Interdisciplinaridade e inovação foram palavras de ordem no colóquio do professor Bruno Feijó, esta quarta-feira. A sessão decorreu durante a visita do investigador às instalações do U.Porto Media Innovation Labs (MIL).
O docente da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) apresentou as conclusões de um grupo de investigação em entretenimento digital, que resultaram em propostas de modelos de inovação e educação na indústria criativa de base tecnológica.
Em entrevista ao JPN, o investigador brasileiro ressalvou a importância da interdisciplinaridade para a inovação e alertou para a “falta de compreensão” por parte das escolas e das indústrias para esta temática. “Sem interdisciplinaridade, esta geração não avança para a próxima etapa”, disse. E deixou mais um recado: “É preciso reformular a maneira antiga como a gente educa e empreende”.
Tradicionalmente a matemática é vista como um “bicho de sete cabeças” pela generalidade dos alunos, que criam uma aversão e fogem de carreiras relacionadas à disciplina. A razão, na perspetiva de Bruno Feijó, é a maneira inadequada como são expostos à matemática ao longo do percurso escolar, fruto de “um defeito do sistema de educação”.
O docente defende que é fundamental o desenvolvimento do pensamento matemático e computacional, e a fomentação do espírito interdisciplinar desde o ensino básico e secundário, de modo a evitar que isso se torne numa “barreira” à inovação. “Não há como evitar que tudo o que se faz hoje no mundo do conhecimento usa os dois lados do cérebro, o lado lógico e o lado criativo”, ressaltou o investigador. “Não há como haver inovação sem olhar os dois lados”.
Bruno Feijó deixou claro que a interdisciplinaridade leva à eficiência e à excelência e deu o exemplo de áreas como o desenvolvimento de jogos, “onde se encontram essas tribos [designers e programadores] e todas têm de se entender senão não sai produto”. “O segredo não é o software nem as técnicas em si, mas a integração e é por isso que é preciso a interdisciplinaridade. É uma necessidade que tem de ser suprida”, concluiu.
PUC-Rio e UP: “Creio que vão aparecer oportunidades e projetos em comum”
A visita do investigador à Universidade do Porto, que contou ainda com uma passagem pelo Parque de Ciência e Tecnologia da UP (UPTEC), surgiu no seguimento da presença da Faculdade de Engenharia (FEUP) na PUC-Rio, e não vai ser o último contacto entre as academias.
“O que vi de interdisciplinaridade está muito avançado em relação ao que temos no Brasil e por outro lado, nós temos algumas experiências que queremos fazer lá e acho que se nos juntarmos é um jogo ganho para os dois lados e estamos muito entusiasmados para isso acontecer”, admitiu Bruno Feijó.
Esta quinta-feira é altura de debater as várias ideias e possíveis parcerias que resultaram desta visita. “A próxima etapa é trocarmos alguns alunos, porque eles são a energia que torna isso possível e eu creio que vão aparecer as oportunidades e os projetos em comum”, assegurou o docente.
O professor disse ainda ter ficado surpreendido com os projetos que conheceu durante a visita e com o espírito interdisciplinar da UP. “A organização que foi feita pela Universidade do Porto em termos dos institutos de pesquisa, em termos deste particular empreendimento[MIL], tem uma ótima qualidade tanto em questões de investigação, como de qualidade formal e em termos de produtos e de entendimento”.
Ficou a promessa de um futuro de colaboração entre as academias. “Mesmo que tenhamos financiamento ou não, vamos usar paus e pedras em termos de investimento, mas acho que pessoas é que é o mais importante e isso já temos”, garantiu o investigador.
Texto editado por Rita Neves Costa