A 6ª edição do Tornadu – Torneio Nacional de Debates Universitários – decorreu no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, durante os dias 17, 18 e 19 de fevereiro. 40 equipas de duas pessoas debateram, durante três dias, os mais variados temas, à procura da melhor equipa do país e dos melhores oradores. No final do dia de sábado foram anunciadas as equipas que fizeram “break”, ou seja, os oito pares que, dos 40, avançaram para a fase seguinte da competição.

No domingo, depois das semi-finais que se desenrolaram durante a manhã, as quatro equipas finalistas e os restantes debaters e adjudicadores rumaram à Academia das Ciências de Lisboa. A grande final começou às 16h no Salão Nobre da Academia e o jornalismo foi o tema central do último debate do torneio.

Carla Ferreira e Bruno da Costa Santos (equipa Porto E), Rui Maciel e Pedro González (Porto C), André Carvalho e Cláudio Teixeira (Coimbra A) e Manuel Lucena e João Freitas (Católica B) tiveram 15 minutos para prepararem discursos individuais de sete minutos, subjacentes à moção: “Esta Casa preferiria viver num mundo onde toda a imprensa e media online são pagos pelos seus utilizadores sem modelos de negócio alternativos, como, por exemplo, publicidade.”

“Sabíamos que tínhamos de relacionar qualquer moção com as pessoas”

Rui Maciel, finalista da licenciatura de Gestão da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, sagrou-se vencedor desse debate e, por isso, do torneio. Juntamente com o seu parceiro de equipa, Pedro González, estudante do 3º ano de Economia, também da FEP, Rui foi este ano, pela primeira vez, campeão nacional de debates universitários.

O seu percurso começou em 2014 e o estudante já passou por competições mundiais. “Comecei a debater em 2014 e nesse ano fui eleito o Orador Revelação no Open do Porto. No ano passado fui à final do Tornadu, mas perdi para o meu mentor, com quem ganhei o Open, o Guilherme Sousa. A convite dele fui aos Mundiais de Salonica em 2016, a representar o país e a Universidade do Porto, onde fizemos uma campanha bastante satisfatória em que aprendi imenso.”

Pedro começou a debater há cerca de um ano e diz que não começou mais cedo porque ninguém o conseguiu convencer completamente. Entretanto foi de Erasmus para Paris e, quando voltou, teve de voltar a debater: “O Rui meteu na cabeça que queria ser campeão nacional comigo”.

E assim foi. Pedro sabia que era possível serem campeões. “Nós sabíamos que tínhamos capacidades, só precisávamos de convencer o resto das pessoas de que éramos realmente bons”. A equipa de adjudicadores parece ter pensado o mesmo: “Não foi por acaso que fomos eleitos os melhores oradores da final, em vez de um só orador, como é normal”, explica Rui Maciel.

Final do Tornadu 2017 na Academia das Ciências em Lisboa. Pedro González e Rui Maciel (à esquerda) preparam os seus discursos enquanto Bruno da Costa Santos (à direita) abre o debate. Fonte: Ana Marta Ferreira

Rui parece ter sabido escolher bem o parceiro para este torneio, que não se deixou arrastar para os debates facilmente. “Puxei o Pedro para o debate competitivo, porque queria mesmo que debatêssemos juntos. Toda a gente o acha fenomenal a debater e eu acho que ganhamos porque somos uma equipa muito coesa”, diz o orador de 20 anos.

E como é que se ganha um torneio nacional, contra equipas de todo o país, com uma média de idades mais elevada e com muitos anos de experiência? Rui acredita que ser campeão nacional neste torneio “não é nada fácil”. “O nosso segredo é a complementaridade, parece que estamos sempre na cabeça um do outro. E eu acho que debater é sobre as pessoas. Nós ganhamos porque pensamos: como é que vamos relacionar isto com as pessoas?”, explica.

Pedro, também com 20 anos, concorda: “Em qualquer moção, tivesse ela a ver com a energia, com sexo ou com o jornalismo, sabíamos que tínhamos de relacioná-la diretamente com as pessoas”.

O Tornadu prevê ainda, desde 2016, uma “final de iniciados” para pares que se estrearam há menos de um ano no debate competitivo. Em 2017, os vencedores da final foram Jorge Bernardo e Mafalda Fortuna do Couto (equipa Católica C). Nesse debate, cuja moção foi “Esta Casa defende a saída de Portugal da União Europeia”, marcou ainda presença a equipa do Porto de Tiago Meireles e José Pedro Sousa.

A Sociedade de Debates da Universidade do Porto (SdDUP) tem uma longa tradição de vitórias no circuito do debate competitivo português. Nas seis edições do Tornadu, a SdDUP trouxe o grande prémio para o Porto cinco vezes — 2012, 2013, 2014, 2016 e 2017.  Para além do maior prémio da competição, a SdDUP recebeu ainda este ano os prémios de Melhor Orador do Tornadu para Bruno da Costa Santos e de Melhor Adjudicador(a) para Luísa Taveira.

João Freitas, da equipa Católica B, foi consagrado como o Orador Revelação da edição deste ano do Tornadu.

O que é o Debate Competitivo Universitário?

Em Portugal segue-se o modelo parlamentar britânico, usado em todo o mundo para este tipo de competição universitária de debates, que resulta em confrontos de quatro equipas, de duas pessoas, que debatem uma moção determinada pelo painel de adjudicação, atacando ou defendendo-a consoante as posições sorteadas. A página de Facebook da competição Tornadu explica que o desafio deste modelo “é, com quinze minutos de preparação, triunfar a defender um ponto de vista, uma ideia, um modelo, que pode ou não ir de encontro com as convicções pessoais.”

As competições deste género acontecem todos os anos a nível nacional, europeu e mundial e confronta estudantes com temas e equipas variados. A competição portuguesa acredita que “é uma atividade útil, dinâmica e que proporciona não só convívio entre estudantes de todo o país, como também um treino imprescindível da oratória, visão crítica e a prática do material teórico lecionado nas aulas”.

O Tornadu, em 2017, contou com 40 equipas, dezenas de adjudicadores e uma extensa equipa de voluntários e de logística, coordenadas pela convenor (organizadora) Anna Momotova.

Artigo editado por Rita Neves Costa