A sessão de abertura da 37ª edição do Fantasporto, na passado sábado, juntou curiosos e amantes do cinema sul-coreano no Teatro Rivoli. Ao cair da noite, contou ainda com um espetáculo de “Fogotrio” — três pessoas faziam acrobacias com fogo –, que tomou a Praça D. João I.

No início da sessão, Beatriz Pacheco Pereira, da organização do Fantasporto, lembrou o prestígio que o festival tem internacionalmente e o papel que detém na promoção do cinema que fica à margem do circuito comercial. “Vamos mergulhar no cinema do mundo, nas suas grandes produções, que não se encontram evidentemente no circuito comercial, vamos participar também na descoberta dos nomes de amanhã”, afirma.

Em conversa com o JPN, Pedro Farate, diretor de fotografia de “Pecado Fatal” — filme exibido na edição do Fantasporto de 2014 –, aponta o facto de os realizadores serem, de um modo geral, pouco reconhecidos por parte do público. “Há muitos realizadores que trabalham bem, mas estão fora do mainstream e mesmo realizadores que estejam em destaque não são conhecidos pelo grande público. As pessoas conhecem muito mais os atores. Quem está atrás das câmaras é reconhecido pelas pessoas que são da área e por aqueles que gostam de cinema”.

O diretor de fotografia acrescenta ainda que “as salas estão muito monopolizadas pelo cinema americano e francês”. Os filmes que fogem a este circuito “só chegam cá quando ganham um prémio do Festival de Cannes ou de um grande festival”.

O mesmo aponta Alzira Ferreira, espectadora assídua do festival, que procura no Fantasporto, a possibilidade de ver um tipo de filmes que habitualmente não encontra nas salas de cinema. “No cinema só se vê praticamente filmes comerciais e aqui temos a oportunidade de ver outro género de filmes”.

Nas sombras, o Japão e a Coreia do Sul confrontam-se

Neste primeiro dia do Fantasporto, o cinema oriental foi o que atraiu fãs e curiosos ao Teatro Rivoli. “The Age of Shadows” de Jee-Woon Kim, foi o filme oficial de abertura da 37ª edição do festival de cinema.

Candidato pela Coreia do Sul aos Óscares em 2016 para Melhor Filme Estrangeiro, o filme encheu o Grande Auditório Manuel de Oliveira, num serão de espionagem em tempo de guerra, com um toque de humor para suavizar a tensão do enredo. Um confronto de forças entre um Japão invasor e uma Coreia do Sul a lutar pela independência nos anos 20.

"The Age of Shadows"

“The Age of Shadows” Foto: Fantasporto

Beatriz Pacheco Pereira destacou que, apesar da matriz do Fantasporto continuar a ser o cinema fantástico, um dos pontos fortes do festival este ano é o cinema da realidade — que trata questões como “as preocupações com o futuro, sustentabilidade do planeta, as guerras fratricidas, a situação económica da Europa, as grandes metrópoles, a luta pela sobrevivência, a vivência muitas vezes conflituosa entre jovens e jovens adultos e a complexidade da mente humana”.

"Land of Light"

“Land of Light” Foto: Fantasporto

O enfoque para estas questões é evidenciado com o facto dos filmes principais deste dia focarem-se em conflitos armados reais.

Das sombras para a luz e do Japão para a Síria, ainda antes da sessão de abertura, o filme “Land of Light” marcou o fim de tarde. Um misto de documentário com ficção, o filme retrata a realidade de muitas crianças numa Síria assolada pela Guerra. Um filme que vai voltar à tela do Rivoli, no pequeno auditório Isabel Alves Costa, já esta quinta-feira.

Artigo editado por Rita Neves Costa