Uma conversa sobre o presente e o futuro da rádio. Este foi o mote para o início da sessão que se realizou no Pólo de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, moderada por Luís Bonixe, professor de Ciências da Comunicação no Instituto Politécnico de Portalegre.

Criado em 2013, o grupo de trabalho de Rádio e Meios Sonoros, constituído no âmbito da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação é formado por 20 investigadores, professores, mestrandos e doutorandos. É coordenado por Madalena Oliveira de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho e coadjuvado por Luís Bonixe.

“A rádio é uma amiga que está lá sempre”

“A rádio continua a ser uma coisa que se ouve num aparelho muito simples, antes um transístor, agora pode ser num telemóvel”, referiu Francisco Sena Santos, ex-jornalista da TSF e da Antena 1. Os podcasts dão acesso ao que não se ouviu na hora, mas a nova ferramenta não é o que caracteriza o meio. “A essência da rádio é o instante. É isso que é mágico, nenhum outro meio substituí a rádio neste encantamento, nesta possibilidade de nos pôr onde está a notícia”, sublinhou.

O professor de rádio na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa alertou para o facto de que “a rádio não abusa das pessoas” e que o meio resiste ao “envenenamento que é praticado em grande parte pelas televisões”. Neste sentido, o docente considera que a agenda da rádio em Portugal é de serviço público e que isso “é uma sorte” para os ouvintes.

Em relação aos pontos negativos, Francisco Sena Santos referiu a negligência atual em relação à madrugada, entre a 1h e as 6h da manhã. Defendendo uma rádio falada, o jornalista afirma que para ele “não é tanto a música, a rádio é uma voz que faz companhia. As pessoas precisam de alguém que lhes faça companhia”.

“Temos de contar melhor o mundo”

João Paulo Baltazar, diretor de informação da Antena 1, diz que a rádio é “um ofício e uma paixão muito intensa”. Concorda que a essência do meio continua a ser o instante, mas que o som deve ser algo mais trabalhado nas redações. Sublinhou ainda a importância da clareza na comunicação, para que todos os ouvintes consigam entender os assuntos que são noticiados, desde os mais distraídos aos mais atentos.

Neste sentido, o jornalista apresentou o podcast “O som da minha vida”, um projeto por conta própria da jornalista Rita Colaço da Antena 1 que quer dar voz às pessoas. Num vídeo apresentado por João Baltazar na sessão, a jornalista referiu que muitas vezes é apenas feita uma transposição das notícias e que é importante dar imagens aos ouvintes através do som. “Há tantos outros pormenores que nós podemos contar e que nos transportam para aquele local, para o local da notícia”, diz Rita Colaço no vídeo.

Contar melhor o mundo passa também pela utilização das redes e pela afirmação da marca da rádio, segundo João Baltazar. O jornalista da Antena 1 referiu que uma marca de informação credível nas redes ajuda a combater a desinformação, mas para isso diz que é preciso explorar novas linguagens.

“Não se trata de explorar e pôr a pessoa a fazer mais pagando o mesmo, não é isso que está em questão. Está em questão saber como é que nós chegamos às pessoas, como é que nós acrescentamos valor às histórias que contamos”. Mantendo o foco no trabalho da rádio, João Baltazar acredita que se pode fazer melhor.

O jornalista disse ao JPN que é necessário que a rádio se liberte do “colete de forças da agenda institucional”, utilizar melhor os recursos e aceitar como normal uma atitude multimédia, mantendo a rádio como ofício principal, mas integrar com naturalidade, por exemplo, uma fotografia ou um tweet.

Mas o que o futuro reserva ainda não é certo. “Há 30 anos se me dissessem que havia uma coisa chamada podcast e que estava a ouvir rádio numa coisa chamada telemóvel, eu dizia que isso era ficção científica. Hoje o que nós dizemos que é ficção científica pode ser verdade daqui a 20, 10 ou 5 anos.”, referiu o diretor de informação da Antena 1.

Francisco Sena Santos explicou que: “Tudo o mais que o digital nos traz é acrescento, é mais informação, saber qual é a música que está a passar, termos informações complementares. Somos enriquecidos”. O professor de rádio na ESCS considera este meio como o melhor em informação, mas realça que é necessário recuperar o requinte que perdeu.

Ainda em relação ao futuro da rádio, João Baltazar falou com o JPN acerca dos conselhos de redação, neste momento inexistentes em todas as rádios públicas do país. O jornalista referiu que estimula o debate crítico e construtivo e que a discussão vai acontecendo, mas que “há um impasse” que espera que se ultrapasse rapidamente.

A Rádio és tu?

“Devia ser afixado nas redações, para nos lembrarmos permanentemente que nós não estamos a debitar, nem a despejar, estamos a falar para as pessoas”, refere João Paulo Baltazar em relação ao mote da tertúlia.

O jornalista defende um equilíbrio entre ouvintes e convidados nos espaços de antena aberta, mas conta ao JPN que o jornalista pode ter acesso a feedback e a informação que lhe chegam dos ouvintes, necessária para iniciar uma investigação ou esclarecer um assunto.

“Ter o ouvinte no centro da nossa preocupação para mim é mensagem deste mote”, refere João Baltazar. “É preciso o jornalista sair do seu pedestal”.

Artigo editado por Rita Neves Costa