Duas entradas imprudentes de Alex Telles em dois minutos. Dois golos oriundos do banco em dois minutos. Entre ganhar e não sofrer golos, o plano azul e branco saiu ao contrário. E logo em dose dupla, para que não sobrem grandes dúvidas quanto ao futuro do FC Porto na liga milionária. Os dragões tropeçaram (0-2) esta quarta-feira diante da Juventus e estão condenados a missão (quase) impossível no encontro da segunda mão, no norte de Itália.

A inferioridade numérica acentuou as diferenças entre portugueses e transalpinos. O FC Porto aguentou mais de uma hora, até sucumbir com as duas primeiras apostas de Allegri. Marko Pjaca e Dani Alves gelaram o Dragão e ditaram a primeira derrota dos dragões em casa esta temporada.

Estratégia convertida em obrigação

Nuno Espírito Santo sabia ao que vinha: deambular atrás da bola durante largos minutos e ter poucos momentos para respirar. A entrada de Rúben Neves, para fazer parelha com Danilo no meio-campo, não é inocente – quanto mais não fosse pela exibição do miúdo de 19 anos conseguida diante do Tondela. Ao poder físico juntou-se capacidade para decidir com rapidez em espaços curtos. Servir um jogo de busca pela profundidade estava na agenda. Mas, sobretudo, anular as ideias ofensivas de Khedira, Pjanic e Dybala. De resto, Brahimi e Herrera regressaram ao onze portista. Óliver foi relegado para o banco, contra todas as previsões. Otávio nem apareceu na ficha de jogo.

Nos italianos, já houve mais fidelidade à linha de três centrais fundada na era de Antonio Conte. À semelhança dos jogos anteriores, Massimiliano Allegri apresentou no Dragão um 4-2-3-1 de elevada capacidade ofensiva. A verticalidade de Cuadrado, as diagonais de Mandžukić e a criatividade de Dybala eram predicados conjugados para satisfazer o matador Higuaín.

O FC Porto até entrou com vontade em pressionar logo à saída dos italianos. Contudo, foi sol para brilhar poucos minutos. Aos 18′, Higuaín semeou o pânico na área portista, para, cinco minutos depois, Dybala experimentar a meia distância. Na primeira meia hora, o ascendente italiano apareceu de relance. A partir daqui passou a ser uma constante. Em dois minutos (25’ e 27’), Alex Telles viu duas cartolinas amarelas com justiça e foi tomar banho mais cedo. Escolheu o pior jogo possível para demonstrar tanta imprudência, já que estava sob observação de Sylvinho,adjunto de Tite na selecção brasileira. Nuno sacrificou André Silva por Layún, em virtude dos equilíbrios defensivos. Mas o bandido começava a cheirar o ouro.

Dificuldades para construir atrás. Erros forçados. Contra-ataques nem vê-los. Se ter pouca bola já seria ponto assente, mais vincado ficou com a redução do Porto a dez unidades. Os italianos foram sagazes a cercar o meio-campo adversário, remetendo os dragões aos últimos 30 metros. Não precisou de forçar muito, mesmo com os ferros da baliza à guarda de Casillas algo descobertos de tinta. Antes do descanso, Cuadrado atirou a rasar o poste. Dybala acertou mesmo com estrondo no travessão esquerdo.

Enigmas resolvidos do banco

A etapa complementar abriu com prenúncios de tragédia para o conjunto português. Dybala introduziu a bola na baliza, mas o auxiliar assinalou posição irregular. Um susto antes dos abalos fatais. A queimar a hora de jogo, o duelo ganhou novos contornos nos bancos. Nuno abdicou de Neves e foi ousado ao trazer Corona a jogo. Com Herrera fletido para o miolo, buscava a glória através de extremos puros nas faixas.

Na resposta, Allegri trocou Cuadrado por Pjaca. Bastaram cinco minutos para o internacional croata ativar o marcador (72′). O dianteiro aproveitou um corte de Layún na direção errada e disferiu um remate potente para o fundo das redes portistas. Vieram duas trocas diretas (Jota por Brahimi; Dani Alves rendeu Lichtsteiner) e novo tiro transalpino no porta-aviões azul. Aos 74′, o antigo lateral do Barcelona fez o 0-2. Foi a primeira vez que tocou na bola, respondendo ao cruzamento tirado na esquerda por Alex Sandro – de regresso à casa onde foi bicampeão português entre 2012 e 2015.

O desânimo era nota dominante no Dragão. Um golo portista poderia ter relançado a contenda, mas faltaram forças físicas e anímicas. No confronto entre as melhores defesas da Liga NOS e da Serie A, saíram por cima os campeões italianos. Nada está decidido, mas o Porto tem uma missão espinhosa para superar. Dia 14 de março continua o embate, agora na arena da Juventus. Poucos acreditarão que os dragões marquem três golos e sigam em frente na Liga dos Campeões. Mas no futebol já se sabe: o que hoje é verdade, amanhã é mentira.

“Difícil mas tudo é possível”

Nuno Espírito Santo, após o final do jogo, realçou que a expulsão de Alex Telles foi importante para o desnrolar do jogo.  “Foi determinante. Tudo se tornou mais difícil”, sublinhou o técnico. Na opinião do treinador portistas, a expulsão podia ter sido evitada pelo árbitro: “Sem querer melindrar o trabalho do árbitro, podia ter tomado outra decisão. A falta não é agressiva, não põe em causa a integridade física do jogador da Juventus, mas não invalida o erro que tivemos”, esclareceu.

Nuno Espírito Santo elogiou a sua equipa apesar da derrota: “A maneira como a equipa trabalhou é de relaçar. Era dificl contra 11. Creio que começamos muito bem o jogo, com saídas, com posses, com chegadas. Os jogadores respeitaram a estratégia. Estavamos bem defensivamente, estavamos controlados mas queriamos sair e tentar o golo. Aguentamos até aos 72 minutos”.

O técnico azul e branco acredita que a equipa pode melhorar no jogo da segunda mão e que deve aprender com os erros cometidos. “Há que projetar o próximo jogo. Vamos competir até ao fim. O erro faz parte do crescimento da equipa”.

“Bom resultado mas nada está decidido”

Foi assim que Massimiliano Allegri, técnico da Juventus, analisou o estado actual da elimintória entre FC Porto e Juventus. A vantagem de dois golos alcançada no Dragão é preciosa, mas o italiano não entra em euforias.

“Estamos a entrar numa fase decisiva da época e encarámos o jogo com ambição. Não é fácil jogar contra nós. O FC Porto apostou nas marcações e esperou pelo nosso erro. Defendeu-se bem mas podiamos ter marcado mais um golo”, analisou o treinador italiano no final do jogo da primeira mão dos “oitavos” da Liga dos Campeões.

“Conseguimos um bom resultado mas nada está decidido. Falta um jogo. Há que manter a solidariedade”, acrescentou.

Artigo editado por Filipa Silva