Placard, Betclic e Bet.pt suspenderam esta segunda-feira as apostas relativas ao jogo Feirense – Rio Ave, poucas horas antes do apito inicial. O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, viu a partida, que considerou “um jogo normalíssimo” e comentou este episódio concreto com precaução.

“Nós neste momento não temos a informação toda”, considera Joaquim Evangelista. “Se este resultado levantou suspeitas e eventualmente há outra informação, nós não vamos ter acesso a ela porque eventualmente as autoridades podem estar a investigar.”

‘Jogo Duplo’ (2016): Na última jornada da II Liga são detidas 15 pessoas entre jogadores, agentes e dirigentes. Seis jogadores são suspensos de exercer atividade em Portugal enquanto ocorre a investigação do processo. Os atletas são acusados de prejudicarem as suas equipas, aliciados por empresários chineses. Detidos presidente e secretário técnico do Leixões, jogadores de Oliveirense e Oriental.

Juventus (2006): O gigante italiano perde títulos de campeão e desce à segunda divisão (Serie B) no seguimento do escândalo de corrupção “Calciocaos”, com responsáveis de quatro clubes envolvidos a serem acusados de terem influenciado a nomeação dos árbitros para jogos da temporada 2004/05.

Basquetebol (2008): Um árbitro norte-americano é condenado a 15 meses de prisão efetiva. Em causa está a confissão do juiz da NBA sobre ter apostado em jogos que iria dirigir. Existe a suspeita de ter agido conjuntamente com representantes da máfia norte-americana.

Beisebol (1989): O antigo jogador e treinador dos Cincinnati Reds, Pete Rose, é banido da Major League Baseball por uma revista ter denunciado que o técnico teria feito apostas nos jogos da sua equipa em cerca de 50 jogos.

O líder do SJPF preferiu sempre abordar o tópico dos resultados concertados de uma forma geral e não falar concretamente das apostas suspensas no Feirense-Rio Ave, que terminou com o resultado de 2-1 para os da casa.

“Este fenómeno é tão complexo que a própria reação deve ser de cautela, deve ser ponderada. Por isso é que me estou a dirigir assim em função do fenómeno em geral e não em função deste jogo, porque eu desconheço, como todos desconhecem, todos os dados sobre o mesmo. Temos de esperar, temos de ser sensatos e aguardar para perceber se houve bom senso ou não ao suspender as apostas neste jogo.”

Sobre o panorama geral, é taxativo: “Não vale a pena fingir que o fenómeno não existe. Não sejamos hipócritas. Se falarmos dele e soubermos lidar com ele é benéfico para todos”, conclui.

Segundo Evangelista, há três questões de fundo no futebol português que podem potenciar as apostas fraudulentas e os resultados combinados: “Clubes com problemas financeiros graves e históricos, jogadores confrontados com incumprimento salarial e também o investimento estrangeiro feito em Portugal sem escrutínio, sem se saber quem é que está ligado ao mesmo – muitas das vezes até são pessoas ou empresas ligadas a este fenómeno das apostas desportivas”. E é nas causas, “a montante”, que defende que é necessário atuar.

O Sindicato, juntamente com a Federação Portuguesa de Futebol, desenvolve ações de sensibilização dos jogadores para esta realidade. Exemplo disso é o projeto “Anti Match-Fixing – Deixa-te de Joguinhos”, que visa precisamente o combate aos resultados combinados. Existe ainda uma parceria entre o SJPF e a empresa Sport Radar para monitorizar os jogos e detetar eventuais irregularidades.

No entanto, segundo Joaquim Evangelista, a situação é ainda mais preocupante nos escalões secundários do futebol português. “Mais grave que nas ligas profissionais é o que se passa no futebol amador, onde esse fenómeno também tem repercussões. Cada vez há mais investidores estrangeiros junto de clubes de pequena dimensão e ninguém pergunta porquê. Temos de estar mais atentos a quem entra no desporto, de onde é que vem o capital e que objectivos é que têm”, conclui.

A suspeição sobre resultados desportivos em diversas modalidades é tema recorrente (ver caixa), mas trata-se da primeira vez que há apostas suspensas relativas a um jogo da principal Liga portuguesa. Joaquim Evangelista não esconde os “efeitos colaterais” para a imagem  dos futebolistas profissionais mas prefere aguardar pela “investigação das entidades responsáveis”.

De acordo com a edição desta quarta-feira do jornal “Público”, o Ministério Público está a analisar o caso, recolhendo elementos “tendo em vista decidir se existe ou não matéria para a instauração de inquérito”.