Com sede em Matosinhos, o Centro Gis é um projeto de apoio à comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais). O protocolo foi assinado em novembro do ano passado, durante o mandato do anterior presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, que faleceu em janeiro deste ano. “O entusiasta do projeto”, como descreveu Catarina Marcelino, secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, “foi sempre um homem aberto a responder a necessidades novas e sem preconceito “.
O nome “Centro Gis” não é um acaso. Pretende homenagear Gisberta, assassinada no Porto em 2006 por ser uma mulher transexual. Esta e outras histórias não foram esquecidas e incentivaram a criação do projeto: “Às vezes coisas negativas tornam os fenómenos mais visíveis”, sublinhou Catarina Marcelino.
A Associação Plano i (APi) foi criada na zona Norte do país, em novembro de 2015.
A APi “procura dar respostas concretas a um amplo conjunto de questões sociais atuais, nomeadamente a desigualdade, a discriminação, a violência, a exclusão e a pobreza”, lê-se no site oficial.
A funcionar desde janeiro, o espaço foi inaugurado oficialmente esta terça-feira, dia 14 de fevereiro. A cerimónia iniciou com o discurso de Ana Sofia Neves, presidente da APi, que classificou o dia como “histórico”, tanto para a Associação Plano i, como para Matosinhos e para o país, já que o centro vem “responder a uma necessidade identificada de prestar apoio psicológico, social e jurídico a estas populações”, disse.
O nome Gisberta esteve em evidência durante todo o evento. Nas palavras da presidente da APi, representa esperança: “Por um lado, não podemos esquecer o crime de que foi alvo e que foi um crime de ódio, mas o facto de estarmos aqui hoje a inaugurar este centro (…) também nos traz aqui uma esperança acrescida”. Para Catarina Marcelino, secretária de Estado, foi a memória de Gisberta que fez com que a sociedade tomasse uma atitude de “responsabilidade face a este tipo de crimes” e, por isso, “Gisberta não morreu em vão”.
Os pedidos de apoio já chegaram em janeiro
Num mês de funcionamento, houve 21 atendimentos e seis pessoas estão, de momento, a receber acompanhamento psicológico, social ou jurídico: “Vêm perguntar quais são os seus direitos, pedir apoio psicológico ou vêm pedir uma casa de acolhimento quando saem de uma relação”, explicou a secretária de Estado. Os números significam que “esta resposta era, de facto, necessária”, disse Ana Sofia Neves. A presidente da APi acredita que este é um contributo “para que as pessoas LGBT possam ser respeitadas nos seus direitos”.
Eduardo Pinheiro, presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, durante o discurso, além de referir a importância do anterior autarca na construção do centro, acrescentou ainda que este “é um projeto importantíssimo por uma questão de igualdade, equidade, combater a violência”. E acrescentou: “Tudo aquilo que nós que aqui estamos defendemos, no sentido que devemos ter uma sociedade em que não haja discriminação independentemente da nossa origem, das nossas opções”.
O Centro Gis contou com o apoio do Governo com uma subvenção de 37 mil euros: “É a primeira vez que o Governo em Portugal apoia financeiramente a abertura de respostas específicas para pessoas LGBT”, disse Catarina Marcelino.
Mais uma porta aberta para a comunidade LGBT
Para os presentes, Matosinhos tem uma longa história de preocupações no âmbito social, gosta de desafios e abraçou mais um com sucesso. A secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade destacou que a cidade “está sempre na linha da frente, sem preconceitos e de braços abertos para responder a uma necessidade”. O presidente acrescentou ainda que “a autarquia decidiu sem qualquer hesitação ceder as instalações e também contribuir para o equipamento do espaço mas, mais que isso, associar-se a um projeto da maior relevância”.
Catarina Marcelino acredita que esta inovação não fica por aqui. “Porque se houver mais necessidade de outras respostas nesta área, abriu-se uma porta para que outros projetos também possam ser apoiados”, afirmou. Nos últimos anos, Portugal tem dado grandes passos no que diz respeito aos direitos das pessoas LGBT e à luta contra a discriminação — existem já dois centros de apoio em Lisboa. A criação do Centro Gis em Matosinhos foi um “foi um passo de gigante”.
Texto editado por Rita Neves Costa