KIAA0319. É o nome da proteína que se verifica estar em menor quantidade do que o desejável em indivíduos disléxicos . Mas que em indivíduos com quantidade excessiva da mesma, causa uma redução do crescimento dos axónios. Uma equipa de investigadores de um centro de investigação da Universidade do Porto (mas não só) descobriu uma nova potencialidade na proteína KIAA.
Mas vamos pôr isto em pratos limpos. Os axónios são os prolongamentos dos neurónios e é através deles que se fazem as comunicações entre um e outro neurónio. O que o grupo de investigação do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde- descobriu, disse a líder do projeto, Mónica Sousa ao JPN, foi que “essa proteína quando está aumentada, diminui o crescimento do axónio” e vice-versa.
E podemos então perguntar-nos se não é um pouco contraditório que indivíduos nos quais o nível de KIAA está sub-expresso (em que o crescimento axonal é maior) tenham problemas como a dislexia. Segundo Mónica Sousa, “pensa-se que a dislexia seja uma doença do desenvolvimento embrionário, por isso, teoricamente, os axónios poderão crescer durante o desenvolvimento de forma mais rápida”. No entanto, “crescer mais não é obrigatoriamente uma coisa boa, porque pode dar origem a uma rede que não está bem formada”, disse.
Quando questionada se o aumento da proteína num adulto disléxico teria algum efeito benéfico, explica: “Talvez não. No final do desenvolvimento embrionário, as redes neuronais já estão estabelecidas. Fazer agora um tratamento num adulto, é possível que não tivesse nenhum efeito”.
i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S)
O i3S é uma instituição interdisciplinar de investigação e inovação em saúde, da Universidade do Porto.
Ao mesmo tempo, realiza pós-graduações e contribui para tentar resolver grandes desafios da sociedade ao nível das ciências da saúde.
Conta com cerca de mil colaboradores distribuídos por três áreas: cancro, resposta do sistema imunitário e problemas neurobiológicos e neurológicos.
É resultado da fusão de três centros científicos internacionais da Universidade do Porto – Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), Instituto Nacional de Engenharia Biomédica (INEB) e o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular (IPATIMUP).
Mas então, qual a importância da descoberta?
Se nos disléxicos adultos não deverá ser possível o aumento do nível da proteína como cura terapêutica, ela poderá ajudar pessoas nas quais a KIAA esteja sobre-expressa: “Nós sabemos agora que diminuindo os níveis, podemos estar a potenciar a regeneração do axónio no adulto. E isto é importante em derrames, por exemplo, nas lesões medulares, em que é preciso reativar o crescimento axonal”, disse a líder da investigação.
Para passar a descoberta para a prática é necessário “descobrir um inibidor farmacológico de KIAA”, explicou Mónica. No entanto, é algo que não vai acontecer de “hoje para amanhã” uma vez que a investigação foi feita em modelos-animais (ratos): “ É só a descoberta de uma molécula, de um mecanismo que faz com que um axónio cresça mais num adulto”, disse.
O projeto, que conta com seis investigadores da UP e quatro da Universidade de Oxford, pretende “encontrar no sistema nervoso adulto mais proteínas e mecanismos que aumentem a capacidade de crescimento axonal” e de regeneração do tecido nervoso, uma vez que se sabe que o “crescimento axonal não é regulado apenas por esta proteína”, explicou a líder do projeto.
Artigo editado por Rita Neves Costa