A Casa do Infante, em pleno coração da Ribeira, alberga a exposição “O Palco e a Cidade” até dia 27 de março, organizada pela Câmara do Porto. Esta quinta-feira, no seguimento da exposição, o JPN assistiu à conferência “À Volta do Teatro” sobre o teatro oitocentista portuense.
A primeira grande sala de espectáculos no Porto era sediada no antigo Largo do Corpo da Guarda e surgiu em 1760. Grande parte dos atores e atrizes nacionais que pisaram os palcos portuenses vinham de companhias lisboetas.
A exposição revela um percurso pela atividade teatral na cidade do Porto numa perspetiva histórica. Na época, o teatro era a grande forma de diversão dos portuenses, daí o número de salas existentes.
Camilo e Ramada Curto: dois vultos do teatro entre 1850 e 1950
No seguimento da iniciativa “O Palco e a Cidade”, esta quinta-feira, foi dado início ao ciclo de conferências “À Volta do Teatro” — 16 fevereiro e 27 de março.
O mote foi dado por Tânia Moreira com uma intervenção sobre o teatro de Camilo Castelo Branco no Porto oitocentista. E Gonçalo Vilas Boas leu uma dissertação de Joana Miguel (licenciada em História pela Faculdade Letras do Porto) que destapa as “Verdades como Punhos” sobre o Teatro de Ramada Curto, no Porto, entre a Primeira República e o Estado Novo.
Ramada Curto foi um dramaturgo com grande espírito crítico e ironia sobre diferentes estratos sociais. “Abundante e carregada de atualidade, a obra de Ramada Curto, atravessou décadas e retratou diversos aspetos da sociedade portuguesa, entre campo e a cidade, percorrendo os salões da aristocracia, os negócios dos burgueses e as preocupações do proletariado”, escreve Joana Miguel.
Porto entra em cena
O Instituto de Literatura Aplicada apoia esta iniciativa, que leva a debate alguns dramaturgos e compositores que satirizaram o Porto e a sua gente modesta na época oitocentista. “É o Porto que se assume como lugar privilegiado no teatro camiliano”, reflete Tânia Moreira.
“E que representações da cidade do Porto espelha a dramaturgia camiliana?” questiona a investigadora da obra camiliana. A resposta está numa gargalhada sobre os costumes tripeiros: “Sempre de olhar crítico, Camilo sublinha a identidade irreverente da sociedade portuense, com a sua feição orgulhosamente independente e liberal”. Tânia Moreira lembra que Camilo “não deixa também de apoiar o lado cínico de uma época em que os títulos nobiliárquicos se compravam com o dinheiro ganho na venda do bacalhau ou da alfarroba”.
A intervenção relacionada com o advogado e dramaturgo, Amílcar Ramada Curto, lida por Gonçalo Vilas Boas e escrita por Joana Miguel, destaca a “construção realista” e a “grande qualidade” dos seus textos.
“Ao longo das décadas em que Ramada Curto escreveu e foi representado, o sucesso obtido nas estreias em Lisboa, reproduziu-se também no Porto, onde a sua obra foi recebida com agrado, provocando certa polémica, por vezes, mas de uma forma geral, calorosamente ovacionada”, lê Gonçalo Vilas Boas o texto de Joana Miguel.
Ramada Curto, “repartindo a sua vida entre a lei, a política e o teatro, comprovando a sua personalidade multifacetada”, é um dos autores portugueses que mais produziu.
A próxima conferência será no dia 27 de março às 18h, na Casa do Infante, e contará com as intervenções de Maria João Reynaud e Pedro Eiras.
Artigo editado por Rita Neves Costa