziu à meia-volta. O argentino recebeu de pé direito e rematou com o esquerdo, após combinação com Bas Dost.

Já com Esgaio na esquerda em vez de Marvin – que escapara ao segundo amarelo momentos antes -, o Sporting continuava o assédio à área portista. Efeitos, igualmente, de um excessivo abrandamento azul e branco. Não que fosse uma autêntica situação virgem. Aliás, basta recordar o duelo com o Benfica na primeira volta para o comprovar. Nuno desfez a frente de ataque alargada e apostou no regresso ao clássico 4-3-3. Inverteu o triângulo, quis maior controlo do espaço e menos domínio sobre a bola.

Podence ainda entrou para refrescar o ataque leonino nos dez minutos finais. Mas foi na cabeça de Coates que se projetaram os momentos mais dramáticos do encontro. Respondeu Iker Casillas com categoria, sobretudo no derradeiro instante. Parecia um deja vu a querer recordar o golpe de teatro do último clássico, no qual o Benfica silenciou o Dragão num canto. Desta vez também foi assim. Ou quase assim. A diferença esteve nas luvas do guarda-redes espanhol, que defendeu o impossível. Afinal, há palmadas que valem campeonatos.

Contas feitas, o FC Porto iguala a melhor série da temporada, atingida entre as 12ª e 15ª rondas e interrompidas com o nulo em Paços de Ferreira. Os dragões descansam na liderança provisória, antes de atacar a visita à cidade-berço. Já o Sporting está cada vez mais longe de alcançar o principal objetivo da temporada. Fora das competições europeias e das taças, resta aos leões lutar por um lugar no pódio e defender o prestígio nas 14 jornadas que faltam. A começar já na próxima semana, em Moreira de Cónegos.

“Todos os pontos vão ser ganhos com muito trabalho”

Nuno Espírito Santo destacou a importância de ter “dois planos assentes numa só ideia, de a equipa ser coesa, um bloco”. Em conferência de imprensa, o técnico portista valorizou “o trabalho dos jogadores, a maneira como acreditam e se aplicam nos treinos e chegar à competição e produzir”.

Sobre a estreia de Soares, Nuno disse que o brasileiro “teve tempo de se entrosar e, acima de tudo, tem uma generosidade ao trabalho que é louvável”. Mas a força reside no coletivo. “Queremos uma equipa campeã e isso começa na constância do trabalho, que é fundamental”, argumenta.

Apesar das distâncias alargadas, Nuno não acredita numa luta a dois. “Não acho. Sei que falta muita competição, muitos jogos, é difícil conquistá-los, exige muito trabalho. Já perdemos onde não queríamos, o nosso crescimento tem de ser melhoria. O Dragão é fantástico no apoio à equipa, mas temos de melhorar fora de casa. Ainda falta muita competição. Todos os pontos vão ser ganhos com muito trabalho”, rematou.

“Foi Casillas que ganhou este jogo”

Jorge Jesus referiu que o Porto “teve qualidade na primeira meia-hora”, apesar da pouca supremacia. No segundo tempo, o Sporting fez um golo e teve várias oportunidades. “É preciso muita classe, muito valor para no Dragão, a perder por 2-0, transformar o jogo na segunda parte a nosso favor”, valorizou em conferência de imprensa.

O técnico leonino deixou elogios a Casillas. “Foi ele que ganhou este jogo. Fez pelo menos duas defesas de golo. Está lá para isso. É um excelente guarda-redes, sempre foi. Hoje voltou a mostrar a sua qualidade”, sustentou. O resultado mais ajustado seria um empate com golos, já que “o FC Porto não foi melhor que o Sporting”.

Para Jesus, o FC Porto tirou o Sporting “da disputa do primeiro lugar. Temos de pensar jogo a jogo porque estamos dependentes de terceiros e mais longe do segundo lugar”. Não deixou ainda de mencionar o preço que se paga pela aposta na formação: “Apresentámos aqui uma equipa muito jovem, com seis jogadores da formação. Aliás, dez da formação em 18 convocados. Isso também se paga. Mas estamos a dar passo atrás para dar dois à frente”, concluiu.

Ficha de jogo
Competição: Liga NOS (20ª jornada)
Estádio: Dragão, Porto
Assistência: 48 329 espetadores

Golos: Francisco Soares (6’ e 40’); Alan Ruiz (60’)
Cartões Amarelos: Marvin Zeegelaar 29’, Jesús Corona 39’, Maxi Pereira 51’, Diogo Jota 78’, Felipe 85’, Alan Ruiz 85’ e Sebastián Coates 87’

Equipa de Arbitragem
Árbitro: Hugo Miguel (AF Lisboa)
Árbitros Assistentes: Ricardo Santos e Nuno Roque
Quarto Árbitro: Fábio Veríssimo

FC Porto
Onze inicial: Iker Casillas; Maxi Pereira, Felipe, Iván Marcano (C) e Alex Telles; Jesús Corona, Danilo Pereira, Óliver Torres e Yacine Brahimi; André Silva e Francisco Soares;
Suplentes utilizados: André André, Diogo Jota e João Carlos Teixeira;
Treinador: Nuno Espírito Santo

Sporting CP
Onze inicial: Rui Patrício; Ezequiel Schelotto, Sebastián Coates, Rúben Semedo e Marvin Zeegelaar; João Palhinha, Gelson Martins, Adrien Silva e Matheus Pereira; Bryan Ruiz e Bas Dost;
Suplentes utilizados: Alan Ruiz, Ricardo Esgaio e Daniel Podence;
Treinador: Jorge Jesus