Cinco artistas, espalhados por cinco dos mais emblemáticos cafés do Porto. É o projeto Regime de ½ pensão, que convida os artistas a ocuparem e criarem nas mesas dos cafés da Invicta. Do papel histórico do café como espaço de intervenção cultural e espelho da rotina da cidade, parte-se para uma iniciativa que quer tirar o artista da “redoma” e aproximar o público do processo de criação.

Esta sexta-feira e sábado, os artistas são convidados a apresentar o que foram desenvolvendo ao longo da semana. Ana Rocha e Jorge Gonçalves são diretores da Mezzanine, a associação apoiada pelo Ministério da Cultura que está a organizar o programa.

Jorge Gonçalves fala do projeto como tentativa de reabilitar o café como espaço de discussão. Clarifica que não é uma iniciativa “saudosista”, mas uma tentativa de repensar essa função histórica dos cafés na modernidade. Ana diz que os participantes se comprometem sempre a passar o seu tempo em criação, mas salienta que nem sempre o produto final tem de ser físico. A apresentação pode passar por uma conversa, por uma ideia. No final, há uma percurso-visita pelos cinco cafés escolhidos.

Marianne Baillot, ligada à dança e às artes performativas, tem estado no café Java (Praça da Batalha). Jorge Palinhos, dramaturgo e escritor, no Progresso (à Praça Carlos Alberto). Miguel von Hafe Pérez, curador, no Café Ceuta (Rua de Ceita). Marta Ângela Vuduvum, ligada à música e arte visual, passou a semana no café de Aviz (Rua de Aviz). Joana Machado, diretora do estúdio de arte e design Colönia, tem andado pelo Âncora de Ouro (Piolho).

Ao contrário da primeira edição, os artistas não estão identificados. Ana Rocha diz que o objetivo é haver “uma espécie de voyeurismo” na tentativa do público de encontrar os residentes, e interferir da menor forma possível com o regular funcionamento do café. Sobre a escolha dos cafés para cada artista, Ana clarifica que não foi aleatória. Jorge Palinhos já é “quase residente” do Progresso e para Miguel von Hafe Pérez, foi “óbvio” escolher o café Ceuta.

Atelier no Piolho

O Piolho de Joana Machado é o da adolescência, do convívio noturno nos tempos de estudante. Participa no Regime de ½ pensão por o ver como oportunidade produzir de forma mais ponderada entre o “frenesim” do trabalho, e de chamar os artistas da cidade a lugares em que estão expostos ao público.

No caso de Joana, a apresentação vai ser um quase final do projeto que já estava a desenvolver. Parte de imagens feitas no Porto, mas que dificilmente serão reconhecidas como parte da cidade. Confessa não ter sido abordada por muitos desconhecidos, mas diz que as conversas que vai tendo com amigos que a vêm visitar e o próprio café têm “contaminado” o trabalho e diz-se curiosa para ver o que os colegas têm feito.

Joana Machado apresenta o resultado desta semana de exploração este sábado, às 19h00, depois de Jorge Palinhos, às 16h00, e de Miguel Von Hafe Pérez, às 17h30.  Marianne Baillot apresenta já esta sexta-feira, às 17h30, e às 19h é a vez de Marta Vuduvum.

Artigo editado pro Filipa Silva