Foram cerca de 1300 as fotografias tiradas por 12 sem-abrigo da Invicta. Numa primeira seleção, foram os próprios sem-abrigo que escolheram quais os trabalhos que gostariam de ver expostos. Dessa seleção, alguns profissionais da Dreambooks e do Instituto Português de Fotografia reduziram o número para as 24 que estão expostas de 10 de fevereiro a 16 de abril, na estação de metro dos Aliados e no Centro Português de Fotografia.

Através dos movimentos “Saber Compreender” e “Uma Vida Como a Arte”, 12 pessoas em situação de exclusão social no Porto aceitaram o desafio. Tiveram formação no Instituto Português de Fotografia onde cada um recebeu uma câmara fotográfica descartável, cedidas pelas Fujifilm, e durante uma semana fotografaram a cidade.

Lassalete Miranda, 54 anos, contou que este projeto “foi sair de casa às 7h da manhã e começar a fotografar” e que nas suas fotografias “o chão é uma referência porque é o que me faz lembrar o sítio onde eu dormia.”.

Noé Alves, 46 anos, fotografou os sítios onde costuma estar e “estava na expectativa de ver tudo montado na exposição”. Já João Rocha quis “transmitir aos governantes e aos políticos os males que existem no Porto, que merecem um bocado de atenção. Principalmente as pessoas e as casas abandonadas.”

“Claro que fomos surpreendidos quando as vimos, as perspetivas que encontramos, até porque acreditamos que a fotografia é a melhor forma de expressar qualquer sentimento”, referiu Bruno Pinto, diretor da Dreambooks e responsável pelo projeto “Portugal, o Melhor Destino”.

“Aquilo que se mostra aqui não é uma cidade do Porto pela negativa, pela exclusão, mas sim pela inclusão, pela positiva e as fotografias que eles mostram é de um Porto extremamente belo, um Porto que é diferente pelas pessoas que têm. É isto que nos torna especial, um Porto para todos”, acrescenta.

A sessão de apresentação da exposição “Olhares de Rua” que se realizou no Centro Português de Fotografia (CPF) contou com a presença de Bernardino Castro, diretor de serviços do CPF, Morais Sarmento, diretor do Instituto Português de Fotografia e outras personalidades.

“Em nome de um Porto, a que todos têm direito”

Manuel Pizarro, vereador da Habitação e Ação Social da Câmara Municipal do Porto (CMP), referiu na sessão de apresentação da passada quinta-feira, que o facto de as pessoas estarem numa situação de exclusão social profunda, não deve fazer com que estas desistam de ter uma participação social ativa.

Em declarações ao JPN, o vereador referiu que é essencial um plano nacional de ação para ajuda dos sem-abrigo, mas que esse plano não pode existir sem uma participação dos níveis mais próximos do poder, como as autarquias, e que a participação cidadã também se revela importante.

Em relação à ação da CMP, Manuel Pizarro sublinhou que “muitas das pessoas que estão hoje em situação de sem abrigo e que vivem nas ruas da cidade do Porto são pessoas com problemas muito sérios até no domínio da saúde”. Há trabalho a fazer: “Em nome de uma sociedade mais inclusiva, em nome deste Porto a que todos têm direito, que é a nossa aspiração maior”, disse.

Pedro Abrunhosa, que apadrinhou o projeto, reforçou o papel da arte como uma forma “de apaziguar a sociedade”, melhorando a condição e qualidade de vida dos indivíduos. O escritor Raúl Minh’Alma também esteve presente e declamou um poema escrito para a ocasião.

Em dezembro, a Dreambooks realizou uma angariação de fundos entre os seus clientes, de onde conseguiu 1000 euros. Esse valor foi dividido e entregue aos dois movimentos presentes nos projeto, “Saber Compreender” e “Uma Vida Como a Arte”. Cada participante recebeu um certificado de participação e ainda, um livro e um CD com as fotografias da exposição.

Bruno Pinto, presidente da Dreambooks, disse que este tipo de projeto pode ser usado no futuro para incluir outras minorias, como idosos, crianças ou pessoas com Alzheimer. “Portugal não é o melhor destino, porque é bonito ou seguro, porque as pessoas são amáveis e gostam de receber, porque tem gastronomia ou um clima agradável. Acreditamos que Portugal e o Porto são o melhor destino porque são inclusivos e solidários. E é essa mensagem que queremos continuar a passar”, refere.

“Portugal, o Melhor Destino” pelas mãos de todos

A exposição insere-se no âmbito do projeto “Portugal, o Melhor Destino” da Dreambooks, uma empresa de álbuns digitais que quer democratizar a fotografia digital em Portugal e atender às necessidades específicas de cada um, independentemente do meio social.

Começou em 2012 e desafiou todos os portugueses a mostrarem o país, independentemente da sua região. Participaram 15 mil portugueses e foram recolhidas 77 mil e 53 fotografias em dois meses. Numa segunda fase, criaram o álbum “Portugal, o Melhor Destino”, que ganhou o “Maior Álbum Fotográfico do Mundo” pelo Guinness World Records.

“Quando recebemos essas fotografias, percebemos que estávamos a mostrar um país real e percebemos também que estávamos a mostrar um país que era acima de tudo das maiorias”, refere Bruno Pinto.

Beatriz Teixeira, também responsável pelo projeto referiu na sessão de apresentação da exposição que “Portugal torna-se o melhor destino não só pelas paisagens, pela tradição, pela cultura, mas também pelas pessoas, pela capacidade de integrar e valorizar todas as diferentes perspetivas”.

Texto editado por Rita Neves Costa